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Directora do Panteão Nacional afasta demissão após jantar associado à Web Summit

  A directora do Panteão Nacional, Isabel Melo, disse hoje, em declarações a alguns órgãos de comunicação social, que não se demite na sequência da polémica em torno da realização de um jantar com convidados da Web Summit naquele monumento.

12 de Novembro de 2017 às 21:15
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"O que aconteceu na sexta-feira foi um jantar, entre outros que se realizam aqui, no corpo central do monumento, de acordo com o regulamento que está em vigor", disse hoje a responsável, em declarações ao jornal Público, à margem do encerramento da exposição Manuel de Arriaga e a construção da imagem da República, no Panteão Nacional, em Lisboa.

 

Também ao semanário Expresso, e sem adiantar se já tinha sido ou não contactada pelo Governo, a directora garantiu: "Demitir-me? Nem pensar".

 

Depois da publicação destas notícias, a agência Lusa contactou a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), que tutela este monumento classificado, para obter uma declaração de Isabel Melo, mas tal não foi possível.

 

Ainda ao Público, a directora do Panteão Nacional afirmou que a realização do jantar foi autorizada por "quem tem que autorizar", referindo-se à DGPC, e remeteu mais informações para um comunicado, a ser emitido em breve por aquele organismo.

 

À questão sobre se considerava o Panteão Nacional um espaço apropriado para a realização de iniciativas do género, a responsável recorreu à legislação em vigor: "Não tenho essa opinião, não posso ter. Há um regulamento feito por quem de direito e nós cumprimos esse regulamento".

 

Ideia que reiterou nas declarações ao Expresso: "Eu apenas submeto o pedido. (...) Foi um entre tantos outros jantares que se realizaram no Panteão, de acordo com o regulamento em vigor".

 

Ao Público, a directora do monumento esclareceu ainda que não existem restos mortais na sala onde decorreu o evento ligado à cimeira tecnológica.

 

"Aqui não há corpos. Há sempre essa confusão. Sempre que há algum evento aqui no corpo central, as salas tumulares estão todas fechadas", explicou Isabel Melo.

 

"Aqui neste sítio não há nenhum corpo. São apenas homenagens", sublinhou ainda.

 

A polémica surgiu após a divulgação de informações nas redes sociais que deram conta da realização de um jantar exclusivo com convidados da Web Summit na nave central do Panteão Nacional, em que participaram presidentes executivos, fundadores de empresas e 'startups', investidores de alto nível, entre outras personalidades.

 

O jantar em questão chama-se 'Founders Summit' e decorreu na sexta-feira em Lisboa, no dia seguinte ao encerramento da cimeira tecnológica.

 

O assunto teve rapidamente repercussões no meio político e desencadeou, durante o fim de semana, diversas reações, incluindo do próprio fundador da Web Summit, o irlandês Paddy Cosgrave, que pediu desculpas "por qualquer ofensa causada", garantindo num breve depoimento escrito que o evento, "conduzido com respeito", respeitou as regras do local.

 

O Governo, através do gabinete do primeiro-ministro, classificou, no sábado, a utilização do espaço do Panteão Nacional para a realização do referido jantar como "absolutamente indigna", referindo que tal utilização estava enquadrada legalmente através de um despacho proferido pelo anterior executivo PSD/CDS-PP.

 

Também anunciou na mesma altura que iria proceder à alteração da lei "para que situações semelhantes não voltem a repetir-se, violando a história, a memória colectiva e os símbolos nacionais".

 

Opção que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou ser "muito sensata".

 

"De facto, a imagem que eu tenho do Panteão Nacional não é de ser um local adequado para um jantar, nem que seja o jantar mais importante de Estado", disse, no sábado, o chefe de Estado, quando questionado pelos jornalistas sobre esta questão.

 

"Portanto, se o Governo tomou uma decisão no sentido de isso deixar de ser possível, acho que foi uma decisão muito sensata, muito óbvia, corresponde àquilo que qualquer pessoa com algum bom senso faria nesse caso concreto", afirmou ainda.

 

Os vários partidos com assento parlamentar também reagiram à polémica.

 

Em declarações à Lusa, o vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Social-Democrata (PSD) Sérgio Azevedo disse que a justificação dada pelo Governo era um "equívoco" e desafiou o primeiro-ministro, António Costa, a assumir responsabilidades e a tomar as diligências necessárias, nomeadamente a demissão de quem autorizou o jantar naquele monumento.

 

Pela voz do deputado Adolfo Mesquita Nunes, o CDS-PP também reforçou as críticas e disse, em declarações à Lusa, que a adjectivação usada pelo primeiro-ministro -- que classificou de indigno o referido jantar - era extensível ao Governo socialista e à respectiva administração pública que autorizou a utilização do monumento.

 

Também à Lusa, José Manuel Pureza, deputado do Bloco de Esquerda, defendeu o apuramento de "todas as responsabilidades" sobre a utilização do Panteão Nacional para jantares, e considerou essencial mudar de filosofia orçamental para que não haja mercantilização de espaços como o referido monumento.

 

Do lado do Partido Comunista, e também em declarações à Lusa, o deputado António Filipe considerou "lamentável e infeliz" o jantar da Web Summit no Panteão Nacional, uma iniciativa incompatível com a dignidade do monumento, defendendo ainda que os regulamentos aplicáveis devem ser alterados.

 

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