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Austeridade e refugiados na "agenda grega" de Costa
Acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Administração Interna, o primeiro-ministro vai falar com Alexis Tsipras e visitar um campo de refugiados.
O primeiro-ministro português está esta segunda-feira, 11 de Abril, numa visita oficial à Grécia, em que as alternativas de esquerda à austeridade e as soluções europeias para a crise migratória serão os pratos fortes da agenda.
Esta viagem de apenas um dia arranca com um "encontro de cortesia" entre António Costa e o presidente da República Helénica, Prokopis Pavlopoulos, e terminará com um jantar oferecido pelo governante português ao homólogo grego na residência do embaixador de Portugal em Atenas. A comitiva nacional integra também os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
É a convite do Governo grego que António Costa se desloca à Grécia, um país que, pela situação política de confronto adoptada pelo Syriza com as instituições europeias na negociação dos planos de austeridade, acompanhou de perto o percurso político e eleitoral do secretário-geral socialista durante todo o ano passado.
Segundo a agência Lusa, o convite foi realizado durante um encontro promovido há três semanas pelo presidente francês, François Hollande, com os chefes de Governo e líderes do Partido Socialista Europeu. Tsipras esteve presente como observador nessa reunião, em que foi debatida a grave crise migratória mas também a coordenação de políticas económicas e orçamentais na Europa.
E serão esses os pontos de discussão que estarão na agenda desta visita bilateral. Da parte da manhã, Costa terá um encontro a sós com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, na residência oficial Maximos Mansion, a que se seguirá uma conferência de imprensa conjunta e um almoço oficial. Da parte da tarde, e por sugestão das autoridades gregas, o político português vai visitar o campo de refugiados de Eleonas, localizado a escassos cinco quilómetros do centro de Atenas.
Costa aos ziguezagues com Tsipras
António Costa e Alexis Tsipras estão actualmente ao leme dos dois países mais afectados pela crise na Zona Euro ao longo dos últimos anos, mas do início ao fim de 2015 o posicionamento do PS face ao Syriza – mais próximo do Bloco de Esquerda – e ao Executivo grego foi feito de consecutivas aproximações e afastamentos.
Esse movimento pendular foi justificado pelos ventos políticos que sopravam em Lisboa e Atenas. Logo no início de um ano em que António Costa, então líder da oposição, iria enfrentar eleições legislativas no Outono, a vitória eleitoral do Syriza em Janeiro foi aproveitada por António Costa, que a viu como "mais um sinal" da mudança da orientação política que acreditava estar em curso na Europa.
Essa proximidade com um partido que defendia uma ruptura com as políticas de austeridade – e que tinha como "pivot" na Europa o então ministro das Finanças, Yanis Varoufakis – foi muito criticada pelos partidos da direita em Portugal, que formavam uma coligação de Governo. O porta-voz do PSD, Marco António Costa, acusou mesmo o PS de assumir "uma atitude de porta-voz dos interesses do Syriza em Portugal, em vez de ser porta-voz dos interesses nacionais, no plano europeu e no plano nacional".
No início de Julho, numa altura em que a situação grega era de impasse e incerteza face ao braço-de-ferro com os credores internacionais, Costa moderava o seu entusiasmo, longe de imaginar que iria liderar um Executivo apoiado pelo Bloco de Esquerda, PCP e Verdes no Parlamento. Nessa altura, os acontecimentos na Grécia eram "a dramática ilustração do que seria a situação em Portugal" sem o PS e se o país estivesse condenado "a ter de escolher a continuidade da austeridade que a direita defende ou a ruptura com o euro que a esquerda radical defende".
Já após a vitória do "não" no referendo e de nova vitória eleitoral de Tsipras nas urnas, António Costa faria uma nova aproximação à Grécia. Em meados de Setembro, em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas portuguesas, o secretário-geral socialista considerava que os gregos "recusaram manifestamente regressar ao Governo de direita" e esperava que esse resultado pudesse "[contribuir] para virar a página da crise na Zona Euro".