Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

António Costa: A crise não acaba só porque os juros estão baixos

O líder do PS defendeu que a crise não está ultrapassada, e que não é pelo facto de os juros estarem baixos que Portugal deixou de estar em situação difícil. As estratégias de empobrecimento e desvalorização salarial foram erradas, afirmou ainda.

Sara Matos/Negócios
24 de Fevereiro de 2015 às 14:28
  • 88
  • ...

António Costa encerrou a parte da manhã da Lisbon Summit, uma conferência que a The Economist organiza esta terça-feira, 24 de Fevereiro, em Cascais, a tentar desconstruir mitos. "É verdade que os insuportáveis juros da dívida que nos conduziram ao resgate baixaram e baixaram significativamente", reconheceu. Porém, isso é resultado de "excesso de liquidez no mercado global" e do facto de o BCE "dar hoje garantias que não deu" quando "a crise das dívidas surgiu".

 

Portanto, "não interpretemos (…) mal a boa notícia da descida das taxas de juro". "Hoje devemos mais do que devíamos no início do ajustamento" e "só este ano temos para pagar de juros tanto quanto a receita total obtida com privatizações", mesmo já tendo sido "em muito ultrapassado o programa inicial de privatizações", notou António Costa.

 

"Há que evitar que a verdade nos minta e nos distraia do que falta fazer. Tal como a crise não surgiu em 2010 com a subida dos juros da dívida, também não terminou agora com a sua descida", avisou. Costa começou o seu discurso a avisar que "a crise não está ultrapassada, não tem natureza conjuntural e não é exclusivamente nacional".

 

Costa voltou a frisar que as "ideias de ‘austeridade expansionista e da desvalorização interna destruíram mais do que transformaram". E "pelo desinvestimento e desconfiança que geraram, atrasaram a modernização do perfil de especialização da economia". Por isso, quem acreditou que "mais valia atalhar caminho voltando a competir com base nos baixos salários enganou-se e fez o país perder um tempo precioso".

 

O que é preciso, defende Costa, é ter "gestão e mão-de-obra qualificadas, investimento em novas tecnologias, produtos e serviços diferenciados e de elevado valor acrescentado". Para isso será necessário apostar na "educação, formação, investigação e desenvolvimento e inovação". "Não é por acaso que os primeiros sectores a conseguir vencer a crise são, precisamente, os sectores mais tradicionais", como o têxtil, calçado e agro-alimentar, porque foram atingidos mais cedo e "cedo tiveram de mudar de paradigma".

 

É preciso nova agenda interna e novo posicionamento na Europa

 

O também presidente da câmara de Lisboa sublinhou depois as ideias que já tem defendido noutras aparições públicas: é preciso uma nova agenda interna, que assente na "recuperação dos rendimentos", no "combate à pobreza" e na "progressão sustentada do salário mínimo e desbloqueamento da contratação colectiva". É também "decisivo" que a "política fiscal e outras políticas públicas" permitam "um aumento do rendimento disponível das famílias sem aumento dos custos de trabalho para as empresas", sendo que estas últimas também deverão ser capitalizadas.

 

A nível europeu, é necessário "combater a política deflacionária que a Europa tem seguido". Há três questões que Costa identifica como essenciais: em primeiro lugar, a correcção de forma estrutural "os impactos assimétricos do euro", repondo "condições para a convergência e coesão". Em segundo, é necessário definir um equilíbrio entre os recursos que são canalizados para pagar a dívida, para cumprir as obrigações constitucionais e para fazer investimentos estruturantes.

 

A terminar, Costa diz ser necessário ajustar a "trajectória de consolidação ao ciclo económico e ao esforço de concretização" dos investimentos estruturantes para aumentar a competitividade da economia.

Ver comentários
Saber mais António Costa Lisbon Summit The Economist BCE Lisboa Europa
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio