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António Costa alerta Europa para o protecionismo e defende investimento chinês
António Costa defende, em entrevista ao Financial Times, que a Europa de ter apostar mais na sua indústria, mas não deve fechar as suas portas ao investimento que vem de países como a China. E salienta que a experiência de Portugal "tem sido muito positiva".
Numa altura em que os defensores do protecionismo têm aumentado o tom, António Costa deu uma entrevista ao Financial Times (de acessi restrito) onde defende que não se devem fechar as portas a investidores como os chineses, que têm "mostrado um respeito pleno" pelas leis e regras de mercado portugueses. E, nesta entrevista, deixa ainda recados à França e Alemanha: criar gigantes para fomentar a competitividade da Europa provenientes das maiores economias será um erro para a região.
António Costa considera que a Europa não deve responder a Donald Trump com medidas igualmente protecionistas. "Uma coisa é fazer um controlo para proteger os setores estratégicos, outra coisa é abrir a porta ao protecionismo", defende, acrescentando que se deve fazer um escrutínio mais fino nos investimento estrangeiros que são feitos em áreas como a segurança e a defesa. Mas isso não deve ser usado como um pretexto para se discriminar os investimentos que vêm fora da União Europeia.
"A nossa experiência com o investimento chinês tem sido muito positiva", afirmou o primeiro-ministro português. "Os chineses têm mostrado um respeito pleno pela nossa rede legal e pelas regras do mercado", salientou.
"Em vez de fechar as fronteiras à inovação que vem de fora", a Europa precisa de investir mais em educação e investigação e aumentar a cooperação entre estado-membro, sublinhou.
O Financial Times realça que Portugal é um dos países europeus que mais investimento chinês atraiu, recordando que empresas chinesas têm participações no capital de empresas como a EDP (que inclusivamente está sob uma OPA), a REN, o BCP, a Fidelidade e a Luz Saúde.
A entrevista de António Costa ao FT surge numa altura em que a pressão de países como França e Alemanha para que os investimentos chineses na Europa tenham um maior escrutínio e depois de estes dois países terem acordado com um plano para a indústria que passa por ajudar a que ocorram fusões entre empresas para se criarem "gigantes" europeus.
O primeiro-ministro português alerta para o risco de se implementarem políticas que apenas aumentem a competitividade das grandes economias, e se este for o caminho acabar-se-á por provar "um grande erro para a Europa".
"A Europa precisa de uma política industrial, mas não uma que queira criar campeões dos países mais desenvolvidos", afirmou. Em vez disso, defende, a Europa precisa de "uma política industrial feita à medida de cada país."
António Costa foi ainda abordado sobre a Huawei, numa altura em que a empresa tem estado sob os holofotes, com os EUA a apelarem a que os países fechassem as portas à empresa, que está a implementar a rede de telecomunicações de quinta geração (5G), alegando riscos de segurança e possível espionagem. Entretanto já houve dois pareceres relevantes. A Alemanha diz não ser possível rejeitar Huawei legalmente e o Reino Unido concluiu que existem formas de contornar os riscos associados ao desenvolvimento da rede.
O primeiro-ministro admite que partilha de muitas das preocupações que outros países já expuseram, mas assume uma postura de calma. "Estamos a ouvir, claro. Mas é muito importante não parar com a modernização da infraestrutura digital da Europa", salientou.