O secretário-geral do PS prometeu oposição a uma estratégia europeia de concentração, visando criar multinacionais "gigantes à escala global" e limitar o mercado interno, e manifestou-se contra o protecionismo face a tecnologias de países terceiros.
Esta linha de orientação foi transmitida por António Costa no discurso de abertura da reunião da Comissão Nacional do PS, que hoje vai discutir e votar o manifesto dos socialistas para as eleições europeias de 26 de maio próximo.
"Não podemos aceitar quando alguns grandes Estados-membros dizem que é essencial criar grandes campeões à escala global, concentrando empresas europeias, sacrificando a concorrência no conjunto do mercado interno e sacrificando o potencial de desenvolvimento das empresas dos países que necessitam de fazer um maior esforço potencial de desenvolvimento", frisou o líder socialista.
Recentemente, a Comissão Europeia chumbou a fusão entre a Siemens e a Alstom na parte ferroviária, chumbo que foi contestado pela França e Alemanha, tendo o eixo franco-alemã admitido uma mudança radical nas regras europeias para a concorrência empresarial. O ministro da Economia alemã, Peter Altmaier, defende mesmo que são necessários "campeões [empresariais] na Europa com capacidade para competir ao nível global".
Numa intervenção que foi aberta à comunicação social, ao contrário do que é habitual em reuniões da Comissão Nacional do PS, António Costa respondeu também à tese de alguns dos Estados-membros mais ricos da União Europeia, em que se defende que a prioridade passa por criar emprego "nas economias mais dinâmicas, assegurando-se, em compensação, a liberdade de circulação para quem não encontra trabalho nos países menos dinâmicos".
"O que nós dizemos é que deve haver liberdade de circulação, mas também tem de existir oportunidade de emprego em todos os Estados-membros e não apenas nos mais dinâmicos", contrapôs o secretário-geral do PS, num discurso em que também se insurgiu contra a "concorrência desleal" no plano fiscal entre Estados-membros da União Europeia e contra o protecionismo europeu no plano da inovação tecnológica.
Sem se referir diretamente a qualquer caso polémico, em concreto no que respeita ao acesso a tecnologias criadas por países externos à União Europeia, como a China, António Costa deixou o seguinte recado: "Não é fechando as nossas fronteiras e fechando-nos no protecionismo, mas, pelo contrário, a solução passa pelo investimento na inovação".
"Nós não temos de nos queixar da inovação que os outros fazem. Nós temos de nos queixar da inovação que a Europa não tem feito e, por isso, tem estado a perder a corrida relativamente a outras áreas económicas. Temos de responder positivamente, investindo na inovação", sustentou.
Esta semana a Europa aprovou o regulamento para maior escrutínio dos investimentos de países terceiros que entra em vigor em abril. Já no fim de semana anterior António Costa, em entrevista ao FT, tinha defendido que a Europa devia apostar mais na sua indústria, mas não deve fechar as portas ao investimento que vem de países como a China.