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Relatos do BCE mostram preocupação com reacções "indevidas" do mercado

Os relatos da última reunião do BCE mostraram cuidados na forma como a comunicação sobre a política monetária está a ser feita. E reforçam que a abordagem ultraexpansionista é para continuar.

8º Mario Draghi, 602 notícias - O BCE continuou este ano a ter um papel determinante no rumo dos mercados, com várias decisões relevantes a mexerem nos mercados. O presidente da autoridade monetária foi citado em mais de 600 notícias do Negócios este ano.
Reuters
06 de Abril de 2017 às 13:16
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Antes da reunião de 9 de Março, o mercado preparava-se para a possibilidade de o BCE deixar cair a orientação de que poderia cortar, se necessário, as taxas de juro no futuro. E essa questão foi discutida no Conselho de Governadores. Mas o banco central optou por manter a possibilidade de taxas mais baixas para evitar uma reacção "indevida" do mercado, optando por fazer alterações mais subtis no discurso. Um dos objectivos do BCE era passar a mensagem de que a economia do euro estava bem, mas sem levar o mercado a pensar que isso se traduziria no fim dos estímulos e na subida dos juros.

"Alterações da formulação na actual situação poderiam levar a uma mudança indevida de subida das taxas de juro no mercado e a condições financeiras mais restritivas numa extensão que não é garantida pela perspectiva prevalente para a estabilidade dos preços", realçam os relatos dessa reunião, divulgados esta quinta-feira, 6 de Abril. Assim, o BCE decidiu manter a orientação futura de que as "taxas de juro directoras do BCE permaneçam nos níveis actuais ou em níveis inferiores durante um período alargado e muito para além do horizonte das compras líquidas de activos".

Mas houve debate. Tal como Draghi tinha referido após a reunião, o Conselho de Governadores notou melhorias nas perspectivas para a economia e inflação da Zona Euro. "Foram trocadas perspectivas sobre se as condições melhoraram ao ponto de permitirem uma atenuação do ‘tom suave’ incorporado na orientação futura do Conselho de Governadores", revelam os relatos. Os argumentos a favor da remoção da referência a "níveis inferiores" de juros eram de que "tanto os riscos de deflação e as expectativas do mercado associadas a mais cortes de juro desapareceram em larga medida".

A sinalização do maior optimismo para a economia

No equilíbrio da forma como comunica ao mercado as actuais expectativas, os governadores do BCE decidiram remover a referência a de que o banco central está disposto a utilizar "todos os meios necessários".

Foi defendido que "nuances na comunicação poderiam proporcionar um tom mais positivo sobre o estado da economia da Zona Euro, ao mesmo tempo que se sinalizava menos urgência em medidas de política monetária adicionais", referem os relatos. Até porque "um tom mais positivo na comunicação em relação às perspectivas económicas da Zona Euro foi visto como uma forma de dar apoio à confiança das empresas e dos consumidores".

A forma de o fazer foi remover a expressão que mostrava que o BCE iria agir em caso de urgência. "Sentiu-se que já não havia necessidade de enfatizar a disponibilidade do Conselho de Governadores em utilizar todos os instrumentos necessários dentro do seu mandato", referem os relatos. Essa alteração subtil levou o mercado a incorporar a possibilidade de uma inversão da direcção da política monetária.

Mercado exagerou na interpretação?

Após a reunião de Março, a divulgação dos relatos estava a ser aguardada com expectativa pelo mercado. Os economistas do RBC Capital Markets referiram antes da publicação que esses documentos seriam seguidos com mais atenção que o habitual já que "houve alterações subtis na linguagem do BCE em Março e a reunião provocou um debate sobre a sequência das alterações às taxas de juro e às compras de activos".

O discurso de Draghi nessa reunião e algumas declarações de responsáveis do BCE após 9 de Março levaram o mercado a incorporar que a possibilidade de uma inversão na política do banco central. Mais tarde, a Reuters publicou um artigo a citar fontes não identificadas do banco central a dizer que o mercado exagerou na interpretação das palavras de Draghi.

Draghi diz que estímulos são para manter

Antes da divulgação dos relatos, Mario Draghi fez um discurso em que tentou clarificar a mensagem passada na reunião de 9 de Março. O presidente do BCE notou melhorias na economia, sublinhando que a recuperação está a ganhar impulso. Mas que as actuais medidas de política monetária ainda são apropriadas.

"Estamos confiantes que a nossa política está a funcionar e de que a perspectiva para a economia está a melhorar gradualmente", disse Mario Draghi numa conferência na manhã desta quinta-feira. Mas acrescentou que "ainda não vimos provas suficientes para alterar de forma material a nossa avaliação para a perspectiva da inflação – que continua a ter como condição um nível muito substancial de acomodação monetária". E conclui: "Assim, não é necessária, nesta fase, uma reavaliação da abordagem actual da política monetária.

O discurso de Draghi surge um dia depois de Jens Weidmann, o presidente do Bundesbank, ter defendido que era altura do BCE tirar ligeiramente o pé do acelerador dos estímulos monetários e que as compras de activos deveriam terminar no próximo ano. Os analistas do Société Générale notam, numa nota divulgada antes dos relatos, que "impera a cacofonia no BCE" e que as "visões díspares [dos responsáveis de política monetária] sugerem que é bem possível uma abordagem menos suave".

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