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Lagarde alerta para a incerteza na retoma e garante apoio do BCE "pelo menos até março"

No final do Eurogrupo realizado em Lisboa, a presidente do Banco Central Europeu alertou que ainda existem muitos riscos no horizonte, no capítulo da recuperação económica da região. Como tal, mostrou-se empenhada em manter o PEPP, programa criado pelo banco para responder à pandemia.

Reuters
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A presidente do Banco Central Europeu (BCE) considera que, "dada a incerteza" relativa ao processo de recuperação económica e "tendo em conta as divergências" entre Estados-membros nos respetivos processos de retoma, "as políticas coordenadas de apoio continuarão a ser necessárias para assegurar que a retoma está bem ancorada". Nesse sentido, Christine Lagarde sinalizou que, por exemplo, os cidadãos desempregados ou inativos não sintam qualquer recuperação em 2022.

Ainda que o BCE discuta em junho as novas projeções, Lagarde adianta que, tal como previsto, o Programa de Compras de Emergência Pandémica (PEPP) prosseguirá "pelo menos até março", isto em declarações prestadas na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro do Eurogrupo esta manhã realizado em Lisboa porque Portugal detém a presidência rotativa do Conselho da União Europeia. 

O PEPP foi desenhado inicialmente com 750 mil milhões de euros, tendo sido reforçado por duas ocasiões, em junho e em dezembro, até ao montante atual de 1,85 biliões de euros, que pode ser usado até março de 2022, mas com os reinvestimentos da dívida a serem alargados até 2023. Os ativos passíveis de serem comprados no PEPP são todos os que já eram elegíveis no programa de compras de ativos existente anteriormente.

Assumindo a elevada incerteza e os riscos que subsistem relativamente à recuperação económica, a líder da autoridade monetária europeia, plenamente convencida de que "não voltaremos aos valores de PIB pré-2019 em 2022", afasta, por ora, "discutir questões de longo prazo", desde logo o momento em que os estímulos económicos começarão a ser retirados.

Lagarde insistiu na ideia de que "a recuperação não está ainda totalmente ancorada" e notou que, falando em particular sobre o sistema financeiro, é também preciso "ter em consideração as provisões, o crédito malparado e o aumento de insolvências (que tem sido baixo mas aumentará)" para defender que tal realidade obriga à "manutenção das medidas de apoio à retoma". Ou seja, "para mantermos esta recuperação não temos margem de hesitação".

Inflação será temporária e não gera precupação
Já sobre o risco inflacionista, e numa altura em que os mercados mostram receio quanto a um fenómeno de reflação (subida da inflação acompanhada de uma retoma económica robusta), o que se reflete, entre outros fatores, no agravamento dos juros das dívidas públicas, a dirigente gaulesa garante que a subida dos preços observada se deve sobretudo a fatores temporários, pelo que o BCE deve manter-se atento, mas sem tomar decisões precipitadas.

Até porque Lagarde acredita que os "agregados de base", isto é os "fundamentais", se mantêm inalterados, o que faz com que em termos monetários continuem longe os objetivos fixados por Frankfurt.

"Vimos recentemente um aumento nas ‘yields’ e estamos a monitorizar de perto", disse, acrescentando que, em junho, será feita nova avaliação sobre as "condições de financiamento num contexto de inflação", sendo, porém, certo que se mantém "o compromisso" do BCE em relação à Zona Euro, o qual assenta em "manter condições favoráveis de financiamento durante todo o período pandémico".

Quando essa nova avaliação for feita, Christine Lagarde garante que será dada "particular atenção à inflação", contudo "é demasiado cedo e desnecessário estar agora a tratar de questões de médio e longo prazo" porque, sustenta a líder do BCE, para já aquilo que é mais relevante passa por manter condições estáveis de financiamento para que as economias consolidem a recuperação.

No próximo ano, com a estabilização da economia pós-crise, admite como provável que os valores regressem para níveis mais baixos. 

Em abril, a taxa de inflação anual na Zona Euro subiu para 1,6%, de acordo com dados revelados esta semana pelo Eurostat, o gabinete de estatística da União Europeia. Em março, o mesmo indicador fixava-se nos 1,3%. Já na União Europeia, a taxa de inflação anual fixou-se nos 2% no mês de abril, contra a taxa de 1,7% registada em março.

A meta atual do BCE, que tem na estabilidade de preços uma das suas maiores lutas, está em ligeiramente abaixo dos 2%, mas nos últimos anos este patamar esteve sempre longe de ser atingido. Neste momento, mesmo com a recuperação da economia, o indicador fica aquém na Zona Euro. 

Também no pontapé de saída deste encontro de líderes europeus, o presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, tinha dito que a subida atual da inflação na Zona Euro será temporária e uma consequência da "abertura das cadeias de oferta", salientando a importância de se olhar para este indicador no contexto em que no mercado europeu ainda há "altos níveis de desemprego" ou "de subemprego", segundo as declarações do responsável irlandês à agência Lusa, esta manhã.

O Ecofin que decorre esta sexta-feira e sábado, também em Lisboa, será a primeira reunião presencial dos ministros das Finanças no âmbito da presidência portuguesa da UE, apostada em consagrar esta reunião como um momento de viragem no sentido do início da discussão das políticas pós-pandemia. Mas sendo este um encontro informal, não se esperam grandes decisões, antes um fórum de discussão que permita abrir portas a novos entendimentos no futuro.

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