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Grandes banqueiros avisam Draghi: cuidado com juros negativos!

Altos responsáveis de grandes bancos da Zona Euro avisam o BCE para os riscos das taxas de juro negativas. Preocupações ganham projecção no dia em que o banco central discute mais um pacote de estímulo.

REUTERS
10 de Março de 2016 às 12:23
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A indústria financeira está a aumentar a pressão sobre o BCE para que não vá longe demais nos estímulos monetários que lhe estão a prejudicar os lucros. Para além dos efeitos nos seus balanços, os banqueiros avisam que estímulos em excesso poderão gerar bolhas em alguns activos, e que as taxas de juro mais negativas que não conseguem passar aos clientes poderão afectar a estabilidade financeira na região, em particular nas economias mais frágeis. Responsáveis do BCE têm dito que estão bem cientes dos efeitos das suas medidas, e Vítor Constâncio, vice-presidente da instituição, até admitiu implementar mecanismos que os atenuem. Inevitável parecem ser novos estímulos na reunião desta quinta-feira, dia 10 de Março.

O Financial Times deu voz ao descontentamento dos banqueiros na manhã da reunião dos governadores em Frankfurt. Andreas Treichl, líder do austríaco Erste Bank, diz ao jornal que mais estímulos poderão incentivar bolhas em alguns activos, prejudicar o crescimento económico e penalizar em excesso os aforradores. José García Cantera, o responsável financeiro do Santander, considera por seu lado que serão penalizados os bancos em situação mais frágil.

"Atingiram o limite" após anos de medidas de estímulo que não conseguiram puxar pela inflação, diz ao jornal Andreas Treichl, que considera que na Zona Euro o mercado de capitais é ainda incipiente e os aforradores são avessos ao risco, pelo que "baixar taxas de juro não fará muito pelo crescimento económico". "Os bancos mais afectados serão os que têm uma percentagem maior das suas receitas nos juros em vez de comissões, assim como elevados rácios de custo/rendibilidade e os que têm activos de pior qualidade", diz por seu lado José García Cantera. Ou seja, os mais frágeis serão os mais prejudicados.

O FT recorda ainda que há uma semana Sergio Ermotti, o líder da UBS, avisou que os bancos estão a conceder crédito mais arriscado, à procura de rendibilidades e de um fim para o dinheiro que não querem ter depositado em Frankfurt. O jornal britânico escreve que os avisos dos banqueiros antecedem um estudo que está a ser preparado pela Federação Europeia de Bancos que detalhará os efeitos dos estímulos do BCE nos seus membros. No domingo o Banco de Pagamentos Internacionais também alinhou com os avisos dos riscos que estão em cima da mesa.

Estímulos certos


Nos mercados espera-se um aumento do volume de compras mensais de 60 para pelo menos 70 mil milhões de euros por mês. E uma redução da taxa de juro de depósitos de -0,3% para -0,4% a -0,5%.

Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do FMI, deu já hoje como certo mais estímulos, e é efectivamente grande a possibilidade de Mario Draghi anunciar novas medidas. Em Janeiro, na última reunião para decisões de política monetária, o presidente do BCE sinalizou que o poderia fazer em Março, e os sinais económicos desde então desapontaram. A inflação regressou a terreno negativo (-0,2% em Fevereiro), e o abrandamento económico global já fez até disparar os alarmes do FMI que, esta semana, pediu mais estímulos às economias avançadas.

Na reunião de hoje Jens Weidmann, o presidente do Bundesbank, e um dos críticos das medidas de estímulo do BCE, em particular as compras de dívida, não terá poder de voto, o que decorre do sistema de rotação implementado no ano passado. 
 
Novas previsões até 2018

O BCE apresentará hoje novas projecções do seu "staff" para inflação e crescimento, sendo provável uma revisão em baixa face às previsões de Dezembro quando anunciou um reforço do programa de estímulos que decepcionou os mercados. Será também a primeira vez que o banco central avançará com estimativas para 2018, um indicador importante de como antecipa a evolução da economia a caminhar para o médio prazo. A missão do BCE é manter a inflação abaixo, mas próximo dos 2% no médio prazo.

Em Dezembro, quando cortou a taxa de juro de depósitos de -0,2% para -0,3%, e anunciou o prolongamento do programa de compra de títulos até Março de 2017 (face ao limite inicial de Setembro de 2016), o BCE projectou um crescimento da economia da Zona Euro de 1,7% em 2016 e 1,9% em 2017, em linha com as projecções anteriores; ao mesmo tempo antecipou uma taxa de inflação de 1% em 2016 e de 1,6% em 2017, o que reviu em baixa os anteriores 1,1% e 1,7%.

Em Janeiro, Mario Draghi sublinhou a importância das medidas tomadas no final de 2015 – mais 360 mil milhões de euros de estímulo monetário decorrentes da extensão do prazo de compras de Setembro de 2016 para Março de 2017 (que soma aos 1,1 biliões iniciais); e outros 320 mil milhões de euros com a decisão de reinvestir os juros obtidos com os títulos adquiridos – mas admitiu mais medidas já na reunião de Março. Desde então as equipas do BCE têm estado a estudar os vários instrumentos disponíveis.

O que pode o BCE fazer
Aumentar e prolongar programa de compras de activos.
O BCE está neste momento a comprar cerca de 60 mil milhões de euros de activos por mês. Em Dezembro estendeu o prazo para a conclusão do seu programa de Setembro deste ano para Março de 2017. Agora poderá aumentar o volume de compras para 70 a 80 mil milhões de euros. Um dos desafios que se colocam ao programa decorre das compras serem feitas de acordo com a chave de capital dos vários Estados-membros no banco central, o que poderá ditar dificuldade em encontrar títulos no mercado para todos os países.  

Cortar a taxa de juro de depósitos actualmente em -0,3%Grande parte dos analistas pensa que o BCE irá cortar a taxa de juro central de -0,3% para -0,4% ou -0.5% na reunião de quinta-feira, dia 10 de Março. O objectivo do banco central é incentivar os bancos a emprestar dinheiro à economia em vez de o depositar em Frankfurt. Quando em Dezembro o BCE baixou a taxa central de -0,2% para -0,3% decepcionou os analistas. Mas desde então tem aumentado a oposição a este tipo de medida, especialmente por parte dos bancos, tem aumentado.Implementar um sistema escalonado de taxa de juro negativasA hipótese de mitigar o efeito das taxas de juro negativas sobre a rendibilidade dos bancos  foi admitida por Vítor Constâncio. O Banco de Japão que se estreou no mundo das taxa de juro negativas em Janeiro, aplica-a apenas às reservas adicionais face ao nível de final de Janeiro. Seria uma forma de proteger os bancos, mas também de limitar a eficácia da medida. A ideia de baixar as taxas de juro da dívida pública com a compra de activos e de cortar as taxas de juros para zero é forçar os investidores e bancos a tomarem mais riscos.



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