Notícia
O que poderá o BCE anunciar? Cinco bancos respondem
Mario Draghi admitiu após a última reunião que poderá anunciar mais estímulos. Os analistas fazem contas à vida e dizem que um corte na taxa de depósitos e mais compras são bem possíveis.
Um ano depois de o Banco Central Europeu (BCE) arrancar com as compras de activos, tudo indica que Mario Draghi deverá voltar a anunciar novas medidas de estímulo à economia. Um novo corte na taxa de depósitos – actualmente em -0,3% - está em cima da mesa, mas contra esta medida joga o facto de ser uma nova exploração em "território desconhecido". Um dos receios é que, ao reduzir as margens dos bancos, esteja a fazer com que estes passem esse custo aos consumidores, reduzindo o efeito positivo da medida.
Revisto deverá ser também o programa de compra de activos. Actualmente em 60 mil milhões de euros por mês até Março de 2017, a expectativa é que veja a ser expandida a dimensão e a duração das injecções de liquidez. Mas há receios de que o BCE venha a encontrar uma escassez de activos, pelo que o leque de títulos elegíveis poderá ser aumentado. São várias as perspectivas, por isso fique a conhecer as de cinco bancos de investimento.
Berenberg - Holger Schmieding, economista-chefe
Compras de activos: Aumento do montante para 70 mil milhões ou 75 mil milhões de euros.
Taxas de juro: Corte de 10 pontos base na taxa de depósitos para -0,4%, bem como introdução de escalões dependentes das reservas dos bancos.
"O regresso dos mercados a um ambiente mais calmo reduziu a necessidade de o BCE apresentar algo drástico na sua reunião de quinta-feira, para conter o pânico. A probabilidade de o BCE inovar, ao estender as compras de activos à dívida de empresas, incluindo a dívida sénior de bancos, sempre foi baixa. Provavelmente ficou ainda mais reduzida."
BNP Paribas – Kenneth Wattret, economista-chefe para a Zona Euro
Compras de activos: Aumento do montante para 70 mil milhões de euros, bem como extensão do programa até Setembro de 2017. Possível inclusão de mais categorias de activos.
Taxas de juro: Corte de 20 pontos base na taxa de depósitos para -0,5%, com possível introdução de escalões dependentes das reservas dos bancos.
Financiamento: Reintrodução dos empréstimos de longo prazo à banca (LTRO).
"Prevemos que o BCE irá responder de forma convincente à deterioração no clima económico e às restrições nas condições financeiras e monetárias. Com as expectativas mais bem geridas até agora, o risco de se repetir a desilusão de Dezembro diminuiu."
Commerzbank - Michael Schubert, economista
Compras de activos: Aumento do montante para 80 mil milhões de euros, apenas durante seis meses.
Taxas de juro: Corte de 20 pontos base na taxa de depósitos para -0,5%, com possível introdução de escalões dependentes das reservas dos bancos.
"Outra preocupação do BCE é o euro forte, cuja desvalorização foi um dos poucos canais de transmissão através dos quais a política monetária expansionista produziu efeitos relativamente confiáveis. Apesar de o euro ter estado numa espiral descendente desde meados de Fevereiro, depois de ter disparado significativamente, isto deve-se, acima de tudo, ao facto de as expectativas do mercado em relação a mais estímulos estarem a aumentar."
Goldman Sachs - Dirk Schumache, economista
Compras de activos: Aumento do montante para 70 mil milhões de euros.
Taxas de juro: Corte de 10 pontos base na taxa de depósitos para -0,4%. Introdução de escalões dependentes das reservas dos bancos, apesar de apenas entrarem em prática mais tarde.
"Um maior corte da taxa [de depósitos], acreditamos, teria a resistência de vários membros do Conselho do BCE, que receiam o impacto negativo que isto poderá ter no sector bancário. A introdução de um sistema de escalões para o excesso de reservas dos bancos apenas resolveria parte destas preocupações. Apesar de este sistema proteger os bancos das taxas negativas no excesso de reservas, pelo menos em certa medida, não protegeria os bancos da cada vez maior diferença nos juros que pagam nos depósitos de retalho e nos juros que podem exigir aos seus clientes."
Morgan Stanley - Elga Bartsch, economist-chefe para a Europa
Compras de activos: Aumento do montante para 80 mil milhões de euros, com possível inclusão da dívida de empresas no programa.
Taxas de juro: Corte de 10 pontos base na taxa de depósitos para -0,4%.
"Não faria muito sentido o BCE anunciar uma redução maior e menos eficaz da taxa de depósitos. O stress criado pela taxa de depósitos negativa em segmentos do sector bancário poderá levar o BCE a abrir uma excepção para os bancos de retalho mais pequenos. Até agora, a transmissão dos cortes na taxa de depósitos para o sector privado tem sido limitada. Em vez disso, as taxas de crédito continuaram a recuar, especialmente na periferia."