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Fed não arrisca. Juros ficam entre 0,25% e 0,50%
Pela quarta reunião consecutiva, a instituição monetária dos EUA optou por não subir os juros. Estes mantêm-se, assim, perto de mínimos históricos, numa altura de instabilidade nos mercados.
"O Comité decidiu manter o intervalo para a taxa de juro de referência entre 0,25% e 0,50%", revelou a Fed, num comunicado emitido esta quarta-feira. A instituição liderada por Janet Yellen argumenta que "a orientação da política monetária mantém-se acomodatícia, impulsionando, assim, mais melhorias nas condições do mercado laboral e o regresso da inflação para 2%".
Estes dois factores completam o duplo mandato da Fed: pleno emprego e inflação de 2%. Contudo, em Abril, os preços mantiveram-se longe do objectivo, crescendo apenas 1,1% face ao ano anterior, "em parte reflectindo anteriores quedas nos preços das energias e nos preços das importações não energéticas". Significativamente melhor está o mercado laboral.
A taxa de desemprego caiu em Maio de 5% para 4,7%. Mas a instituição monetária explica que "o ritmo de melhoria do mercado laboral abrandou". "Apesar de a taxa de desemprego ter recuado, os ganhos de empregos diminuíram", diz a Fed no comunicado. Por outro lado, "o crescimento na actividade económica parece ter recuperado", com o maior consumo das famílias.
Apesar de o comunicado não mencionar o Brexit nem por uma vez, Janet Yellen foi confrontada com esta questão na conferência de imprensa que está ainda a decorrer. "A decisão do Reino Unido foi algo que discutimos e foi um dos factores na nossa decisão de hoje", disse a presidente da Fed aos jornalistas. A responsável pela política monetária norte-americana acrescentou ainda que, caso o "Leave" vença o referendo, poderá ter impacto nas condições financeiras, bem como nos mercados e na economia mundiais.
De facto, vários especialistas apontavam, em antecipação a esta reunião, que o referendo ao Brexit seria um dos temas centrais nesta reunião. Havia mesmo quem argumentasse que este factor travava por completo qualquer possibilidade de subida dos juros. E não é para menos. O momento é de instabilidade nos mercados, com os investidores a reflectirem os crescentes receios de que os britânicos possam abandonar a União Europeia, devido às últimas sondagens que dão a vitória ao "Leave".
Deterioração das previsões
Se a evolução recente da economia norte-americana não merece festejos na Fed, o futuro aconselha cautela. "O Comité prevê que as condições económicas evoluam de modo a que sejam apenas aconselhadas subidas graduais na taxa de juro de referência", aponta o comunicado. De facto, vários responsáveis presentes na reunião reviram em baixa as suas as previsões para as subidas dos juros. É que apenas um membro do banco central antecipava apenas uma subida em 2016, sendo que agora seis apontam nesse sentido.
Ainda assim, nove responsáveis continuam a acreditar que a taxa de juro de referência acaba o ano entre 0,75% e 1%. Mas outras previsões foram igualmente revistas em baixa. Em Março, a Fed apontava para um crescimento do PIB de 2,2% em 2016 e 2,1% em 2017, ao passo que agora aponta para 2,0% nos dois anos. Já a expectativa para a taxa de desemprego mantém-se em 4,7% em 2016 e 4,6% em 2017. No entando, passou de 4,5% para 4,6% em 2018.
Destaque ainda para as projecções para a inflação. Isto porque, apesar de continuar a prever que o objectivo de 2,0% será apenas atingido em 2018, a instituição monetária reviu em alta a estimativa para este ano. Em Março, os responsáveis da Fed previam que os preços crescessem 1,2% em 2016, mas agora acreditam que a inflação atingirá os 1,4%.
Janet Yellen destacou na conferência que os recentes dados económicos têm sido mistos. Por isso, explicou aos jornalistas presentes, uma abordagem cautelosa à política monetária é o mais apropriado e subidas graduais da taxa de juro de referência deverão ajudar a atingir os objectivos. Além disso, sublinhou a responsável norte-americana, a actuação cautelosa permite à Fed avaliar as melhorias da economia.
(Notícia actualizada às 20:03, com declarações de Janet Yellen)