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Fed vê maiores riscos de contração e quer ser mais paciente
A Reserva Federal norte-americana divulgou as atas da reunião de 29 e 30 de janeiro, onde dá conta dos receios em relação à evolução da economia e sublinha ver motivos para uma abordagem paciente em matéria de política monetária.
Os responsáveis da Fed apontaram, na reunião de 29 de 30 de janeiro, para "uma variedade de considerações que sustentam neste momento uma abordagem paciente à política monetária", considerando que essa é "uma medida adequada na gestão dos vários riscos e incertezas em matéria de perspetivas" para a economia do país.
"Uma abordagem paciente terá o benefício adicional de dar aos decisores uma oportunidade de avaliarem a resposta da atividade económica e da inflação às recentes medidas tomadas para normalizar a política monetária", declararam em janeiro os responsáveis do Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC, na sigla original), segundo as atas hoje divulgadas.
De acordo com o mesmo documento, alguns responsáveis da Fed expressaram os seus receios perante a elevada volatilidade nos mercados financeiros e consideram ser importante continuar a monitorizar a sua evolução. Além disso, apontaram para o aumento de alguns riscos de contração da economia.
As preocupações em torno das tensões comerciais entre os EUA e a China foram também motivo de reflexão, bem como a paralisação ("shutdown") de 35 dias dos serviços públicos federais.
Os responsáveis da Fed consideraram, assim, que fazer uma paragem na política subida dos juros é uma medida que coloca poucos riscos e traz muitos benefícios, enquanto se avaliam os efeitos da desaceleração económica mundial, bem como os efeitos que tiveram os recentes aumentos da taxa diretora dos EUA sobre a dinâmica económica do país.
"Muitos participantes disseram não ser ainda claro quais os ajustamentos à taxa dos fundos federais que poderão ser adequados mais para finais deste ano", dizem as atas. "Alguns desses intervenientes consideraram que mais subidas dos juros só deverão revelar-se necessárias se a inflação for superior às perspetivas de base", acrescenta o documento.
As atas referem ainda a intenção dos responsáveis da Fed de abrandarem ou mesmo pararem com a política de redução do seu balanço – um processo que já foi anteriormente caracterizado como estando em "piloto automático".
Ontem, a presidente da Fed de Cleveland, Loretta Mester, veio dizer que o banco central deverá conseguir levar a bom porto os seus esforços de redução do balanço da Reserva Federal (que conta com um vasto portefólio de obrigações).
O balanço da Fed "inchou" para mais de 4 biliões de dólares no seguimento da recessão de 2007-09 e a autoridade monetária começou a reduzir em finais de 2017 os títulos de dívida que tinha em mãos.
Após a divulgação das atas, as bolsas norte-americanas, que seguiam em ligeira alta, inverteram para terreno negativo.
Recorde-se que na reunião do mês passado a Reserva Federal dos Estados Unidos decidiu, sem surpresas, manter os juros diretores. Mas mudou substancialmente a linguagem do seu discurso. Não só não disse quantas vezes prevê mexer nos juros este ano, como também abriu a porta a que a próxima mexida possa ser para cima ou para baixo.
Tal como se esperava, a Fed manteve a taxa diretora compreendida entre 2,25% e 2,5% – intervalo para o qual tinha subido os juros no passado dia 19 de dezembro.
O banco central norte-americano decidiu-se assim por um status quo. Contudo, no comunicado, deixava já a indicação de que vai ser "paciente" na alteração da política monetária no futuro.
E foi aí que a Fed mudou substancialmente o seu discurso, pois costuma sinalizar o número de mexidas na taxa diretora – neste caso, o mercado esperava que mantivesse a ideia de subir os juros duas vezes este ano ou até mostrar um recuo e reduzir a estimativa para apenas um aumento ou mesmo nenhum.
Acontece que a entidade liderada por Jerome Powell deixou cair a expressão "algumas subidas adicionais" nas taxas de juro e abriu a porta a que a próxima mexida seja para cima ou para baixo. E agora, com a divulgação das atas dessa reunião, continua a não haver um "guidance" definido para os próximos movimentos do banco central.
(notícia atualizada às 19:41)