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Fed altera discurso e já nem diz se sobe ou desce juros

A Reserva Federal dos Estados Unidos decidiu, sem surpresas, manter os juros diretores no atual intervalo entre 2,25% e 2,5%. Mas mudou substancialmente a linguagem do seu discurso. Não só não disse quantas vezes prevê mexer nos juros este ano, como também abriu a porta a que a próxima mexida possa ser para cima ou para baixo.

EPA
30 de Janeiro de 2019 às 19:02
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Tal como se esperava, a Fed manteve a taxa diretora compreendida entre 2,25% e 2,5% – intervalo para o qual tinha subido os juros no passado dia 19 de dezembro. 


O banco central norte-americano decidiu-se assim por um status quo. Contudo, no comunicado, deixou a indicação de que vai ser "paciente" na alteração da política monetária no futuro.

E foi aqui que a Fed mudou substancialmente o seu discurso, pois costuma sinalizar o número de mexidas na taxa diretora – neste caso, o mercado esperava que mantivesse a ideia de subir os juros duas vezes este ano ou até mostrar um recuo e reduzir a estimativa para apenas um aumento ou mesmo nenhum.


Acontece que a entidade liderada por Jerome Powell deixou cair a expressão "algumas subidas adicionais" nas taxas de juro e abriu a porta a que a próxima mexida seja para cima ou para baixo, sublinha a imprensa norte-americana. 

Powell declarou, logo a seguir em conferência de imprensa, que a justificação para se subir os juros "de certo modo, enfraqueceu". E esta foi, segundo a CNBC, a sua confirmação mais evidente – até à data – de que o banco central está a mudar o tom no que diz respeito ao aumento das taxas de juro.

 

Com esta mudança de discurso, as bolsas norte-americanas reforçaram a tendência de subida. O Dow Jones disparou de imediato mais de 400 pontos.

O Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC, na sigla original) diz no comunicado divulgado às 19:00 de Lisboa que "será paciente enquanto determina que ajustamentos futuros à taxa dos fundos federais serão adequados" para sustentar um mercado de trabalho sólido e a inflação em torno dos 2%.


No documento, o FOMC refere ainda "os desenvolvimentos económicos e financeiros a nível mundial e a inexistência de pressões inflacionistas".


Além disso, a Reserva Federal mostrou flexibilidade na trajetória de redução do seu balanço. Foi em Outubro de 2017 – altura em que o seu balanço estava avaliado em 4,5 biliões de dólares – que o banco central começou a reduzir o ritmo do reinvestimento de activos que foram adquiridos nos antigos programas de compras. No entanto, não procedeu a qualquer alteração à retirada mensal do equivalente a 50 mil milhões de dólares em obrigações e títulos garantidos por hipotecas que constam no seu balanço.

Tal como o banco central faz sempre em janeiro, a Fed publicou também hoje um outro comunicado com as suas metas de longo prazo e estratégia política. E reitera o seu objetivo de 2% para a inflação, voltando a destacar a importânica da sua simetria - o que significa que ficará preocupada se os preços no consumidor se fixarem persistentemente acima ou abaixo daquela meta.

 

Em três anos, nove aumentos dos juros
 

Com o aumento decidido em dezembro último, a Fed elevou para nove o número de subidas dos juros desde dezembro de 2015, altura em que a instituição então liderada por Janet Yellen iniciou a via da normalização da política monetária e que tem encarecido o preço do dinheiro.

 

Essa subida do final do ano passado (a quarta em 2018) foi criticada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que tem vindo a apontar o dedo à Fed por considerar que está a aumentar os juros de forma demasiado rápida.

 

Nessa altura, a Fed reduziu a estimativa das subidas dos juros previstas para 2019, apontando para dois potenciais aumentos em vez dos três projetados anteriormente. No entanto, Wall Street reagiu em baixa, uma vez que, perante o abrandamento económico global, muitos investidores esperavam que o banco central se decidisse mesmo por uma pausa no aumento dos juros.

 

Assim, a Fed, no final do encontro dos governadores, acabou por adoptar um tom menos suave (menos ‘dovish’ – a pomba, por oposição ao falcão [‘hawkish’]) do que o esperado, o que desanimou os investidores. Embora a Reserva Federal tenha reduzido o número de aumentos projectados para 2019, justificando essa alteração com a necessidade de acompanhar a própria evolução da economia norte-americana, o mercado esperava que essa redução fosse ainda mais acentuada.

 

"Ao reduzirem o número de subidas de juros que estimam para 2019, os responsáveis pela política monetária poderão em breve fazer uma pausa na sua política de endurecimento monetário. Mas os investidores esperavam uma abordagem ainda menos agressiva [ou mais suave], para mais depois de as bolsas norte-americanas terem entrado em território de correcção devidos aos receios de abrandamento económico mundial", sublinhou então a Bloomberg.

 

Depois desta reação do mercado, Powell foi mais prudente num discurso feito em inícios deste mês, já referindo nessa altura que os responsáveis da Fed seriam pacientes em matéria de subida de juros – declarações que acalmaram grandemente os investidores.

 

As incertezas em várias frentes

 

Nas seis semanas que decorreram desde que a Fed subiu a taxa diretora, o cenário nos EUA ficou mais debilitado: a confiança dos consumidores caiu, os preços grossistas ficaram mais baixos, os mercados financeiros recuaram e as vendas de casas diminuíram.

 

Além disso, sublinha a Reuters, a China tentou impulsionar a sua economia em desaceleração, o Banco Central Europeu reconheceu um crescimento anémico na Zona Euro e o Fundo Monetário Internacional reviu em baixa as suas estimativas para o crescimento económico mundial.

 

Nesta reunião de dois dias da Fed, os responsáveis pela política monetária do país colocaram todos estes dados na balança para tentarem perceber o quanto todos estes riscos podem pôr em causa a expansão de quase uma década da economia dos EUA, refere a agência noticiosa britânica.

 

Além do mais, há poucos indicadores económicos recentes, dado o atraso na sua divulgação – mais um dos efeitos da paralisação dos serviços federais durante os 35 dias de "shutdown". No entanto, no seu comunicado de hoje, a Fed diz que apesar de não dispor de todos os dados, tem indicação de que os gastos das famílias "continuaram a aumentar de forma sólida.

(notícia actualizada pela última vez às 19:56)

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