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“Fed está em negação”: Um dilema de 4 biliões pressiona sistema bancário

O mercado de renda fixa alerta sobre a possibilidade de o banco central dos EUA poder cometer um erro grave. E não se trata apenas das taxas de juros.

Reuters
08 de Novembro de 2018 às 15:35
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Um tema mais urgente envolve investimentos feitos pela Reserva Federal na altura da crise. Desde Outubro do ano passado, a instituição tem reduzido a sua carteira de títulos do Tesouro e títulos garantidos por financiamentos imobiliários. Esta diminuição de posições tornou-se mais rápida e trouxe consequências inesperadas para os mercados "overnight", onde a procura por crédito de curto prazo está em alta.

 

Representantes da Fed, que estão reunidos em Washington para discutir política monetária, rejeitaram a ideia de que são culpados pelo que está a acontecer e citaram diversos factores técnicos. Muita gente em Wall Street discorda. Críticos alertam que, se a Fed não desacelerar ou suspender a diminuição das posições, é possível que saia demasiado dinheiro do sistema bancário, aumentando a volatilidade e prejudicando o controlo da política de definição das taxas de juros.

 

"A Fed não quer ver a realidade", afirmou Priya Misra, estratega-chefe global de juros da TD Securities. "Se a Fed continuar a permitir a redução do balanço patrimonial, vai começar a faltar reservas."

 

A Fed não detalhou quando vai parar de reduzir o balanço patrimonial. Misra calcula que será em Dezembro de 2019, mas disse que não ficaria surpreendida se terminar antes. Se a Fed mantiver o ritmo actual até o fim do próximo ano, os seus activos recuariam de 4,1 biliões de dólares detidos actualmente para aproximadamente 3,7 biliões de dólares (o auge foi de 4,5 biliões). Antes da crise, a Fed tinha 900 mil milhões de dólares.

 

Sendo assim, é curioso que, com o nível actual do balanço patrimonial, o sistema bancário americano pode enfrentar falta de dinheiro. O mecanismo que Misra e outros críticos descrevem é complicado.

 

Mas simplificando, a compra de títulos pela Fed (o chamado alívio quantitativo ou QE) injectou biliões de dólares no sistema bancário para sustentar a economia após a crise financeira. A Fed comprava títulos dos bancos e pagava na forma de crédito nas suas reservas. Agora, com a economia novamente sólida e a Fed a reverter esta medida, o dinheiro está a ser sugado. Actualmente, a Fed reduz a carteira de títulos em, no máximo, 50 mil milhões de dólares por mês.

 

O problema é que regulamentos adoptados após a crise para limitar riscos, como a Lei Dodd-Frank e Basileia III, obrigaram os bancos a usar muito menos as reservas – algo como dois biliões de dólares – para cumprir exigências mais rigorosas. Isso cria escassez de reservas, forçando os bancos – principalmente os de menor dimensão, na fase actual – a procurar financiamento de curto prazo. Desde que a Fed começou a reduzir os seus activos, as reservas diminuíram em mais de meio bilião de dólares, de acordo com o Barclays.

 

"O pano de fundo actual é dominado pelo quadro regulatório", afirmou Jonathan Cohn, estratega-chefe de negociação de juros do Credit Suisse. Pelos cálculos deste responsável, o excedente de activos líquidos de alta qualidade (o que inclui reservas) nos oito bancos americanos com dimensão sistémica global encolheu mais de 15%desde que a Fed iniciou o processo. "Os bancos estão em posição decentes agora, mas com o tempo, isto começará a pesar", acrescentou.

(Texto original: ‘Fed Is in Denial’: How a $4 Trillion Dilemma Could Get Ugly)

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