Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Trump e Biden em debate mais civilizado mas não menos duro

No segundo e último debate, Donald Trump e Joe Biden mostraram melhores versões de si mesmos mas não puseram os ataques de lado. Trump não interrompeu o democrata e até recuou no discurso sobre imigração para se mostrar mais moderado, porém foi Biden quem conseguiu falar para todos os eleitores e ser mais inclusivo.

A carregar o vídeo ...
23 de Outubro de 2020 às 10:48
  • ...

A apenas 12 dias da eleição presidencial e com perto de 50 milhões de votos por correspondência já depositados, Donald Trump e Joe Biden fizeram do segundo e último frente a frente um embate mais civilizado do que o primeiro, o que não significa que não tenha sido duro.

O atual presidente dos Estados Unidos e o candidato democrata voltaram a atacar-se mutuamente, mas ao contrário do primeiro debate de setembro, agora o botão para desligar os microfones quando o adversário falava permitiu a ambos exporem as suas posições e vincarem melhor as suas diferenças.

Trump respeitou os conselhos e não interrompeu constante e agressivamente Biden, atitude que lhe valeu diversas críticas no primeiro confronto. Ao invés, esforçou-se, apesar de ser o incumbente, por se mostrar mais presidenciável e moderado. Exemplo dessa tentativa foram as afirmações menos radicais em matéria de imigração – um dos temas a marcar este debate e que praticamente não tinha estado presente nesta campanha depois de ter sido central em 2016.

Pelo seu lado, Biden apostou num discurso inclusivo, falando para o eleitorado como um todo, democratas e republicanos, dando seguimento à estratégia através da qual tenta apresentar-se como o único candidato capaz de unir o país após quatro anos de divisionismo semeado a partir da própria Casa Branca.

Neste debate realizado em Nashville, no Tennessee, as interrupções e a troca mútua de insultos deram lugar a uma troca de argumentos, pontuada por vários ataques, que expôs duas visões diametralmente diferentes da América e do mundo. Ou seja, pode dizer que o botão "mute" funcionou.

Covid contaminou debate

A crise da covid-19, que já causou mais de 223 mil mortes nos EUA, foi, como era de esperar, o tema mais marcante. Joe Biden insistiu na gestão caótica da Casa Branca, apontando o dedo à forma irresponsável como o presidente lidou com o processo, negligenciando a gravidade da pandemia, desde logo com a desvalorização do uso de máscara.

Trump ripostou garantindo que a crise está a ser bem gerida, que a pandemia está controlada e que a vacina está a caminho e será rapidamente distribuída por todos (cenário que cientistas e especialistas garantem ser mais longínquo do que diz o presidente).

As garantias do presidente não convenceram Biden, que alertou para a chegada de um "inverno negro" devido ao agravamento da situação pandémica que considera ser responsabilidade do negacionismo da atual administração.

Trump repete estratégia de 2016

Atrás nas sondagens e por uma diferença que se mantém de forma consistente em torno dos 10 pontos percentuais há já várias semanas, o candidato republicano ensaiou uma espécie de repetição dos debates de 2016 contra a democrata Hillary Clinton, em que recorreu aos emails para atacar a então candidata presidencial.

Dizem que o mercado de ações vai disparar se eu for eleito. Se ele for eleito, o mercado acionista vai ter um choque. Donald Trump

Donald Trump voltou a usar de alegações até aqui infundadas para agora acusar o ex-vice-presidente de ter beneficiado economicamente dos negócios do filho (Hunter Biden) com a Ucrânia e a China. Biden reagiu garantindo ter sido Trump a ganhar milhões com a China e não o seu filho.

O magnata nova-iorquino também não deixou passar em branco a garantia dada por Biden de que irá promover a "transição" relativamente ao paradigma petrolífero. Trump enunciou de pronto um conjunto de estados onde a exploração de crude mantém enorme importância, com o Texas à cabeça, apelando a que esses eleitores não esqueçam a promessa democrata.

Biden ataca políticas da era Trump

Além da gestão da covid, o antigo número dois de Barack Obama centrou os ataques contra as políticas económicas, de imigração e de saúde levadas a cabo pela administração Trump.

O democrata recorreu ao recente relatório que indica que as autoridades não conseguem localizar os pais de 545 crianças separadas dos progenitores na fronteira com o México.

Eu represento todos vós, quer tenham votado em mim ou contra mim. E vou garantir que vocês serão representados. Joe Biden

Trump não conseguiu justificar-se, mas criticou Biden pela política de detenções seguida pela administração Obama, que acusou de "construir jaulas" para manter temporariamente os menores que chegavam aos EUA sem acompanhantes adultos.

O ex-vice-presidente denotou dificuldades em responder e acabou por deixar subentendidas críticas a Obama ao lembrar que agora é candidato a presidente e na altura era apenas número dois. Mas de modo geral, o Donald Trump "de rosto humano" que falou sobre política migratória na última madrugada está a léguas do candidato que há quatro anos prometia construir um muro na fronteira do México.

Joe Biden também acusou Trump de querer usar a nomeação para o Supremo Tribunal para desmantelar o Obamacare e deixar milhões de pessoas com doenças preexistentes sem acesso a cuidados de saúde.

E além de voltar a responsabilizar a atual administração por interromper o ciclo de recuperação económica iniciado com a dupla Obama-Biden, o candidato do Partido Democrata insistiu na defesa do aumento do salário mínimo, questão que Trump voltou a defender ser uma prerrogativa dos estados federados. Por outro lado, o presidente voltou a puxar dos galões na gestão económica e garantiu que se Biden for eleito Wall Street virá por aí abaixo. 

Esta terá sido a grande e última oportunidade dos dois candidatos granjearem apoios, isto numa altura em que as sondagens referem que a maioria dos eleitores já decidiu o sentido de voto para as presidenciais de 3 de novembro, isto sem contar com os mais de 45 milhões de americanos que já usaram o voto antecipado. Trump parece ter superado o desafio de não se voltar a mostrar irascível como no primeiro embate e Biden passou o teste sem as temidas "gaffes" que sempre estiveram presentes numa já longa carreira política. 

Ver comentários
Saber mais Donald Trump Joe Biden Estados Unidos Eleições Presidenciais Debate Barack Obama China
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio