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Trump e Biden em debate mais civilizado mas não menos duro
No segundo e último debate, Donald Trump e Joe Biden mostraram melhores versões de si mesmos mas não puseram os ataques de lado. Trump não interrompeu o democrata e até recuou no discurso sobre imigração para se mostrar mais moderado, porém foi Biden quem conseguiu falar para todos os eleitores e ser mais inclusivo.
A apenas 12 dias da eleição presidencial e com perto de 50 milhões de votos por correspondência já depositados, Donald Trump e Joe Biden fizeram do segundo e último frente a frente um embate mais civilizado do que o primeiro, o que não significa que não tenha sido duro.
O atual presidente dos Estados Unidos e o candidato democrata voltaram a atacar-se mutuamente, mas ao contrário do primeiro debate de setembro, agora o botão para desligar os microfones quando o adversário falava permitiu a ambos exporem as suas posições e vincarem melhor as suas diferenças.
Trump respeitou os conselhos e não interrompeu constante e agressivamente Biden, atitude que lhe valeu diversas críticas no primeiro confronto. Ao invés, esforçou-se, apesar de ser o incumbente, por se mostrar mais presidenciável e moderado. Exemplo dessa tentativa foram as afirmações menos radicais em matéria de imigração – um dos temas a marcar este debate e que praticamente não tinha estado presente nesta campanha depois de ter sido central em 2016.
Pelo seu lado, Biden apostou num discurso inclusivo, falando para o eleitorado como um todo, democratas e republicanos, dando seguimento à estratégia através da qual tenta apresentar-se como o único candidato capaz de unir o país após quatro anos de divisionismo semeado a partir da própria Casa Branca.
Neste debate realizado em Nashville, no Tennessee, as interrupções e a troca mútua de insultos deram lugar a uma troca de argumentos, pontuada por vários ataques, que expôs duas visões diametralmente diferentes da América e do mundo. Ou seja, pode dizer que o botão "mute" funcionou.
Covid contaminou debate
A crise da covid-19, que já causou mais de 223 mil mortes nos EUA, foi, como era de esperar, o tema mais marcante. Joe Biden insistiu na gestão caótica da Casa Branca, apontando o dedo à forma irresponsável como o presidente lidou com o processo, negligenciando a gravidade da pandemia, desde logo com a desvalorização do uso de máscara.
Trump ripostou garantindo que a crise está a ser bem gerida, que a pandemia está controlada e que a vacina está a caminho e será rapidamente distribuída por todos (cenário que cientistas e especialistas garantem ser mais longínquo do que diz o presidente).
As garantias do presidente não convenceram Biden, que alertou para a chegada de um "inverno negro" devido ao agravamento da situação pandémica que considera ser responsabilidade do negacionismo da atual administração.
Trump repete estratégia de 2016
Atrás nas sondagens e por uma diferença que se mantém de forma consistente em torno dos 10 pontos percentuais há já várias semanas, o candidato republicano ensaiou uma espécie de repetição dos debates de 2016 contra a democrata Hillary Clinton, em que recorreu aos emails para atacar a então candidata presidencial.
Donald Trump voltou a usar de alegações até aqui infundadas para agora acusar o ex-vice-presidente de ter beneficiado economicamente dos negócios do filho (Hunter Biden) com a Ucrânia e a China. Biden reagiu garantindo ter sido Trump a ganhar milhões com a China e não o seu filho.
O magnata nova-iorquino também não deixou passar em branco a garantia dada por Biden de que irá promover a "transição" relativamente ao paradigma petrolífero. Trump enunciou de pronto um conjunto de estados onde a exploração de crude mantém enorme importância, com o Texas à cabeça, apelando a que esses eleitores não esqueçam a promessa democrata.
Biden ataca políticas da era Trump
Além da gestão da covid, o antigo número dois de Barack Obama centrou os ataques contra as políticas económicas, de imigração e de saúde levadas a cabo pela administração Trump.
O democrata recorreu ao recente relatório que indica que as autoridades não conseguem localizar os pais de 545 crianças separadas dos progenitores na fronteira com o México.
Trump não conseguiu justificar-se, mas criticou Biden pela política de detenções seguida pela administração Obama, que acusou de "construir jaulas" para manter temporariamente os menores que chegavam aos EUA sem acompanhantes adultos.
O ex-vice-presidente denotou dificuldades em responder e acabou por deixar subentendidas críticas a Obama ao lembrar que agora é candidato a presidente e na altura era apenas número dois. Mas de modo geral, o Donald Trump "de rosto humano" que falou sobre política migratória na última madrugada está a léguas do candidato que há quatro anos prometia construir um muro na fronteira do México.
Joe Biden também acusou Trump de querer usar a nomeação para o Supremo Tribunal para desmantelar o Obamacare e deixar milhões de pessoas com doenças preexistentes sem acesso a cuidados de saúde.
E além de voltar a responsabilizar a atual administração por interromper o ciclo de recuperação económica iniciado com a dupla Obama-Biden, o candidato do Partido Democrata insistiu na defesa do aumento do salário mínimo, questão que Trump voltou a defender ser uma prerrogativa dos estados federados. Por outro lado, o presidente voltou a puxar dos galões na gestão económica e garantiu que se Biden for eleito Wall Street virá por aí abaixo.
Esta terá sido a grande e última oportunidade dos dois candidatos granjearem apoios, isto numa altura em que as sondagens referem que a maioria dos eleitores já decidiu o sentido de voto para as presidenciais de 3 de novembro, isto sem contar com os mais de 45 milhões de americanos que já usaram o voto antecipado. Trump parece ter superado o desafio de não se voltar a mostrar irascível como no primeiro embate e Biden passou o teste sem as temidas "gaffes" que sempre estiveram presentes numa já longa carreira política.