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Tropas ucranianas retiram de Debaltseve enquanto EUA e Rússia trocam acusações

As tropas leais a Kiev iniciaram a retirada de Debaltseve já depois de os separatistas pró-russos terem anunciado o controlo de grande parte da cidade. Entretanto, também os separatistas anunciaram a retirada de armamento pesado de Debaltseve. Relativa pacificação no terreno dá lugar a reforço da guerra diplomática com trocas de acusações entre Washington e Moscovo.

Gleb Garanich/Reuters
18 de Fevereiro de 2015 às 12:41
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Ao quarto dia desde a entrada em vigor do cessar-fogo acordado na semana passada em Minsk, capital da Bielorrússia, um ambiente de relativa pacificação começa esta quarta-feira a fazer-se sentir na região leste da Ucrânia, mais concretamente na cidade de Debaltseve onde os combates se haviam voltado a intensificar na terça-feira.

 

Depois de ontem os separatistas pró-russos terem assegurado deter o controlo de grande parte da cidade que é um importante ponto de ligação ferroviário entre Donetsk e Luhansk, já esta manhã o exército ucraniano iniciou a retirada de Debaltseve. Na terça-feira, o presidente russo Vladimir Putin instou o exército ucraniano a render-se depois de confirmados os avanços alcançados pelas forças separatistas.

 

Segundo a agência ucraniana Interfax, foi o próprio presidente Petro Poroshenko a confirmar a retirada "ordeira e organizada" dos militares, no que é uma tentativa de fazer corresponder as acções de Kiev aos objectivos definidos em Minsk na madrugada da passada quinta-feira. Cerca de 80% dos militares ucranianos que combatiam nesta frente de batalha, e que estariam cercados pelos bombardeamentos dos separatistas, já conseguiram retirar com segurança, informou ainda a presidência ucraniana.

 

Os combates pelo controlo de Debaltseve afiguravam-se como os principais entraves à até agora falhada tentativa de implementação no terreno do cessar-fogo definido em Minsk. Na terça-feira, após novo agudizar dos confrontos, os separatistas anunciavam ter o domínio de cerca de 90% daquela cidade. Uma informação que apesar de desmentida por Kiev, foi reiterada por Sergey Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

 

Lavrov, segundo escreve a Interfax, pediu também a Kiev para que os acontecimentos verificados em Debaltseve não colocassem em causa a implementação dos objectivos definidos pelo acordo Minsk 2, nomeadamente no que diz respeito à acordada revisão constitucional que prevê a atribuição de uma progressiva descentralização de poderes para as regiões constituídas pelas autoproclamadas repúblicas independentes de Donetsk e Luhansk.

 

O acordo Minsk 2 é omisso em relação à cidade de Debaltseve, localizada precisamente no interior da linha divisória desmilitarizada, definida como ponto crucial de separação dos dois adversários. O líder da autoproclamada república de Luhansk, Igor Plotnitsky, assegurava que o problema de Debaltseve, importante nó ferroviário entre Donetsk e Luhansk, estava agora resolvido, persistindo o problema de "a Ucrânia não querer reconhecer" os avanços dos separatistas pró-russos. 

 

Na noite e madrugada de quarta para quinta-feira da semana passada circulou, em Minsk, a teoria de que o presidente Putin forçou a implementação do cessar-fogo para as zero horas de domingo de forma a que os separatistas conseguissem sair vitoriosos das batalhas de Debaltseve, efectivando o controlo daquela importante cidade. Isso faria com que o cessar-fogo começasse já com Debaltseve dominada pelas forças pró-russas. Como tal não se verificou, os combates prolongaram-se e intensificaram-se até à retirada das tropas ucranianas hoje anunciada.

 

Retórica sobe de tom entre Washington e Moscovo

 

Quando finalmente parece poder concretizar-se o cessar-fogo decretado para a meia-noite de domingo, os Estados Unidos e a Rússia envolveram-se numa guerra de acusações. Washington acusou Moscovo de ter violado o cessar-fogo, aludindo aos acontecimentos no Donbass, mais especificamente na cidade de Debaltseve.

 

Citado pela BBC, o vice-presidente norte-americano Joe Biden avisou o Kremlin de que "os custos para a Rússia vão aumentar" se prosseguirem com a violação do acordo. Biden condenou "veementemente" os acontecimentos de Debaltseve, enquanto Poroshenko, numa conversa telefónica com a chanceler alemã Angela Merkel, disse tratar-se de uma violação dos acordos alcançados nas negociações promovidas pela governante alemã e pelo presidente francês François Hollande. Porosehnko pediu ainda uma "forte resposta" da comunidade internacional perante "as acções ameaçadoras dos rebeldes e da Rússia", cita o Guardian.

 

Num discurso proferido ontem, Putin deixava no ar uma acusação àqueles que continuavam a fornecer armas a Kiev apesar de um acordo de paz ter sido firmado na capital bielorrussa. Mesmo não concluindo a acusação, o presidente Putin pareceu especular sobre um eventual envolvimento norte-americano no fornecimento de armas à Ucrânia.

 

A administração norte-americana, na sequência dos combates de Janeiro na cidade portuária de Mariupol, admitiu esta possibilidade caso falhassem as negociações diplomáticas. Foi o temor provocado por uma hipotética escalada na crise caso tal se verificasse, que levou Merkel a promover uma reedição das conversações de Minsk que em Setembro já haviam permitido assinar um cessar-fogo que fora, desde então, sistematicamente violado.

 

Em Nova Iorque, na última madrugada, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução apresentada por Moscovo que apoia a implementação do acordo Minsk 2.

 

"Depois de esforços diplomáticos sem precedentes feitos na semana passada, a Ucrânia tem a oportunidade de transformar esta página dramática em história", proclamou o diplomata russo Vitaly Churkin aquando da apresentação do documento.

 

Também aqui houve uma escalada na retórica. A representante norte-americana junto das Nações Unidas, Samantha Power, começou por notar a curiosidade de ser Moscovo a apresentar tal resolução, para depois exigir que a Rússia "pare de armar os separatistas" e "pare de fingir que não estão a fazer aquilo que estão a fazer".

 

"A Rússia assina acordos e depois faz tudo, dentro das suas possibilidades, para os debilitar. A Rússia enaltece a soberania das nações e depois age como se as fronteiras dos seus vizinhos não existissem", prosseguiu a embaixadora Power. O embaixador Vitaly Churkin, que considerou estas afirmações de "ofensivas", insistiu que desde o início desta crise na Ucrânia, em Abril do ano passado, "a Rússia contribuiu activamente para uma solução pacífica".

 

Entretanto, a agência Reuters cita uma fonte da Casa Branca que revelou que ainda esta quarta-feira decorrerá uma conversa telefónica entre representantes da Alemanha, da França, da Rússia e da Ucrânia. Estará em discussão o "falhanço" da implementação do acordo Minsk 2. Ainda de acordo com a Reuters, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, pressionou hoje o seu homólogo Lavrov para que Moscovo interrompa o apoio aos ataques dos separatistas.

 

Canadá junta-se à UE e reforça sanções contra Moscovo

 

Primeiro foi a União Europeia (UE) a aprovar, na passada segunda-feira, o alargamento da primeira fase de sanções económicas a 19 personalidades e nove entidades, russas e ucranianas. Desta feita foi a vez de o Canadá incluir mais 37 indivíduos russos e ucranianos, e 17 entidades dos dois países, à lista de pessoas impossibilitadas de viajar para território canadiano e que verão os seus activos neste país congelados.

 

Tal como na última actualização feita por Bruxelas, também o vice-ministro da Defesa russo, Anatoly Antonov, entre outros altos oficiais russos, se encontra na nova lista. A gigante estatal petrolífera Rosneft é uma das empresas alvo das sanções.

 

(Notícia actualizada às 19h48 com mais informações)

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