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Tillerson defende que EUA e Rússia "não podem ter este tipo de relação"

O secretário de Estado americano não escondeu que é baixo o nível de confiança entre os Estados Unidos e a Rússia, e garante que "as duas principais potências nucleares não podem ter este tipo de relação". Já Lavrov crítica a política externa "ambígua e contraditória" da Administração Trump.

Reuters
12 de Abril de 2017 às 21:42
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São contraditórios os sinais vindos de Moscovo e para já dizem pouco de como serão no futuro próximo as relações entre os Estados Unidos e a Rússia. Um primeiro sinal positivo decorre do facto de o presidente russo, Vladimir Putin, se ter reunido, durante cerca de duas horas, com o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, que aterrou em Moscovo na terça-feira e que até pouco antes de se encontrar com Putin tinha apenas garantido a reunião com o seu homólogo russo, Sergey Lavrov.

 

Tillerson e Lavrov conversaram durante cerca de três horas, numa "reunião produtiva" segundo o chefe da diplomacia americana. Em conferência de imprensa no final desta primeira reunião, Tillerson assumiu que "existe um baixo nível de confiança entre os dois países" e que são necessários "progressos" para melhorar o relacionamento bilateral.

 

Até porque "as duas principais potências nucleares não podem ter este tipo de relação", sustentou Tillerson. Lavrov optou por apontar o dedo à "ambígua e contraditória" política externa seguida pela administração liderada por Donald Trump, especificando "algumas acções perturbadoras" realizadas pelos Estados Unidos na Síria. Ainda assim, Lavrov sustentou que as diferenças entre os dois países "não são inultrapassáveis".

 

Como seria de esperar, a Síria foi o tema central nestes encontros, antecedidos pelo reiterar de dúvidas de Putin relativamente à responsabilidade pela autoria dos bombardeamentos com armamento químico realizados na semana passada. Moscovo repetiu o aviso a Washington para não voltar a intervir militarmente no país, isto depois de na semana passada ter torpedeado uma base aérea do exército leal ao presidente sírio, Bashar al-Assad. "É muito importante que estas acções não voltem a acontecer no futuro", avisou Lavrov.

 

Resumidamente, Tillerson atribui a responsabilidade do ataque químico a Assad, mas Lavrov afiança que "até agora não temos nenhuma prova". Pouco depois das reuniões em Moscovo, a Rússia vetava, em Nova Iorque, a resolução do Conselho de Segurança cujo objectivo passava pelo estabelecimento de uma investigação sobre o ataque químico na localidade de Khan Cheikhun e em que se requisitava a cooperação das autoridades de Damasco. Sendo que as autoridades russas defendem que é preciso fazer uma "investigação credível" ao sucedido no norte sírio.

Seja como for Lavrov garante que foi "errado" atribuir as culpas pelo ataque químico a Assad, com o ministro russo dos Estrangeiros a adiantar que Washington e Moscovo estão de acordo quanto à necessidade de uma investigação séria sobre o que realmente aconteceu. Contudo, Tillerson repetiu uma ideia já ontem transmitida e que assenta na convicção de que o regime de Assad está a caminho do fim, cenário contrário aos interesses russos que têm no presidente sírio um importante aliado na região - é na Síria que a Rússia detém a única base naval em águas quentes (Mediterrâneo).

O outro pequeno passado dado em frente prende-se com a recuperação do acordo sobre a prevenção de incidentes aéreos  na Síria, suspenso pela Rússia em resposta ao ataque americano contra a Síria. Este acordo, estabelecido depois de em Setembro de 2015 a aviação russa ter integrado uma coligação - com o exército sírio, iraniano e do Hezbollah - para apoiar Assad, visa a troca de informações entre Washington e Moscovo para evitar incidentes no espaço aéreo sírio, já que os Estados Unidos também lideram uma coligação internacional (de que fazem parte países de maioria sunita como a Arábia Saudita) que através de meios aéreos combate grupos terroristas com presença em território sírio.   

Contrariamente ao que chegou a ser perspectivado, a relação entre Putin e Trump não estão a ser o mar de rosas que denunciavam as ligações a Moscovo de vários elementos da administração americana ou a troca de elogios feita entre os dois governantes, antes ainda da vitória presidencial do actual presidente americano. Putin disse mesmo que a confiança da Rússia relativamente aos EUA se "deteriorou" desde que Trump assumiu a liderança da Casa Branca.    


Ucrânia e Coreia do Norte também são obstáculos

Sinalizando a importância de "identificar as áreas em que as diferenças são mais significativas" por forma a perceber como "estreitar" as mesmas, Rex Tillerson não deixou de reconhecer que a situação na Ucrânia continua a ser um obstáculo nas relações entre Washington e Moscovo.

 

No entanto, Lavrov assegurou que não foi sequer abordada a possibilidade de reforço das sanções que ainda pendem sobre a Rússia, aplicadas por Washington e pela restante comunidade internacional após a anexação russa da península da Crimeia e depois reforçadas devido à interferência russa no Leste da Ucrânia.

 

Também a interferência russa nas eleições americanas foi abordada "brevemente" no encontro com Lavrov, confirmou Tillerson que assumiu como certo que Moscovo tentou efectivamente influenciar o resultado final das presidenciais de Novembro do ano passado.

 

Também a situação na Coreia do Norte foi abordada, com as duas partes a concordarem na necessidade de desnuclearização do regime norte-coreano.

 

Na antecâmara desta cimeira, o Kremlin tinha mostrado apreensão em relação às intenções dos Estados Unidos relativamente a Pyongyang, em especial depois de no passado sábado Washington ter ordenado o estacionamento de um porta-aviões na península coreana como forma de dissuadir as pretensões nucleares do país. Tillerson e Lavrov consideram que o problema da Coreia do Norte só poderá ser resolvido através de uma "solução política".

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