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Os desastres naturais têm custos cada vez mais elevados. Porquê?

Os estragos provocados pelo furacão Harvey podem bater recordes. O que está a fazer com que este tipo de eventos tenham custos cada vez mais elevados? Há quem ache, porém, que é um bom sinal.

Reuters
04 de Setembro de 2017 às 11:30
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O governador do Texas disse este fim-de-semana que os custos do furacão Harvey deverão ficar entre 150 e 180 mil milhões de dólares. O que significa que podem superiores aos dos furacões Katrina e Sandy em 2005 e 2012, respectivamente. Essa tem sido a tendência das últimas décadas: um agravamento dos custos materiais de desastres naturais. O ‘think tank’ Bruegel faz um resumo das explicações para essa evolução.

 

Um paper publicado em 2012 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) notava que os custos médios anuais dos desastres naturais aumentaram de 20 mil milhões de dólares nos anos 90 para 100 mil milhões entre 2000 e 2010. "É esperado que esta tendência ascendente continue, como resultado de uma maior concentração de pessoas em zonas mais expostas a desastres naturais e às alterações climáticas", pode ler-se no documento.

 

A NASA aponta estas mesmas causas. Segundo o Observatório da Terra, os desastres estão a provocar mais estragos, porque as populações vão construindo infra-estruturas mais caras em áreas mais susceptíveis a esse tipo de acontecimentos, seja regiões costeiras, zonas florestais com elevado risco de incêndio, encostas de montanha e perto de rios. O próprio desenvolvimento das cidades tem consequências. "Por exemplo, quando uma zona de árvores se transforma numa área residencial ou em escritórios, o terreno muda de esponjoso e capaz de absorver água para um pavimento impermeável."

 

A mesma NASA cita um estudo de 1998 que analisou o período entre os anos 20 e os anos 90 e concluiu que, mais do que alterações climáticas, eram as alterações sociais que estavam a aumentar os custos materiais dos desastres naturais. No que diz respeito a furacões "os dados mostram que a melhor explicação para o aumento do valor das perdas são mudanças na sociedade e não flutuações climatéricas".

 

Hoje, até os objectos com funções mais simples têm tecnologia incorporada, em alguns casos, bastante cara. Isso torna a reparação – ou a compra de novo equipamento – mais caro. Além disso, a maior eficiência do tempo de trabalho faz com que cada dia perdido represente encargos mais significativos.

 

O facto de mais pessoas morarem em zonas de risco é também relevante. Nos anos 90, dois dos condados mais a Sul da Florida já tinham mais habitantes do que todos os 103 condados da costa do Atlântico e do Golfo tinham nos anos 30. Porque acontece? "As pessoas gostam de estar perto da praia e de paisagens bonitas", sublinha Roger-Mark De Souza, director técnico do Programa de População, Saúde e Ambiente. "Nos EUA, temos a percepção que conseguimos adaptar-nos e que o risco não é imediato", acrescentada, citado pela NASA. "Sabemos que é um risco, mas achamos que podemos lidar com ele."

Duas histórias para o mesmo tipo de desastre

 

Em 2014, o site FiveThirtyEight escrevia que o aumento dos custos relacionados com estes desastres se explicava pelo facto de o mundo estar a ficar mais rico. Segundo Roger Pielke, professor da Universidade do Colorado, existe uma relação inversamente proporcional entre danos materiais e mortes. Isto é, os locais onde as perdas materiais são menores tendem a sofrer um maior número de perdas humanas. Entre 1940 e 2014 tinham morrido 3.322 pessoas nos EUA devido a 118 furacões. Nas Filipinas, uma só tempestade em 2013 matou o dobro dessas pessoas.

Nesta altura, enquanto o Harvey preenche os telejornais com cerca de meia centena de mortes, no Bangladesh, Nepal e Índia inundações já mataram mais de 1.200 pessoas e desalojaram 40 milhões.

As cheias na Índia e países vizinhos - Bangladesh e Nepal - têm sido devastadoras.
As cheias na Índia e países vizinhos - Bangladesh e Nepal - têm sido devastadoras. Reuters



"Os desastres naturais levam a um crescimento económico mais baixo e a uma deterioração do saldo orçamental e da balança externa. Podem também ter um impacto significativo na pobreza e nos apoios sociais. Os países em desenvolvimento, e as suas populações mais vulneráveis, estão especialmente em risco", escrevia o FMI no estudo, citado há alguns parágrafos.

 

De facto, parece haver duas histórias sobre este tipo de fenómenos. Ao mesmo tempo que as mortes por desastres naturais caem mais de 90% nas últimas oito décadas, ainda é possível que morram mais de 200 mil pessoas num tsunami como aquele que o Sudeste Asiático enfrentou em 2004.

 

"Existem boas notícias a encontrar na subida dos custos com desastres naturais. À medida que os países se tornam mais riscos tornam-se mais capazes de lidar com os desastres – o que significa que mais pessoas estão protegidas e menos perdem a vida", nota Roger Pielke. "Mais perdas relacionadas com propriedade são, afinal, um preço que vale a pena pagar."  

 

Uma lista compilada pelo mesmo FiveThirthyEight conclui que entre mais de 200 desastres naturais nos EUA nas últimas quatro décadas, os 10 maiores furacões provocaram mais de um terço dos danos totais (442 mil milhões de dólares em 1,2 biliões totais). O furacão Harvey entrará quase de certeza nesta lista. O Governador do Texas estima danos entre 150 e 180 mil milhões de dólares, enquanto o presidente do AccuWeather  os coloca acima dos 190 mil milhões. Ambos os cenários colocam-no à frente do furacão Katrina. Até agora, o Harvey já provocou 47 mortes e desalojou um milhão de pessoas.

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