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OCDE diz que a economia mundial vai crescer mais devagar
A OCDE está mais pessimista sobre a evolução da economia mundial, tendo feito uma revisão em baixa das suas projecções para este ano e o próximo. O organismo pede uma nova estratégia e medidas urgentes de estímulo.
Este maior pessimismo reflecte revisões em baixa em quase todos os grandes blocos económicos. Nas suas previsões intercalares, publicadas hoje, 18 de Fevereiro, a OCDE espera agora que os Estados Unidos cresçam apenas 2% em 2016 (-0,5 pontos face a Novembro), o Japão 0,8% (-0,2 pontos) e a Zona Euro 1,4% (-0,4 pontos).
Entre os países da moeda única, a OCDE só publica neste documento previsões para Alemanha, França e Itália. O maior destaque pela negativa vai para a Alemanha que, embora dessas três seja a economia que vai crescer mais (1,4%), é também aquela que sofre a maior revisão em baixa face a Novembro (-0,5 pontos).
Entre os emergentes, o Brasil sofre uma revisão drástica, antecipando-se agora uma recessão muito mais profunda, de -4%, quando antes as estimativas apontavam para -1,2%. Por outro lado, a OCDE mantém a mesma previsão para a China (6,5%) e apresenta uma ligeira revisão em alta de 0,1 pontos para a Índia (7,4%).
"O crescimento está a desacelerar em muitas economias emergentes, com uma recuperação muito modesta nas economias avançadas e preços baixos a deprimirem os exportadores de matérias-primas", pode ler-se no relatório da OCDE. "O comércio e o investimento continuam fracos. Uma procura débil está a provocar inflação baixa e um crescimento inadequado dos salários e do emprego."
Além disso, a instituição com sede em Paris nota que existem riscos "substanciais" de instabilidade financeira. Os investidores estão a antecipar um crescimento mais lento, o que tem levado a uma maior volatilidade dos mercados e queda dos preços dos activos.
Os fluxos comerciais cresceram apenas 2% em 2015, um ritmo que normalmente resulta num crescimento económico baixo. "Embora alguma da debilidade do crescimento do comércio possa ser explicado por desenvolvimentos do PIB [produto interno bruto], investimento baixo, descida do preço das matérias-primas, a recente fraqueza centrada na Ásia continua a não ser totalmente explicada", refere a OCDE. "A contracção das importações pela China e outras grandes economias emergentes contribuiu para uma procura mais baixa por exportações das economias avançadas, que se estima que tenha um impacto negativo de 0,5 pontos percentuais no crescimento dos países da OCDE em 2015."
Nos últimos meses, os preços das matérias-primas continuaram a sua trajectória descendente, com destaque para o petróleo, cujo preço caiu mais de um terço e atingiu o valor mais baixo desde 2003. Este enfraquecimento generalizado dos preços das matérias-primas, conjugado com uma forte quebra das importações chinesas desses produtos, sugere que uma menor procura tem sido decisiva para fazer cair os preços. Embora estas quedas estimulem o consumo nos países importadores de matérias-primas, travam o investimento e produzem instabilidade financeira nos países produtores e exportadores das mesmas.
Para 2017, a OCDE também fez uma revisão em baixa de 0,3 pontos das suas projecções de crescimento, antecipando agora que o PIB mundial avance 3,3%. Quase todos os blocos devem crescer um pouco mais rápido no próximo ano, mas há excepções. A economia japonesa deve arrefecer para os 0,6%, assim como o Reino Unido (2%), China (6,2%) e Índia (7,3%).
É necessário desenhar uma nova estratégia
A OCDE pede aos governos que aprovem medidas de estímulo à actividade económica. Até aqui, os países têm dependido da actuação dos bancos centrais, mas experiências anteriores mostram que, sozinha, a política monetária não consegue produzir um crescimento económico robusto. Daí que "uma maior utilização de alavancas orçamentais e estruturais seja necessária".
"A política orçamental é contraccionária em muitas das grandes economias. Nas economias avançadas, o ritmo da consolidação orçamental foi aliviado, mas a posição orçamental mantém-se praticamente neutra nos Estados Unidos e na zona euro, enquanto o Japão está a apertar a sua política [orçamental] de forma a reduzir o seu elevado défice e a trajectória da dívida em percentagem do PIB", reconhece a OCDE. "Atingir as metas orçamentais continuará a ser difícil, enquanto os resultados do crescimento continuarem a desapontar, daí a necessidade de uma nova estratégia."