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NATO confirma invasão russa do sudeste da Ucrânia

Mais de mil militares russos invadiram a Ucrânia, através do Mar de Azov, dando entrada no porto da cidade de Novoazovsk, afirma a NATO sustentada em imagens de satélite. Oficiais norte-americanos confirmam a informação enquanto o Kremlin continua a negar qualquer envolvimento. Washington vai enviar forças militares para a Europa de Leste e a Europa planeia novas sanções económicas contra Moscovo. Conselho de Segurança reuniu de emergência.

David Mdzinarishvili/Reuters
28 de Agosto de 2014 às 20:32
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A crise na Ucrânia aproxima-se da degeneração em conflito internacional de larga escala. De acordo com imagens de satélite divulgadas pelas NATO, mais de mil militares russos, apoiados por diverso material e equipamento bélico, invadiram o sudeste da Ucrânia a partir do porto da cidade de Novoazovsk, que se encontra sob domínio dos separatistas desde a passada madrugada. Segundo avança a CNN, oficiais norte-americanos já confirmaram a veracidade da informação avançada pela NATO.

 

O brigadeiro general desta organização, Nico Tak, garantiu que a NATO detectou "uma significativa escalada do nível de sofisticação da interferência militar russa na Ucrânia". Tak referiu que Moscovo avançou para solo ucraniano com "armamento avançado, sistemas de defesa aérea, artilharia e tanques".

 

"[A NATO detectou] uma significativa escalada do nível de sofisticação da interferência militar russa na Ucrânia"
 
Nico Tak
Brigadeiro general da NATO

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu de emergência, enquanto Moscovo continua a negar qualquer tipo de envolvimento directo ou indirecto na crise que afecta o leste da Ucrânia. Entretanto, segundo a Lusa, responsáveis do Pentágono já confirmaram que Washington ordenou a mobilização de tanques e soldados para a Europa de Leste. 

 

As forças ucranianas no terreno, citadas pela CNN, falam em "invasão de larga escala" por parte da Rússia, expressões que vão ao encontro das palavras deixadas, durante o dia, tanto pelo Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, como pelo próprio primeiro-ministro, Arseny Yatseniuk, que acusou o Kremlin de "espoletar uma guerra na Europa". Yatseniuk já pedira, esta manhã, aos Estados Unidos e à Europa para que adoptassem pesadas sanções económicas contra Moscovo por forma a bloquear totalmente a economia russa. 

 

Comunidade internacional reage com retórica

 

François Holllande, presidente francês, e Catherine Ashton, representante diplomática da União Europeia (UE), já tinham reagido ao longo da manhã. Hollande considerou a situação de "inaceitável e intolerável", enquanto Ashton, através da sua porta-voz, disse que Bruxelas estava "muito preocupada" perante os últimos desenvolvimentos".

 

[Trata-se de uma] escalação intolerável
 
Matteo Renzi
Primeiro-ministro de Itália

Entretanto foi a vez de Matteo Renzi, primeiro-ministro de Itália, e David Cameron, chefe do Executivo inglês, condenarem as últimas acções desenvolvidas no terreno e, alegadamente protagonizadas pelas forças russas. Renzi telefonou ao Presidente russo, Vladimir Putin, para dizer que se trata de uma "escalação intolerável", enquanto Cameron ameaçou Moscovo com "consequências" graves caso não recue na política de força empreendida.

 

Pelo seu lado, a chanceler alemã, Angela Merkel, limitou-se a recordar que a UE repetiu várias vezes que "no caso de escalação, naturalmente novas sanções seriam discutidas". A data ficou já marcada por Merkel para a reunião do Conselho Europeu do próximo sábado. "O Conselho Europeu irá ocupar-se, novamente, da Ucrânia", confirmou a chanceler alemã citada pelo La Repubblica".

 

A Reuters noticiou, também, que o Departamento de Estado norte-americano confirmou estar já a discutir, com os seus parceiros, a adopção de novas sanções económicas contra Moscovo. O Presidente norte-americano, Barack Obama, reagiu já durante esta noite atribuindo à Rússia a "responsabilidade pela violência no leste da Ucrânia, recordando ainda que Moscovo tem "violado repetidamente" a soberania e integridade territorial ucranianas.

 

CS discute situação e Estados Unidos acusam Moscovo de mentir

 

Poroshenko tinha pedido, esta manhã, uma reunião de urgência do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas, explicando o pedido com a importância de "o mundo precisar de avaliar o sério agravar da situação na Ucrânia". As imagens reveladas pela NATO apressaram, entretanto, o encontro dos representantes diplomáticos no CS, cujos membros se encontram agora reunidos.

 

O vice-secretário-geral das Nações Unidas para as questões internacionais, Jeffrey Feltman, abriu a discussão afirmando que a ONU "não pode ignorar" o envolvimento militar da Rússia na Ucrânia.

 

No encontro do CS, que está a ser acompanhado pela BBC, o representante russo junto da organização, Vitaly Churkin, mantém-se fiel à linha de argumentação russa. Para além de responsabilizar directamente Kiev por "conduzir uma guerra contra o seu próprio povo", voltou a garantir que a crise no leste da Ucrânia é uma questão interna, razão pela qual não poderão ser assacadas responsabilidades à Rússia. 

[A Rússia veio] para esta reunião dizer tudo, menos a verdade.
 
Samantha Power
Embaixadora norte-americana na ONU

Já a embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, sublinhou que, tal como foi sendo noticiado ao longo desta quinta-feira, "um soldado russo que decida combater na Ucrânia, no seu período de férias, não deixa de ser um soldado russo". Power acusou Moscovo de ter ensinado à comunidade internacional "a medir a Rússia pelas suas acções e não pelas suas próprias palavras".

 

Nesta escalada feita da subida de tom das palavras e acusações, Samantha Power acusou a Rússia "de vir para esta reunião para dizer tudo, menos a verdade" e tentou demonstrar ao Kremlin como se encontra isolado, entre os 15 membros do CS, pelas suas acções na Ucrânia: "Todos enviaram, de forma clara, a mesma mensagem – Rússia, pára este conflito. A Rússia não está a ouvir".   

 

Teme-se supremacia russa no acesso ao Mar de Azov

 

O controlo assumido pelos rebeldes separatistas da cidade portuária de Novoazovsk, que fica muito próxima de Mariupol, crucial cidade portuária para a Ucrânia e o seu principal ponto de acesso ao Mar de Azov, fizeram soar as sirenes em Kiev e nas principais capitais mundiais.

 

Teme-se que os separatistas e, eventualmente a Rússia, possam ganhar o controlo de Mariupol de forma semelhante ao que aconteceu com a principal cidade portuária da península da Crimeia, Sevastopol. Moscovo, que já detinha bases militares marítimas nesta cidade, passou então a deter controlo sobre o Mar Negro.

 

Com a anexação da Crimeia, e subsequente controlo sobre o estreito de Kerch, que dá acesso ao mar de Azov, se a Rússia passar a controlar Mariupol fica com um domínio praticamente total dos principais portos e pontos de acesso às águas salgadas daquela região. 

 

Tal situação tem claras implicações geopolíticas e geoestratégicas para Kiev, que veria dramaticamente reduzida a sua capacidade e presença militar nos mares Negro e Azov, sendo ainda fortemente penalizada a economia ucraniana, que deixaria de deter um dos principais portos do país. 

 

(Notícia actualizada às 21h19 e às 21h45 com mais informação)

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