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Separatistas somam avanços em dia de conversações entre Kiev e Moscovo

Quando os representantes diplomáticos da Ucrânia e da Rússia se preparam para tentar chegar a um acordo que coloque um ponto final à crise que assola o leste ucraniano, prossegue a guerra de palavras entre os dois países e os combates na região. O exército ucraniano já retirou do aeroporto de Luhansk, agora controlado pelos separatistas pró-russos.

Reuters
01 de Setembro de 2014 às 15:28
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O encontro desta segunda-feira em Minsk, capital da Bielorrússia, entre os representantes diplomáticos da Rússia e da Ucrânia está envolto num clima de elevada tensão, sem que tenham surgido sinais de pacificação dos combates no leste ucraniano nem de diminuição da escalada retórica dos Presidentes russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Petro Poroshenko.

 

Os mais recentes desenvolvimentos na região oriental da Ucrânia não parecem indiciar um bom augúrio para as conversações que têm como objectivo central a definição de um caminho para uma solução de paz que resolva uma crise que assola a região oriental ucraniana desde Abril.

 

Esta manhã, os separatistas tomaram o controlo do aeroporto de Luhansk, após retirada do exército ucraniano que se seguiu aos combates iniciados na noite do passado domingo. Moscovo tem reiterado, por diversas vezes, o seu não envonvimento directo nos combates na região leste da Ucrânia, facto que vem sendo contrariado por organizações como a NATO.

 

Mas, desta feita foi o porta-voz do exército ucraniano, Andri Lisenko, a garantir a participação russa na conquista do aeroporto de Luhansk. "Podemos afirmar que a artilharia das forças armadas da Federação Russa está a disparar contra as nossas forças", afiançou o porta-voz.

 

Também esta segunda-feira, o Presidente ucraniano acusou o Kremlin de "agressão directa e aberta" contra a Ucrânia. "[Esta participação está] a mudar a situação na zona de conflito de forma radical", considerou Poroshenko.

 

Com ou sem apoio russo, o exército ucraniano, que há cerca de três semanas garantia estar em vias de derrotar os separatistas nas regiões de Donetsk e Luhansk, tem vindo a perder, progressivamente, o controlo da situação.

 

Depois de na semana passada terem retirado da cidade portuária de Novoazovsk, as forças de Kiev estarão próximas de perder o controlo da cidade de Ilovaisk, situada na região de Donetsk. Lisenko também confirmou, já esta segunda-feira, que a situação em Ilovaisk é "excepcionalmente difícil e complicada".

 

Pouco a pouco, os últimos acontecimentos no terreno vêm demonstrando a incapacidade do exército ucraniano para travar os avanços dos separatistas. 

 

Separatistas aproximam-se do controlo da região leste

 

A estratégia das forças pró-russas que operam na parte oriental da Ucrânia é clara e parece estar a dar resultado. Depois das derrotas sofridas até há cerca de três semanas, os últimos combates têm-se contado por vitórias para os separatistas. Kiev, Estados Unidos, União Europeia e a NATO têm referido que é o contributo russo que tem tornado isto possível.

 

Os pró-russos controlam a cidade de Novoazovsk, a cerca de 50 quilómetros de Mariupol, a principal cidade portuária da Ucrânia para o Mar de Azov. O objectivo central passa por garantir um corredor de acesso a Mariupol, estabelecendo aí o domínio das forças pró-Moscovo, factor de extrema importânica geoestratégica para o Kremlin.

 

Se a Rússia vier a garantir o domínio da região em trono do Mar de Azov, designadamente a partir da cidade de Mariupol, passaria a deter o controlo praticamente total dos principais acessos e bases militares, não apenas do Mar Negro, mas também do Mar de Azov.

 

Recorde-se que a passagem para o Mar de Azov é feita a partir do estreito de Kerch, que permanece sobre dependência russa desde a anexação da península da Crimeia.

 

Somam-se entretanto os mais recentes avanços na região de Luhansk e, também, em Donetsk. A NATO mantém que o exército russo está directamente envolvido nos avanços recentemente alcançados pelos separatistas, tendo mostrado imagens de satélite que provam a participação de cerca de mil soldados russos e equipamento bélico na conquista de Novoazovsk. 

 

Moscovo quer cessar-fogo

 

A antecâmara do encontro de Minsk não parece auspiciosa. O escalar de tensão entre Kiev e Moscovo, que vem sendo consubstanciado com o crescer de tom das acusações de parte a parte, já conheceu, esta segunda-feira, novas acusações. Dificilmente a cimeira que também conta com a participação de representantes da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa poderá passar à margem destas acusações mútuas.

 

Sergei Lavrov, ministro dos Estrangeiros russo, citado pela BBC, pediu que os negociadores que estão presentes em Minsk façam de um "cessar-fogo imediato" a sua prioridade. Lavrov lamentou ainda que a Europa continue a ignorar que o exército de Kiev esteja a atacar directamente civis no leste do país.

 

A narrativa do Kremlin permanece, no essencial, inalterada desde que em Abril passado, no seguimento da anexação da Crimeia, se iniciaram os movimentos autonomistas em Donetsk e Luhansk.

 

Moscovo mantém que se trata de uma questão interna ucraniana, continua a acusar as autoridades de Kiev de prosseguirem uma intervenção militar contra o seu próprio povo, que levou a uma crise humanitária na região, e defende negociações com os separatistas no sentido de garantir maior autonomia para aquelas regiões.

 

"[Kiev tem] de abandonar as posições a partir das quais conseguem causar danos à população civil", exigiu Lavrov.

 

Do lado das autoridades ucranianas continuam a ser dadas garantias da participação russa nos combates que assolam o leste da região. Tanto o primeiro-ministro Arseny Yatseniuk, como Poroshenko, mantêm as acusações de que Moscovo invadiu, na semana passada, o sudeste do país, garantindo tratar-se de uma acção bélica contra o seu país. "Está em curso uma invasão das forças russas", acusou Poroshenko.

 

Putin defende que sejam criadas condições para a criação de um estado no sudeste da Ucrânia. Citado pelo El País, o líder pró-russo em Sevastopol, na Crimeia, Alexéi Chaly, garantiu mesmo que "uma solução de paz na Ucrânia não é possível", defendendo uma negociação dentro dos moldes utilizados na antiga Juguslávia. 

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