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Morte de clérigo xiita terá "vingança divina", promete o Irão

A morte do líder religioso xiita Nimr Baqr al Nimr está a incendiar os ânimos no Médio Oriente. O Irão, país de maioria xiita, já avisou a Arábia Saudita que a execução do clérigo terá uma “vingança divina”. al Nimr defendeu manifestações contra a família real saudita.

Raheb Homavandi/Reuters
03 de Janeiro de 2016 às 18:05
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A Arábia Saudita executou este sábado 47 pessoas acusadas de actos de terrorismo. Entre as vítimas estava um clérigo xiita, Nimr Baqr al Nimr, que era crítico da família real saudita. A sua morte está a incendiar os ânimos na região e a acentuar os sectarismos religiosos, tendo recebido a condenação de países xiitas no Médio Oriente, em particular do Irão, Iraque e da organização libanesa Hezbollah.

 

Este domingo, a embaixada da Arábia Saudita em Teerão, capital iraniana, foi atacada com cocktails molotov e o chefe supremo do Irão, o aiatola Ali Khamenei, prometeu uma resposta rápida. "O sangue deste mártir oprimido, derramado de forma injusta, vai ter consequências em breve e a vingança divina vai cair sobre os políticos sauditas", afirmou, citado pelo The Guardian. Ali Khamenei considerou que a execução de al Nimr foi um "erro político" e deixou um aviso: "Deus não vai perdoar" e "vai perseguir os políticos deste regime".

 

Riade alega que al Nimr foi executado por ter praticado actos de terrorismo, mas a sua morte às mãos do regime saudita, que o clérigo sempre criticou, está a ser interpretada como um sinal do endurecimento das posições sauditas na relação com o Irão, seu rival histórico. Isto porque a Arábia Saudita é um país de minoria xiita, e, prossegue o The Guardian, Riade estava convencida de que al Nimr procurava sublevar a comunidade xiita com o apoio de Teerão.

 

No grupo de 47 mortos estavam vários membros da al Qaeda, escreve a Reuters.

 

Al Nimr por trás dos protestos de 2011
Al Nimr, que tinha 56 anos, foi um dos principais mentores das manifestações pró-democracia que ocorreram na Arábia Saudita em 2011, no auge da Primavera Árabe. Foi preso em 2012 pelo regime saudita, ocasião em que foi baleado e ferido pela polícia, e depois acusado de instigar a desordem, bem como de desobedecer ao rei e de "encorajar, liderar e participar em manifestações".

 

Ali Khamenei defende que al Nimr "não encorajou as pessoas a juntarem-se a um movimento armado nem se envolveu eu conspirações secretas". Apenas "verbalizou críticas públicas baseadas no fervor religioso". Segundo os apoiantes de al Nimr, escreve o The Guardian, o clérigo evitava apelar à violência e só apoiava a oposição pacífica à família real saudita.

 

A Arábia Saudita rege-se por uma versão considerada ultra-conservadora e intolerante do sunismo chamada wahabbismo (ou salafismo). Em consequência, a Arábia Saudita é dos poucos países do mundo com uma polícia religiosa ("mutaween"), que assegura que a sua leitura do Islão é cumprida. O autoproclamado Estado Islâmico também tem uma polícia religiosa, chamada Hisbah.

 

A maioria da população é muçulmana sunita, e uma minoria de cerca de 15% dos sauditas são xiitas.

 

Estados Unidos preocupados com a morte de al Nimr

 

Os Estados Unidos já reagiram à execução do líder religioso. O porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby, afirmou, num comunicado citado pela Reuters, que os Estados Unidos estão "particularmente preocupados" com a possibilidade de a morte de al Nimr poder "exacerbar as tensões sectárias numa altura em que elas precisam urgentemente de ser reduzidas".

 

No sábado, 2 de Janeiro, dia em que foi conhecida a execução, houve manifestações em vários países de maioria xiita, como o Bahrain ou o Paquistão, mas também nas regiões sauditas onde se concentra a minoria xiita do país.

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