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G20: Uma cimeira com muitas conversas bilaterais e um incidente na chegada de Obama
A cimeira vai falar de crescimento económico e até poderá falar do excesso de oferta no aço. Mas será recordada por ser a última de Obama. A primeira de May. E na China, que não perdeu mais esta oportunidade para se mostrar ao mundo.
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A Cimeira do G20, que reúne as 20 maiores economias do mundo, tinha antecipadamente uma relevância significativa este ano. Não apenas porque decorria na China, o que acontece pela primeira vez, como marcaria a despedida de Barack Obama, enquanto chefe de Estado dos EUA. À China iriam, também, chegar alguns debutantes, como a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, ou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
Mas a expectativa era muito maior, pelos problemas que hoje estão na agenda dos líderes políticos, como o Brexit, ou a guerra na Síria, ou ainda o caso da Turquia, que, aliás, motivou um encontro bilateral entre Merkel e Erdogan.
Por isso, mais do que o que está na agenda do G20 o mundo olha para as reuniões bilaterais que estão a decorrer entre este domingo e segunda-feira, 4 e 5 de Setembro, no Extremo oriente. Algumas decorreram no domingo, 4 de Setembro, antes do início da Cimeira. Mas muitas outras já estão marcadas para segunda-feira. É o caso da reunião entre Putin e Obama, cuja reunião seguir-se-á à que decorrer entre os chefes da diplomacia dos dois países. A Síria é o principal ponto na agenda destes dois países. O chefe da diplomacia russa mostrou um optimismo não correspondido pelo homólogo norte-americano de que os dois países estariam perto de chegar a um acordo sobre a Síria.
Barack Obama também já fez saber que "ainda não estamos lá". A declaração do presidente norte-americano foram proferidas após um encontro com Theresa May, primeira-ministra britânica, que tem tido no G20 uma agenda difícil, com os alertas de vários países sobre as consequências do Brexit.
O Brexit é, aliás, um dos mais fortes pontos no G20, o primeiro realizado depois do referendo de 23 de Junho realizado no Reino Unido e que deu a vitória à saída do país da União Europeia. Theresa May tinha, por isso, uma agenda preenchida. Já se reuniu com Obama, com Putin e com o príncipe saudita. E tem declarado que vêm aí tempos difíceis, mas que os primeiros sinais deixam antever que a economia britânica estava em melhor forma do que alguns previam no pós-referendo. Theresa May já fez saber que irá em breve divulgar a forma como pretende accionar o mecanismo de saída. Esta semana discute-se no Parlamento uma petição a pedir um segundo referendo, mas a primeira-ministra já disse que não avançará para nova consulta popular.
Xi Jinping insiste no crescimento
O anfitrião da Cimeira, o presidente chinês, Xi Jinping, tem-se esforçado, segundo os relatos dos jornalistas que acompanham a cimeira, por falar em crescimento da economia, tendo na sessão de abertura deixado o recado que a economia global tem sido ameaçada com o crescente proteccionismo e com os riscos de um sobreendividado mercado financeiro.
"A economia global chegou a uma encruzilhada", face à fraca procura, à volatilidade dos mercados financeiros, e à desaceleração do comércio e do investimento. Os "drivers" do crescimento da anterior ronda de progresso tecnológico estão progressivamente a esmorecer, enquanto a nova onda de tecnologia e revolução industrial ainda está a ganhar momentum.
Face ao "push" de Jinping, o comunicado final do G20, segundo a Bloomberg, deverá deixar claro que o crescimento global é mais fraco do que o desejável e, por isso, deverão assumir o compromisso de usar "todas as opções políticas, incluindo as fiscais e as medidas monetárias, para reavivar o crescimento económico". O rascunho do comunicado, segundo a Bloomberg, também fala dos riscos da volatilidade dos mercados financeiros. O documento a apresentar nesta cimeira não será muito diferente, diz a Bloomberg, do aprovado pelos ministros das Finanças do G20 em Julho.
Uma questão de aço
Mas haverá um ponto no comunicado sobre o excesso de aço a nível mundial. Isto pelo menos é o que está no rascunho que pode vir a mudar, até ao final da cimeira. A questão do aço tem motivado tensões comerciais entre algumas nações, como a Índia à Europa e Estados Unidos. A China tem argumentado que o problema não está no excesso da oferta, mas antes na procura. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, foi um dos que levou o assunto do aço à mesa de trabalhos com Xi Jinping. Cortas a capacidade excedentária requer uma acção global, já referiu um vice-ministro das Finanças, Zhu Guangyao.
E de proteccionismo
Todas estas palavras têm um significado diplomático. No domingo, o presidente chinês também manteve várias reuniões bilaterais. Uma das quais com o primeiro ministro australiano, Malcolm Turnbull, a quem pediu que o país continuasse a garantir um ambiente justo, transparente e previsível aos investimentos estrangeiros. A China protestou pelo facto de a Austrália ter bloqueado a compra da maior fornecedora de energia australiana por um grupo chinês. A China acusou a Austrália de proteccionismo. A disputa com a China não se restringe ao ambiente económico, mas também aos voos de vigilância que o país tem promovido nas ilhas disputadas pela China no mar do Sul da China. Na segunda-feira Xi Jinping e Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês, vão encontrar-se com o tema das ilhas do mar da china na mesa. Este é outro tema presente em várias das reuniões bilaterais à margem da cimeira. Obama foi dos que falou do assunto na reunião bilateral com Jinping.
O incidente com Obama
Obama quer que esta passagem pela China marque o rumo para o seu sucessor, que será escolhido em Novembro. No entanto, logo à chegada a polémica estalou. Devido à falta de escadas na porta da frente do avião, o presidente norte-americano teve de sair pela porta de trás, sem passadeira vermelha. Mas mais do que isso, os jornais internacionais contam a querela, mesmo ali no aeroporto, entre os funcionários chineses e a comitiva norte-americana, com os agentes da China a não quererem a aproximação dos jornalistas. Há mesmo imagens do aeroporto, onde se vê um funcionário a dizer a um elemento da comitiva: "Este é o nosso país. O nosso aeroporto".
Barack Obama aproveitou a conferência de imprensa com Theresa May para realçar a importância da liberdade de imprensa e dos direitos humanos, mas pediu que não se elevasse a caso o que tinha acontecido no aeroporto.
"Não é a primeira vez que há questões com a segurança e acesso da imprensa. Uma das razões é porque insistimos uma certa abordagem à nossa imprensa que outros países não têm. Achamos que é importante à imprensa ter acesso ao trabalho que fazemos. E não deixamos os nossos ideais e valores para trás quando fazemos estas viagens. Pode causar fricções. Defendeu a liberdade de imprensa, mas quis pôr um ponto final na polémica, dizendo que as discussões bilaterais com o homólogo chinês tinham sido "extremamente produtivas".