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G20: Uma cimeira com muitas conversas bilaterais e um incidente na chegada de Obama

A cimeira vai falar de crescimento económico e até poderá falar do excesso de oferta no aço. Mas será recordada por ser a última de Obama. A primeira de May. E na China, que não perdeu mais esta oportunidade para se mostrar ao mundo.

Reuters
05 de Setembro de 2016 às 00:42
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A Cimeira do G20, que reúne as 20 maiores economias do mundo, tinha antecipadamente uma relevância significativa este ano. Não apenas porque decorria na China, o que acontece pela primeira vez, como marcaria a despedida de Barack Obama, enquanto chefe de Estado dos EUA. À China iriam, também, chegar alguns debutantes, como a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, ou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.

Mas a expectativa era muito maior, pelos problemas que hoje estão na agenda dos líderes políticos, como o Brexit, ou a guerra na Síria, ou ainda o caso da Turquia, que, aliás, motivou um encontro bilateral entre Merkel e Erdogan. 


Por isso, mais do que o que está na agenda do G20 o mundo olha para as reuniões bilaterais que estão a decorrer entre este domingo e segunda-feira, 4 e 5 de Setembro, no Extremo oriente. Algumas decorreram no domingo, 4 de Setembro, antes do início da Cimeira. Mas muitas outras já estão marcadas para segunda-feira. É o caso da reunião entre Putin e Obama, cuja reunião seguir-se-á à que decorrer entre os chefes da diplomacia dos dois países. A Síria é o principal ponto na agenda destes dois países. O chefe da diplomacia russa mostrou um optimismo não correspondido pelo homólogo norte-americano de que os dois países estariam perto de chegar a um acordo sobre a Síria.

Barack Obama também já fez saber que "ainda não estamos lá". A declaração do presidente norte-americano foram proferidas após um encontro com Theresa May, primeira-ministra britânica, que tem tido no G20 uma agenda difícil, com os alertas de vários países sobre as consequências do Brexit.

O Brexit é, aliás, um dos mais fortes pontos no G20, o primeiro realizado depois do referendo de 23 de Junho realizado no Reino Unido e que deu a vitória à saída do país da União Europeia.  Theresa May tinha, por isso, uma agenda preenchida. Já se reuniu com Obama, com Putin e com o príncipe saudita. E tem declarado que vêm aí tempos difíceis, mas que os primeiros sinais deixam antever que a economia britânica estava em melhor forma do que alguns previam no pós-referendo. Theresa May já fez saber que irá em breve divulgar a forma como pretende accionar o mecanismo de saída. Esta semana discute-se no Parlamento uma petição a pedir um segundo referendo, mas a primeira-ministra já disse que não avançará para nova consulta popular.

Xi Jinping insiste no crescimento

O anfitrião da Cimeira, o presidente chinês, Xi Jinping, tem-se esforçado, segundo os relatos dos jornalistas que acompanham a cimeira, por falar em crescimento da economia, tendo na sessão de abertura deixado o recado que a economia global tem sido ameaçada com o crescente proteccionismo e com os riscos de um sobreendividado mercado financeiro.

"A economia global chegou a uma encruzilhada", face à fraca procura, à volatilidade dos mercados financeiros, e à desaceleração do comércio e do investimento. Os "drivers" do crescimento da anterior ronda de progresso tecnológico estão progressivamente a esmorecer, enquanto a nova onda de tecnologia e revolução industrial ainda está a ganhar momentum.

O crescimento e a colaboração para que isso aconteça foi falada na sessão de abertura, mas depois em todos os momentos em que Xi Jinping falou. Até no jantar de gala oferecido pelo casal Jinping, ao qual se seguiu um vistoso espectáculo rematado com fogo-de-artifício, o presidente da China levantou o copo, no brinde habitual - "gan bei!" -, não sei antes reafirmar que "estamos aqui com uma missão comum. Estamos num ponto de viragem na cooperação económica e internacional a nível global. Os países do G20 devem ser os primeiros e devem ter mais responsabilidades na criação de uma economia global criativa, vigorosa, interligação e inclusiva, levando a um novo e robusto crescimento".


O lado social da cimeira do G20
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O lado social da cimeira do G20

Face ao "push" de Jinping, o comunicado final do G20, segundo a Bloomberg, deverá deixar claro que o crescimento global é mais fraco do que o desejável e, por isso, deverão assumir o compromisso de usar "todas as opções políticas, incluindo as fiscais e as medidas monetárias, para reavivar o crescimento económico". O rascunho do comunicado, segundo a Bloomberg, também fala dos riscos da volatilidade dos mercados financeiros. O documento a apresentar nesta cimeira não será muito diferente, diz a Bloomberg, do aprovado pelos ministros das Finanças do G20 em Julho.

 

Uma questão de aço

Mas haverá um ponto no comunicado sobre o excesso de aço a nível mundial. Isto pelo menos é o que está no rascunho que pode vir a mudar, até ao final da cimeira. A questão do aço tem motivado tensões comerciais entre algumas nações, como a Índia à Europa e Estados Unidos. A China tem argumentado que o problema não está no excesso da oferta, mas antes na procura. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, foi um dos que levou o assunto do aço à mesa de trabalhos com Xi Jinping. Cortas a capacidade excedentária requer uma acção global, já referiu um vice-ministro das Finanças, Zhu Guangyao.

 

E de proteccionismo

Todas estas palavras têm um significado diplomático. No domingo, o presidente chinês também manteve várias reuniões bilaterais. Uma das quais com o primeiro ministro australiano, Malcolm Turnbull, a quem pediu que o país continuasse a garantir um ambiente justo, transparente e previsível aos investimentos estrangeiros. A China protestou pelo facto de a Austrália ter bloqueado a compra da maior fornecedora de energia australiana por um grupo chinês. A China acusou a Austrália de proteccionismo. A disputa com a China não se restringe ao ambiente económico, mas também aos voos de vigilância que o país tem promovido nas ilhas disputadas pela China no mar do Sul da China. Na segunda-feira Xi Jinping e Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês, vão encontrar-se com o tema das ilhas do mar da china na mesa. Este é outro tema presente em várias das reuniões bilaterais à margem da cimeira. Obama foi dos que falou do assunto na reunião bilateral com Jinping.

O incidente com Obama

Obama quer que esta passagem pela China marque o rumo para o seu sucessor, que será escolhido em Novembro. No entanto, logo à chegada a polémica estalou. Devido à falta de escadas na porta da frente do avião, o presidente norte-americano teve de sair pela porta de trás, sem passadeira vermelha. Mas mais do que isso, os jornais internacionais contam a querela, mesmo ali no aeroporto, entre os funcionários chineses e a comitiva norte-americana, com os agentes da China a não quererem a aproximação dos jornalistas. Há mesmo imagens do aeroporto, onde se vê um funcionário a dizer a um elemento da comitiva: "Este é o nosso país. O nosso aeroporto".


Barack Obama aproveitou a conferência de imprensa com Theresa May para realçar a importância da liberdade de imprensa e dos direitos humanos, mas pediu que não se elevasse a caso o que tinha acontecido no aeroporto.

"Não é a primeira vez que há questões com a segurança e acesso da imprensa. Uma das razões é porque insistimos uma certa abordagem à nossa imprensa que outros países não têm. Achamos que é importante à imprensa ter acesso ao trabalho que fazemos. E não deixamos os nossos ideais e valores para trás quando fazemos estas viagens. Pode causar fricções. Defendeu a liberdade de imprensa, mas quis pôr um ponto final na polémica, dizendo que as discussões bilaterais com o homólogo chinês tinham sido "extremamente produtivas".


Obama defende na China liberdade de acesso à imprensa
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Obama defende na China liberdade de acesso à imprensa



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