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Três cenários para o encontro entre Donald Trump e Xi Jinping

Durante toda a semana os investidores aguardaram pelo encontro entre o presidente norte-americano e o presidente chinês que decorre na madrugada deste sábado. O Negócios questionou os analistas sobre o impacto de três possíveis cenários.

Reuters
28 de Junho de 2019 às 13:00
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Da última vez que os dois presidentes das maiores economias do mundo se encontraram à margem do G20, em dezembro do ano passado, foram anunciadas tréguas à disputa comercial entre os EUA e a China. Meio ano depois, Donald Trump e Xi Jinping voltam a encontrar-se depois dessas tréguas terem acabado com uma rotura em maio que levou as bolsas a afundar. O resultado da reunião deste sábado deverá ser determinante para o rumo da economia nos próximos meses. 

É inegável que a expectativa é elevada, mas também a cautela face ao desfecho imprevisível. Este sábado, 29 de junho, às 11:30, hora local (Osaka, Japão), o que corresponde às 3:30 (madrugada de sábado) em Lisboa, os mercados estarão focados no resultado do encontro entre Trump e Xi, mas reagem na segunda-feira.

Depois de em maio as negociações terem sido rompidas com a introdução de mais tarifas de parte a parte e as proibições norte-americanas à tecnológica chinesa Huawei, os investidores anseiam pela conclusão do conflito comercial que dura há cerca de um ano (as primeiras tarifas dos EUA exclusivamente à China foram aplicadas a 6 de julho de 2018). Mas, apesar de já ser visível o impacto das taxas aduaneiras na economia mundial, não é claro que haja acordo. 

Antes do encontro, Trump fez questão de lembrar que ainda tem 300 milhões de dólares de bens chineses importados que podem ser alvo de tarifas, o que deixaria todos os produtos importados da China com taxas aduaneiras. Mas o presidente norte-americano também revelou que teve uma chamada bem sucedida com o presidente chinês em antecipação do G20 e que espera que a reunião seja "produtiva". Os sinais de que deverá haver uma espécie de acordo entre os dois países têm surgido tanto em Washington como em Pequim. 

Esta quarta-feira o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, afirmou que 90% do acordo comercial estava alcançado no início de maio até ao corte de relações. Um dia depois, o jornal South China Morning Post avançava que os dois países estavam muito perto de alcançar tréguas durante seis meses, impedindo mais tarifas e abrindo a porta ao reinício das negociações. Contudo, a tradição de imprevisibilidade da atuação da atual Casa Branca aconselha a cautela quanto a desfechos definitivos. 

O Negócios questionou os analistas sobre três possíveis cenários e as consequências nos mercados de cada um desses cenários. 

Não há acordo, mais tarifas à vista
Para Ricardo Evangelista, analista da corretora ActivTrades, este é o cenário "menos provável. "Um acentuar do conflito é pouco provável até porque ambas as partes teriam muito a perder", diz. Mas, caso aconteça, antecipa que os ativos de risco tenderão a desvalorizar ao passo que os ativos de refúgio reforçarão ainda mais.

Para Jens Peter Sørensen, analista do Danske Bank, este cenário colocaria o dólar a valorizar perante outras divisas como a moeda japonesa ou o euro. Os juros das obrigações norte-americanas voltariam a cair assim como das obrigações alemãs, duas das dívidas públicas vistas como mais seguras. 

Este cenário deveria também levar os bancos centrais, principalmente a Fed, a adotar políticas monetárias de estímulos ainda "mais radicais", segundo Ricardo Evangelista, incluindo cortes de juros e o famoso "quantitative easing" introduzido durante a crise financeira. 

Já Pedro Amorim, analista da Infinox, considera que este cenário não é assim tão improvável: "É mais provável que ele [Donald Trump] se imponha mais contra a China para beneficiar desse efeito nas eleições presidenciais de 2020". Apesar disso, Amorim não antevê que sejam aplicados "mais aumentos de tarifas para além das que já foram anunciadas". 

Também os analistas da Capital Economics veem este cenário como o mais provável, antecipando a imposição de tarifas em todas as importações chinesas no início do próximo ano, o que provocaria uma retaliação chinesa "com tarifas e outras medidas que não passam pelas tarifas". 

Sem progresso nem tarifas
"Este é o cenário mais provável", avança o analista da ActivTrades, assinalando que, a confirmar-se, este desfecho levaria os bancos centrais a adotar um "discurso defensivo" tal como tem acontecido nas últimas semanas, mas sem um sentido de urgência. Para Ricardo Evangelista tem sido esse o motor da recuperação das bolsas internacionais em junho - recorde-se que o S&P 500 atingiu novos máximos históricos na semana passada. 

Jens Peter Sørensen antecipa que, neste cenário, o efeito no dólar seja "modestamente positivo" e que os juros das dívidas públicas dos EUA e da Alemanha se mantenham no nível atual. Contudo, a "tendência seria para a descida dos juros", conclui. 

Há acordo à vista
Esta parece ser a expectativa do mercado, tal como destaca Pedro Amorim: "Os investidores estão à espera de algo positivo em relação à reunião entre os dois presidentes e, por isso, nas últimas três semanas as bolsas têm vindo a subir". Contudo, na opinião do analista da Infinox, "não se pode ser muito otimista dado o tradicional efeito surpresa de Donald Trump". 

Já Ricardo Evangelista considera que este cenário é menos provável "dada a complexidade da situação e a polarização das posições" de cada lado. Os analistas da Capital Economics também apontam para a diferença de posições para argumentar que, mesmo que sejam anunciadas, quaisquer "tréguas deverão ser temporárias" e que as conclusões deverão ser "vagas". 

Caso uma espécie de acordo se concretize, os efeitos são óbvios: o analista da ActivTrade antecipa uma "euforia inicial" nas bolsas. Além disso, Jens Peter Sørensen antecipa um impacto positivo no euro e negativo no dólar, com os juros das dívidas públicas a subirem na expectativa de que (mais) ação por parte dos bancos centrais não seja necessária. 

Contudo, "tal poderia vir a diluir-se ao fim de algum tempo porque uma vez resolvido o problema com a China, o alvo seguinte de Trump passaria, potencialmente, a ser a Europa", assinala Ricardo Evangelista. Ainda esta semana o presidente norte-americano sugeriu que a Europa trata pior os EUA do que a China, referindo-se às multas aplicadas pela autoridade europeia da concorrência às tecnológicas norte-americanas. Esse confronto traria novamente incerteza ao comércio internacional e, consequentemente, ao crescimento económico mundial. 
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