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Estará a Rússia a preparar-se para a terceira guerra mundial?
Alguns media parecem querer convencer os russos de que sim. Mas, perante a comunidade internacional, Valdimir Putin garante que não.
Quatro dias de operações de simulacro de ataques nucleares que terão envolvido 40 milhões de pessoas em toda a Rússia; navios que transportam mísseis cruzeiro de longo alcance deslocados para o Báltico; frota russa reforçada na costa síria; tensão máxima com a UE e com os Estados Unidos, que ponderam novas sanções enquanto acusam Moscovo de boicotar a aliança contra o Daesh, de atacar civis na Síria e de interferir directamente nas suas políticas internas – na campanha pelo Brexit, no financiamento de partidos anti-europeus, e agora na campanha presidencial norte-americana para favorecer Donald Trump.
Estará o mundo à beira de um conflito aberto entre os dois velhos blocos?A acreditar nalguma imprensa russa, sim. Na semana passada, a menos de 48 horas das negociações sobre o cessar-fogo na Síria e em plena crise diplomática entre Paris e Moscovo, que levou ao cancelamento da deslocação prevista de Vladimir Putin a Paris, a agência France Presse referia que o apresentador do Rússia 24 – o principal canal de televisão de notícias do país – afirmara que as baterias antiaéreas russas na Síria vão "abater" aviões de guerra norte-americanos e que as autoridades russas estão a preparar abrigos antinucleares em Moscovo. "A terceira guerra mundial já começou" por causa do conflito na Síria, noticiava a maior emissora russa.
Ainda de acordo com a France Presse, as referências sobre uma "iminente terceira guerra mundial", à mistura com muita "febre patriótica", passaram a ser também regulares nos noticiários das rádios. E o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchev – que iniciou há 30 anos o fim da Guerra Fria – disse à agência Ria Novosti que o mundo avança "perigosamente para a zona de alerta vermelho" referindo-se ao conflito na Síria.
Já nesta semana, o Wall Street Journal divulgou o vídeo de uma reportagem transmitida nas tv russas que dava conta da preparação de abrigos antinucleares em Moscovo e de uma mega-operação de simulacro de ataques nucleares que alegadamente terá envolvido 40 milhões de pessoas em todo país.
Essa divulgação coincidiu com a reunião dos ministros da Defesa da NATO que anunciaram na terça-feira, 25 de Outubro, que darão seguimento às decisões tomadas na cimeira de Varsóvia, em Julho, que prevêem o envio de até quatro mil militares, em quatro batalhões, para a Lituânia, Estónia, Letónia e Polónia. "Não é para provocar o conflito, mas para evitar o conflito", afirmou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, acrescentando que a Aliança, preocupada em particular com a intervenção de Moscovo no conflito ucraniano e o apoio russo aos separatistas no leste daquele país, "continua a querer um diálogo construtivo com Rússia".
Falando perante especialistas e antigos dirigentes estrangeiros convidados pelo club Valdaï, em Sotchi, no sul do país, Vladimir Putin deixou claro na quinta-feira, 27 de Outubro, que "há agora diferenças mais fortes do que a ideologia" a separar Moscovo do "mundo ocidental". Numa referência implícita ao alargamento da NATO até aos limites da fronteira russa, Putin disse que o mundo está desequilibrado, que é preciso uma nova ordem mundial e um sistema de segurança colectiva multipolar, e criticou longamente os Estados Unidos que utilizam, segundo ele, as questões internacionais para servir os seus interesses, acenando com o perigo "estúpido" de uma "pseudo-ameaça russa".
Não obstante, garantiu não ter planos para alargar a intervenção militar russa, designadamente ao Iraque e à Líbia. E classificou de "histeria" as acusações de que a Rússia está a tentar influenciar as eleições nos Estados Unidos favorecendo o candidato republicano, Donald Trump, em detrimento de Hillary Clinton.
"Entre os problemas míticos, imaginários, encontramos a histeria, não posso dizê-lo de outra forma, que se desenvolveu nos Estados Unidos quanto à influência que a Rússia terá tido nas eleições presidenciais". "Será que alguém realmente pensa que a Rússia pode influenciar a escolha do povo americano? A América é uma república das bananas ou quê? A América é uma grande potência", rematou, citado pela Lusa.