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Apple junta-se às "vítimas", mas pode desbloquear acordo comercial EUA-China

A Apple é a última e a maior das multinacionais norte-americanas que estão a ser afectadas pela disputa comercial. No entanto, esse impacto negativo pode ser um desbloqueador das negociações entre os EUA e a China.

Reuters
03 de Janeiro de 2019 às 10:15
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O confronto comercial dos Estados Unidos com a China está a afetar o consumo dos chineses. A redução da procura em território chinês não está só a ter impacto nas empresas nacionais, mas também nas multinacionais norte-americanas. A Apple foi só a última das vítimas.

A fraqueza do mercado chinês foi a principal razão dada por Tim Cook aos acionistas e aos trabalhadores para rever em baixa as estimativas das receitas no primeiro trimestre fiscal, que terminou a 29 de dezembro. "Na verdade, a maior parte da diferença, ao nível das receitas, face ao nosso guidance, ocorreu na China, no iPhone, Mac e iPad", admitiu o líder da tecnológica. Em reação, as ações afundaram mais de 7%.

A administração de Donald Trump tem argumentado que os ganhos de longo-prazo da disputa comercial com a China justificam o impacto negativo de curto-prazo para os consumidores e os investidores. No entanto, essa tese pode tornar-se mais difícil de defender agora que os danos colaterais já incluem uma das principais marcas norte-americanas.

Além disso, os desequilíbrios da balança comercial continuam: os números oficiais mostram que o défice com a China não só não diminuiu como continua a aumentar, ao contrário do que pretende a Casa Branca. 

Mas a Apple não é a única empresa afetada. Esse é o caso também, por exemplo, da FedEx e da Starbucks. A FedEx, a gigante das entregas, baixou as estimativas dos lucros no final de Dezembro, três meses depois de as ter aumentado. Apesar de as fraquezas da empresa não virem apenas da China, a FedEx destacou a disputa comercial como um dos seus problemas. Fred Smith, o CEO da empresa, disse mesmo que a maior parte das suas dores de cabeça devem-se a "más escolhas políticas". 

Já a Starbucks tem aberto várias lojas na China para que este se torne o seu maior mercado. Contudo, a empresa admitiu no mês passado que a taxa de crescimento das vendas na China possa ser de 1% a longo-prazo, abaixo dos 3 a 4% que a Starbucks traça para o resto do mundo. A joalharia Tiffany’s, a Daimler e a Zegna são outras das empresas que também já sentem o impacto.

Impactos podem ajudar a desbloquear acordo
O crescimento económico da China está a desacelerar mais rapidamente do que a maior parte dos analistas esperava, o que está a preocupar o Estado chinês que já tomou medidas para contrabalançar essa quebra visível nos indicadores económicos.

A atividade industrial chinesa contraiu pela primeira vez em 19 meses, um sinal preocupante face à esperada desaceleração económica a nível global neste novo ano. Além disso, até novembro, as vendas ao retalho cresceram 8,1%, o pior desempenho desde Maio de 2003. 

"A economia da China está a registar uma desaceleração mais nítida do que os dados públicos relatam, o que sugere que existe muito maior pressão em Pequim para firmar tréguas" na frente comercial, argumenta à Bloomberg Leland Miller, CEO da China Beige Book, um analista que acompanha milhares de empresas que atuam na economia chinesa. E a queda das bolsas norte-americanas - 2018 foi o pior ano desde a crise financeira - pode ter o mesmo efeito em Trump, acrescenta. 

O alerta dado pela Apple chega dias antes das negociações entre os EUA e a China recomeçarem. No início da próxima semana Washington e Pequim reúnem-se para alcançar um acordo até 1 de março, que marca o fim das tréguas acordadas entre os dois países. Trump sinalizou durante o fim de semana que há boas razões para acreditar num acordo que evitará novos aumentos das tarifas aos bens chineses. 

Essa é também a opinião de Mohamed El-Erian, o conselheiro económico da Allianz, que refere à Bloomberg que estes impactos negativos "ajudam no processo" de negociação. O acordo pode ser alcançado mais cedo do que o esperado, antecipa. 
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