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Disputas comerciais com EUA enervam província mais exportadora da China
Empresários na mais exportadora província chinesa aguardam nervosos por um acordo que ponha fim à guerra comercial entre Pequim e Washington, mas outros desvalorizam o efeito das taxas alfandegárias, apontando o impacto para os consumidores norte-americanos.
Em Guangdong, a mais exportadora província da China, os empresários aguardam nervosos por um acordo que ponha fim à guerra comercial entre Pequim e Washington, mas outros desvalorizam o efeito das taxas alfandegárias, apontando o impacto para os consumidores norte-americanos.
"As taxas alfandegárias estão a destruir sobretudo pequenos exportadores, que trabalham com margens de lucro curtas, de 2%", descreve à agência Lusa o empresário indiano Amu, radicado há treze anos em Cantão, a capital da província de Guangdong, sul da China.
"Para os Estados Unidos, não existe outro fornecedor tão bom como a China. Por isso, no final de contas, quem vai suportar o aumento das taxas são os consumidores norte-americanos", ressalva o indiano, que, à semelhança de milhares de outros comerciantes, desembarcou em Guangdong em busca de fortuna, à medida que a província se convertia na fábrica do planeta.
"Quando cheguei, tinha pouco mais do que dinheiro para comer; hoje tenho muito dinheiro", conta, na sua 'penthouse', situada no norte de Cantão.
Localizada na fronteira com Hong Kong e Macau, Guangdong é a mais exportadora província chinesa e a primeira a beneficiar da política de Reforma e Abertura, adotada pela China, no final dos anos 1970.
Com uma economia assente na iniciativa privada e geradora do maior número de bilionários do país, Guangdong exportou, só em 2017, mais de 670 mil milhões de dólares em bens, e conta com dois dos dez portos mais movimentados do mundo.
Mas crescentes disputas comerciais entre Pequim e Washington prometem afetar uma província que concentra milhares de empresas de mão-de-obra intensiva, dependentes de margens de lucro curtas.
Guangdong está na "primeira linha de fogo" na guerra comercial, descreve Jonas Short, diretor em Pequim do banco de investimento Everbright Sun Hung Kai.
He Zhuotao, um informático natural de Cantão, reconhece que o setor exportador está a passar um "mau bocado", devido ao múltiplo impacto da guerra comercial, subida do custo da mão-de-obra e valorização da moeda chinesa.
"Vejo muitos danos à minha volta", diz.
Tong Quanqing, funcionário do Gabinete do Comércio do governo de Foshan, centro industrial adjacente a Cantão, explica à Lusa, no entanto, que a cidade "não está a ser muito afetada pelas disputas comerciais com os EUA", apontando a diversificação dos destinos de exportação das empresas locais, "nomeadamente para África".
Porém, em outubro passado, Pequim ordenou às autoridades de Guangdong que parassem de publicar a atividade da indústria manufatureira da província, numa aparente tentativa de controlar informação sensível, à medida que as fricções com Washington se agravaram.
Num sinal negativo para a indústria, o valor das encomendas para os EUA, feitas em novembro passado durante a maior feira comercial de Cantão, caiu 30,3%, em termos homólogos.
André Sobral Cordeiro, o cônsul-geral de Portugal em Cantão, lembra que o "volume de negócios que [Guangdong] tem com os EUA dificilmente é substituído por outro país, pelo menos de forma rápida".
"O receio dos empresários chineses é grande, claramente grande, de que as coisas possam correr menos bem", nota.
China e EUA aumentaram já as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um.
Os presidentes norte-americano e chinês, Donald Trump e Xi Jinping, respetivamente, concordaram, entretanto, com uma trégua de 90 dias, que termina em 1 de março, visando encontrar uma solução para as disputas comerciais.
Trump exige que a China ponha fim a subsídios estatais para certas indústrias estratégicas, à medida que a liderança chinesa tenta transformar as firmas do país em importantes atores em atividades de alto valor agregado, como inteligência artificial ou robótica, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas.
Washington quer também mais acesso ao mercado, melhor proteção da propriedade intelectual e o fim da ciberespionagem sobre segredos comerciais de firmas norte-americanas.
Mas o Partido Comunista Chinês está relutante em abdicar dos seus planos, que considera cruciais para elevar o estatuto global do país.