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Ameaça de Trump vai afectar o metal português?
O Presidente dos Estados Unidos promete avançar com tarifas aduaneiras sobre as importações de aço e alumínio. A decisão já mereceu a condenação internacional: pode lançar uma guerra comercial.
Se o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, concretizar a promessa de aplicar tarifas aduaneiras à importação de aço e alumínio, que impacto poderá ter em Portugal? À partida, e pelo menos num primeiro momento, parece ser residual, mas tudo depende dos detalhes da decisão e das reacções que provoca.
"Se forem tarifas na importação de matérias-primas, para Portugal é irrelevante", diz Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP - a Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, que congrega produtores de metal e de equipamentos manufacturados e transformados.
Conforme explicou Campos Pereira ao Negócios, a produção de aço e alumínio em Portugal "é pequena" e o que o país exporta para os Estados Unidos "é residual". Contudo, "se as tarifas se aplicarem a produtos e equipamentos manufacturados e transformados, aí sim, terá impacto e será decepcionante", ressalva o responsável.
Campos Pereira nota que as empresas portuguesas do metal fizeram em 2017 um esforço significativo para penetrar nos Estados Unidos, conseguindo aumentar em 35% as suas exportações. "No ano passado, exportámos cerca de 540 milhões de euros para os Estados Unidos, o que representa 3,3% das exportações totais do sector", adianta.
A AIMMAP estima o valor total das vendas da indústria metalúrgica e metalomecânica ao exterior em 16,4 mil milhões de euros. Os Estados Unidos são já o quinto mercado de exportação, atrás de Espanha, Alemanha, França e Reino Unido. "Ainda está muito longe dos outros, mas tem vindo a crescer", nota Campos Pereira.
O que é que Trump diz que vai fazer?
As declarações do Presidente dos Estados Unidos são lacónicas. Trump anunciou uma tarifa de 25% no aço e de 10% no alumínio. "Vamos assiná-la [a deliberação] na próxima semana", prometeu, na sequência de uma reunião com os representantes do sector. "E terão um período longo de protecção", assegurou.
Mas não adiantou mais nada: nem os produtos específicos a que a tarifa se aplicará, nem os países, nem o período de tempo.
Os produtores de aço e alumínio norte-americano têm vindo a fazer pressão para Trump agir. Os Estados Unidos são o maior importador de aço do mundo. O Canadá é o principal fornecedor, com 16,7% do total das importações, seguido do Brasil (13,2%) e Coreia do Sul (9,7%). Apesar de a China representar apenas 2% das importações, aumentou de tal forma a produção mundial que provocou uma queda acentuada nos preços, conta a Reuters. Segundo a BBC, a União Europeia, em conjunto, é também um dos principais fornecedores, ficando, em valor, perto do Canadá.
Perante a crise do sector nos Estados Unidos, que ditou o encerramento de vários produtores de aço e alumínio, Trump prometeu intervir e usou como argumento a segurança nacional. Assim que o Presidente anunciou a decisão, Michael Bless, CEO da Century Aluminum, aplaudiu. Mas a comunidade internacional já condenou duramente a medida. As restrições "causarão provavelmente dano não apenas fora dos EUA, mas também à própria economia norte-americana", alertou na sexta-feira o FMI, mostrando-se preocupado com a possibilidade de se generalizar a utilização do argumento de segurança nacional para implementar medidas proteccionistas.
A indústria norte-americana que depende destes metais, como por exemplo a automóvel, também já lançou alertas, temendo a subida de preços e avisando que o sector não está preparado para suportar o embate.