Notícia
Pilhagens na Venezuela devido a racionamento de energia
A situação na Venezuela está a agravar-se e a população teme "uma guerra civil" no país, segundo a conselheira das comunidades portuguesas na Venezuela, Maria de Lurdes Traça.
O Governo liderado por Nicolas Maduro não o admite, mas as pilhagens estão a alastrar no país, devido às medidas de racionamento de energia e falta de produtos básicos nas prateleiras dos supermercados.
Segundo o El Pais, são sete os estados do país onde se estão a registar maiores tumultos, com destaque para Maracaibo. É nesta região que se registam as temperaturas mais elevadas.
Os cortes de electricidade, que já totalizam 30 horas desde segunda-feira, provocaram pilhagens em pelo mais de 70 estabelecimentos, como padarias, supermercados e institutos públicos. Foram detidas mais de 100 pessoas.
Segundo a Lusa, Maracaibo amanheceu hoje fortemente vigiada por efectivos das Forças Armadas Venezuelanas. "Da minha janela olho para baixo e vejo um grupo de cinco militares, mesmo pertinho do edifício, olhando um pouco mais longe vejo outro grupo de militares que estão junto do semáforo", explicou uma emigrante portuguesa à agência Lusa.
Contrariada com o racionamento de energia, a portuguesa explicou que "os militares na rua, neste momento, são talvez a melhor opção para travar a insegurança, principalmente durante a noite, porque imagine-se na situação como estamos (insegurança), estando sem luz e na escuridão da noite".
A Venezuela iniciou a aplicação, segunda-feira, de um novo programa de racionamento da distribuição de electricidade, em resultado da redução do nível de água das barragens do país, fortemente afectadas pela seca ocasionada pelo fenómeno meteorológico El Niño.
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou, terça-feira, que os serviços públicos do país parariam as actividades às quartas, quintas e sextas-feiras, durante pelo menos duas semanas, para poupar energia eléctrica.
População teme "uma guerra civil" na Venezuela
A conselheira das comunidades portuguesas na Venezuela Maria de Lurdes Traça considerou hoje que a situação no país "é muito grave" e que a população teme mesmo "uma guerra civil".
"Este ano tem sido uma situação terrível porque tem-se agravado mais a escassez da comida, de medicamentos, os cortes de luz. Algumas zonas do país estão sete e oito horas sem luz e não quatro como anunciado", disse Maria de Lurdes Traça, em declarações à Lusa à margem da reunião plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que termina hoje em Lisboa.
"[A situação] está insustentável e o nosso maior receio neste momento é que estejamos a caminhar para uma guerra civil. A situação é grave", disse.
Mais de uma centena de pessoas tentou na quarta-feira pilhar um supermercado em Los Teques, a sul de Caracas, levando ao encerramento de vários estabelecimentos comerciais, com a imprensa local a dar conta de vários feridos e de pelo menos 50 detidos.
Segundo fontes da comunidade portuguesa local, a tentativa de pilhagem ocorreu depois da chegada de produtos de primeira necessidade que entretanto se esgotaram.
Segundo a conselheira, a medida anunciada pelo Governo de que a administração pública passa a trabalhar apenas dois dias por semana para se poupar energia "não faz sentido porque está provado que as pessoas gastam mais luz em casa do que no trabalho".
"Os empresários também se queixam e com toda a razão porque quem tem uma empresa, como muitos na comunidade portuguesa, têm que pagar aos empregados e praticamente mandá-los embora porque não têm luz para trabalhar", disse a portuguesa, emigrada na Venezuela há 50 anos.
Questionada sobre se há portugueses a sair do país devido à instabilidade, a conselheira respondeu que "há muita juventude a abandonar o país, os pais estão a optar mandar os filhos para outros destinos, como Portugal, Canadá ou Estados Unidos porque os jovens estão a ver que não têm oportunidades de vida, de um futuro melhor" na Venezuela.
Governo acompanha situação
O Governo está acompanhar com atenção a crise que se vive actualmente na Venezuela, disse o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
"(...) A situação social, económica e política que se vive na Venezuela é acompanhada com toda a atenção, porquanto temos na Venezuela uma das maiores comunidades portuguesas no mundo", afirmou José Luís Carneiro.
O secretário de Estado disse que "os mecanismos e os instrumentos de apoio aos portugueses em circunstâncias de excepcionalidade estão previstos na lei e está constituído" no caso de ser necessário retirar os portugueses da Venezuela.
"Nós acompanhamos a situação em vários países do mundo onde as circunstâncias económicas e sociais se têm vindo a agravar e basta estar atento ao que tem vindo a sair na comunicação social para se percepcionar quais esses países, cujo as situações económicas e sociais se tem vindo a agravar por força de serem países onde as exportações, nomeadamente o petróleo, têm um peso muito especial no volume das exportações", afirmou.
Para José Luís Carneiro, é preciso efectivamente "acompanhar estas comunidades, garantir que os serviços consulares estão atentos e os serviços diplomáticos em diálogo permanente com as autoridades institucionais dos países de acolhimento".
O secretário de Estado falou dos vários mecanismos de apoio que Portugal dispõe para as comunidades portuguesas que vive na diáspora, nomeadamente o Apoio Social para o Idoso Carenciado (ASIC) e o Apoio Social para o Emigrante Carenciado (ASEC).
O governante apelou aos portugueses que vivem nos estrangeiro ou que se desloquem para fora do país temporariamente que façam a inscrição consular, informem sobre as movimentações dentro dos países e que consultem regularmente os alertas colocados pelo Governo na página da Internet da Secretaria de Estados das Comunidades.
José Luís Carneiro disse que pretende deslocar-se à Venezuela "tão breve quanto possível".