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Michel Temer: Conheça o novo presidente do Brasil
Está há mais de 100 dias no cargo, mas só agora tomou posse na sequência da condenação definitiva de Dilma Rousseff pelo Senado.
Nascido a 23 de Setembro de 1940, em Tietê, Temer é o mais novo de oito irmãos, filho de católicos maronitas que fugiram do Líbano em 1925, na sequência da instabilidade pós-Primeira Guerra Mundial. Iniciou-se na política em 1981. O político, ao que consta, sonhava ser pianista. O sonho ficou por concretizar porque não existia quem o ensinasse na pequena cidade em que morava, no interior do estado de São Paulo.
Hoje é conhecido pela sua distinção: veste fatos impecáveis e camisas sem rugas. Será também mais um Presidente saído da elitista Arcadas, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP). Diz-se que sabe ser diplomático com as pessoas e rígido na hora de actuar. E dá valor à lealdade. E conhece a traição dentro do seu partido, o PMDB.
Renan Calheiros é um caso exemplar das relações de Temer com a política: foi ele que o propôs, em 1998, para ministro da Justiça do Governo de Fernando Henrique Cardoso. Passados sete anos, Calheiros chamou Temer ao seu gabinete para lhe dizer que defendera junto de Lula que Temer seria a sua escolha para presidente da Câmara dos Deputados. Temer soube depois que, na verdade, Renan Calheiros defendera Aldo Rebelo do Partido Comunista do Brasil para o cargo. Temer não foi eleito. Mas não esqueceu.
Em 2007, chegou à presidência do PMDB. Defendeu Calheiros quando este estava em queda livre. Quando Lula estava a ser assado em fogo lento pelo escândalo do "Mensalão", o PMDB apoiou o Presidente em troca da duplicação do número de ministros no Governo. Temer é assim: é um negociador puro. Hoje o PMDB é o maior partido brasileiro: tem 91 deputados e 18 no Senado. Governa nove estados, entre os quais o do Rio de Janeiro. Quando Dilma se candidatou, Temer foi escolhido pelo PMDB para vice. Nem Lula, nem Dilma o queriam, porque o consideravam voraz e muito ligado a Eduardo Cunha. Talvez soubessem que, no futuro, algo iria correr mal.
Afinal Temer foi ganhando o gosto pela política com o tempo: candidatou-se a deputado pelo PMDB em 1986. Não foi eleito, mas dois anos depois participaria na Constituinte. Depois voltou para a Secretaria da Segurança com o governador Luiz Antônio Fleury Filho. Ascendeu rapidamente no partido. Já aí demonstrou a sua dupla faceta, como contava um seu apoiante: "O Michel só é ousado nas conquistas amorosas. Na política ele é muito mais ponderado." Está casado pela terceira vez, com Marcela (a "bela, recatada e do lar", como a definiu a revista Veja, uma das pontas-de-lança da campanha contra Dilma), 42 anos mais nova do que ele. Na política, Temer prefere fazer alianças, como as que foi fazendo sobretudo desde que o PMDB rompeu com Dilma, a 29 de Março, para que esta naufragasse. Estava, segundo as suas próprias palavras, farto de ser vice-presidente decorativo.
Há quem recorde ainda as palavras de Dilma, no seu discurso de posse em Janeiro de 2015: "Sei que tenho o apoio do meu querido Michel Temer." Agora Temer ascende ao Planalto, o seu grande sonho. Temer gosta de escrever poemas e aforismos, mas agora é tempo de prosa. Agora tem de convencer os brasileiros que combaterá a corrupção. Os agentes económicos parecem contentes: é preciso debelar a crise económica e ele leva Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central durante os dois governos de Lula, para a Fazenda. Nas questões sociais tudo poderá ser mais complicado face à herança do PT. Mas agora começam os desafios verdadeiros de Temer. Não na sombra, mas debaixo do sol.