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Suíços acusam Trafigura de subornar funcionários públicos angolanos
A Trafigura, operador independente de mercadorias e matérias-primas, reconhece as imputações que lhe são feitas pela justiça helvética. Empresa está envolvida na construção do corredor do Lobito.
O grupo Trafigura foi acusado pela justiça suíça de subornar funcionários públicos em Angola. A empresa reconheceu as imputações que lhe foram feitas. Além disso, revelou que está a ser alvo de uma investigação levada a cabo pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos a propósito de "pagamentos impróprios" realizados no Brasil, adiantou a Bloomberg.
"As acusações contra Mike Wainwright, que como diretor de operações da Trafigura integra há uma década o trio de liderança da empresa, tornam-no um dos mais altos negociantes de ‘commodities’ a ser acusado de corrupção", sublinha a agência de informação financeira norte-americana.
A Trafigura, operador independente de mercadorias e matérias-primas, especializado nos mercados de petróleo, minerais e metais, tem uma atividade diversificada em Angola. Por exemplo, faz parte do consórcio ao qual o Governo de Angola adjudicou a construção do corredor do Lobito e que integra também a Mota-Engil.
O general angolano Leopoldino Fragoso do nascimento (Dino), próximo do falecido presidente José Eduardo dos Santos, chegou a deter uma posição acionista na Trafigura que vendeu em 2021 por 400 milhões de euros. Até 2018, a Trafigura deteve em Angola o monopólio de importação de combustível.
Em fevereiro deste ano, a petrolífera estatal angolana Sonangol anunciou ter escolhido as multinacionais BP e Trafigura para fornecerem gasolina e gasóleo a Angola por um período de 12 meses.
Em comunicado, referido pela Bloomberg, o gabinete do procurador federal suíço diz que a Trafigura, através da sua unidade Trafigura Beheer BV, não tomou as medidas organizacionais necessárias para evitar o pagamento de subornos em Angola entre 2009 e 2011. Segundo as autoridades suíças, a Trafigura transferiu 4,3 milhões de euros para uma conta bancária em Genebra e fez pagamentos em dinheiro de 604 mil dólares a um funcionário angolano entre abril de 2009 e outubro de 2011, relacionados com as suas atividades na indústria petrolífera do país.
Em troca, o funcionário angolano, ex-CEO de uma subsidiária da empresa estatal de petróleo Sonangol, favoreceu a Trafigura em contratos de transporte marítimo, alega o procurador suíço. Os alegados lucros alegados da Trafigura com esses contratos ascenderam a143 milhões de euros. De acordo com a lei suíça, a empresa enfrenta uma multa até 150 milhões de euros.
No caso do Brasil, adianta a Bloomberg, as investigações estão relacionadas em parte com declarações feitas pelo ex-executivo da Trafigura Mariano Ferraz como parte de um acordo de confissão após a sua condenação num caso separado no naquele.
Ferraz foi acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da investigação Petrobras Carwash. Em paralelo, a Trafigura e vários dos seus altos executivos foram acusados de corrupção por procuradores brasileiros num processo civil.
Inicialmente, a Trafigura afirmou que estava disposta a resolver a investigação suíça fora dos tribunais, mas agora mudou de estratégia e garante que se defenderá em tribunal.