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Operação e-toupeira: Paulo Gonçalves detido por corrupção ao serviço do Benfica

A Polícia Judiciária está a realizar novas buscas à SAD do Benfica, na porta 18 do estádio da Luz, e a outros locais, como os tribunais de Guimarães e de Fafe.

Pedro Ferreira/Cofina
06 de Março de 2018 às 09:55
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Paulo Gonçalves, director do departamento jurídico do Benfica, foi esta manhã detido pela Polícia Judiciária, avança o Correio da Manhã.

O braço direito de Luís Filipe Vieira está sob suspeita de, em nome da SAD do clube, ter subornado três funcionários judiciais para lhe fornecerem peças processuais do chamado 'caso dos mails' - em que o Benfica e os seus dirigentes são investigados, no DIAP de Lisboa, por corrupção desportiva, num alegado esquema com árbitros e observadores dos mesmos.

Quanto às contrapartidas dadas por Paulo Gonçalves aos oficiais de justiça subornados, directa ou indiretamente através do empresário Óscar, passavam por convites VIP para assistirem a jogos do Benfica na Luz e fora de casa, e oferta de produtos de merchandising do clube, como camisolas da equipa principal, refere o CM. 

Segundo a Sábado, um sobrinho do técnico do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ) José Silva, detido esta terça-feira pela Polícia Judiciária no âmbito deste caso, foi contratado pelo Benfica para trabalhar no Museu Cosme Damião.

Segundo o site da revista, o assessor jurídico do Benfica e o técnico do IGFEJ, detidos esta terça-feira pela Polícia Judiciária, vão passar uma noite nos calabouços desta polícia.

O interrogatório judicial de Paulo Gonçalves está agendado para quarta-feira no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. O assessor jurídico da SAD foi detido esta manhã na sua casa e já estará, sob custódia da PJ, nas instalações do Estádio da Luz, onde irá acompanhar as buscas ao seu escritório. 

Eduardo Dâmaso, director da Sábado, diz que este caso "levanta a ponta de promiscuidades diversas, que vão da influência de um clube dentro do sistema judicial até ao benefício da informação privilegiada obtida, de forma criminosa, por grandes escritórios de advogados da nossa praça".

"E-toupeira"

A Polícia Judiciária já confirmou o caso, tendo afirmado em comunicado  que "através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) e no âmbito de um inquérito que corre termos no DIAP de Lisboa deteve dois homens pela presumível prática dos crimes de corrupção activa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal".

Acrescenta que no decurso da operação, que foi baptizada "e-toupeira" e que envolveu cerca de "50 elementos da Polícia Judiciária, um juiz de instrução criminal e dois magistrados do Ministério Público, foram realizadas trinta buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa que levaram à apreensão de relevantes elementos probatórios".

A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa informou na sua página na internet que o inquérito está relacionado com "a prática de acessos por funcionários a diversos inquéritos em segredo de justiça para obtenção de informação sobre diligências em curso, informações que eram depois transmitidas ao assessor da administração de uma sociedade anónima desportiva a troco de vantagens".

A PGDL não refere que a sociedade anónima desportiva é a SAD do Benfica.

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O Benfica já reagiu ao caso, publicando uma nota no seu site onde "confirma a realização de buscas às suas instalações no âmbito de um processo de investigação sobre eventual violação do segredo de justiça e reitera a sua total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade".

 

Acrescenta manter "a sua confiança e convicção de que o Dr. Paulo Gonçalves terá oportunidade, no âmbito do processo judicial, de provar a legalidade dos seus procedimentos".

 

Na mesma nota, a SAD do Benfica diz que "irá pedir com carácter de urgência uma audiência à Senhora Procuradora-Geral da República, pelas reiteradas e constantes violações do segredo de justiça, sobre os processos que envolvem o clube, numa estratégia intencional e com procedimentos fáceis de serem investigados, como hoje foi claramente comprovado".


Acompanhar tudo a par e passo

De acordo com o CM, foi esta a forma encontrada pelos encarnados, desde Junho do ano passado, para tentarem acompanhar a par e passo tudo o que estava a ser feito pela Justiça - e ao mesmo tempo anteciparem eventuais operações da PJ. Por isso a sociedade de advogados Vieira de Almeida chegou a dar formações a funcionários do Benfica sobre a forma de se comportarem em caso de buscas à SAD. E quando as mesmas aconteceram, em Outubro, a PJ chegou a encontrar documentos processuais, que estão em segredo de justiça, nas instalações do clube. Além disso, os oficiais de justiça também terão passado a Paulo Gonçalves documentos de processos em que são visados dirigentes do Sporting e do FC Porto.

Os funcionários dos tribunais de Guimarães e de Fafe, um dos quais está também detido pela Unidade de Combate à Corrupção da PJ, entraram no sistema CITIUS - base de dados da justiça - com passwords e códigos de acesso deles e abusivamente em nome de magistrados do Ministério Público, tendo acedido centenas de vezes a processos judiciais como os casos dos mails e dos vouchers, entre outros.

Na operação de hoje, que está a passar por novas buscas à SAD do Benfica, na porta 18 do estádio da Luz, e a outros locais, como os tribunais de Guimarães e de Fafe, onde foram cometidos os crimes, estão envolvidos mais de 40 inspectores da PJ - para além de procuradores do MP, juízes e um representante da Ordem dos Advogados, que acompanha as buscas ao escritório de Paulo Gonçalves e a detenção do mesmo.

(notícia actualizada às 16:04 com mais informação)
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