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Antigos presidentes do BCP chamados a testemunhar no julgamento de Rendeiro
Três antigos presidentes do Banco Comercial Português (BCP), nomeadamente, Paulo Teixeira Pinto, Filipe Pinhal e Carlos Santos Ferreira, vão intervir no julgamento do caso Privado Financeiras na qualidade de testemunhas independentes, revelou esta quarta-feira o advogado de João Rendeiro.
"Virão até cá [ao tribunal] os ex-presidentes do Conselho de Administração do BCP Paulo Teixeira Pinto, Filipe Pinhal e Santos Ferreira como testemunhas independentes", avançou José Miguel Júdice, que representa João Rendeiro, fundador do Banco Privado Português (BPP).
Em causa está um processo de aumento de capital do BCP, na qual participou a Privado Financeiras, o veículo de investimento do universo BPP que investia em títulos do BCP, com o propósito de atingir uma participação de 4% no maior banco privado português.
"Só havia duas opções: ir ao aumento de capital do BCP ou liquidar a Privado Financeiras", afirmou Júdice, na sua alegação inicial.
De acordo com o advogado, com base nos fundamentais do BCP e nas informações passadas pelo Conselho de Administração do banco ao mercado, "todos os 'players' aconselharam ir ao aumento de capital".
Mais, segundo os dados avançados por Júdice, "99% dos accionistas [do BCP] optaram por ir ao aumento de capital" em virtude de "toda a informação disponível, nas notícias e nos 'research' [notas de análise dos bancos de investimento] que apontavam para a ida ao aumento de capital".
O advogado acrescentou que "se houvesse acções sobrantes [no âmbito da operação de aumento de capital do BCP] a Privado Financeiras alcançaria 4% do BCP, que era o objectivo que tinha sido fixado".
Sempre de acordo com as afirmações de Júdice, o prospecto do aumento de capital do BCP, da responsabilidade da gestão do banco, "era altamente positivo e com boas perspectivas" para os accionistas que acompanhassem a operação.
É devido a esta matéria que os três antigos presidentes do BCP vão dar o seu testemunho ao colectivo de juízes liderado por Nuno Salpico.
"Ficará provado que nunca o meu cliente deu informação [aos seus colaboradores] para que não fosse dada toda a informação aos investidores", assegurou Júdice.
E atirou: "João Rendeiro pode ser o homem que todos amamos odiar, mas isso não é suficiente para o condenar".
O responsável reforçou que "se condenarem o arguido [Rendeiro] a decisão irá para os anais" da justiça.
"Transforma-se o amador na coisa amada ou, neste caso, transforma-se o burlador na coisa burlada", ilustrou Júdice.
O advogado insistiu que, face às perdas que João Rendeiro averbou com o seu próprio investimento na Privado Financeiras (na ordem dos três milhões de euros), caso a tese da acusação fosse verídica, tal significaria que o banqueiro se tinha "imolado pelo fogo para matar os outros".
Nesse caso, Rendeiro seria "uma espécie de terrorista da Al Qaeda", frisou.
Júdice assinalou ainda que "os juízes não são justiceiros", lamentando que se tenha "reinventado, em pleno século XXI, o crime de vexame, depois de já ter sido erradicado".
O julgamento de três ex-gestores do Banco Privado Português (BPP), entre os quais o fundador e presidente João Rendeiro, a que se somam Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital, no âmbito do caso Privado Financeiras, arrancou esta manhã, pouco depois das 10h00, em Lisboa.
Enquanto decorre a investigação do processo principal do caso BPP, relacionado com a primeira intervenção das autoridades no banco, em 2008, e que incide sobre vários aspectos ligados à gestão, aos clientes e ao fisco, avançou este processo-crime paralelo relacionado com o veículo criado no universo BPP para investir especificamente em acções do Banco Comercial Português (BCP).
Os arguidos, João Rendeiro, Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital são acusados pelo Ministério Público (MP) de burla qualificada em co-autoria.