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À meia-noite Centeno apresentou Orçamento que só tinha "uma hora de vida"

Numa conferência de imprensa que começou com duas horas de atraso, o ministro das Finanças explicou que "o meu trabalho não tem horas". E à pergunta sobre se se identificava com o projecto orçamental depois das alterações face às versões preliminares, Centeno notou que o Orçamento ainda só tinha "uma hora de vida".

Miguel Baltazar/Negócios
14 de Outubro de 2017 às 09:30
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A escassos minutos da meia-noite desta sexta-feira e já com a Praça do Comércio quase vazia e num breu, Mário Centeno deu entrada no Ministério das Finanças depois de entregue, no Parlamento, o projecto do Orçamento do Estado (OE) para 2018.

 

A conferência de imprensa, agendada para as 22:00, começou com praticamente duas horas de atraso. A explicação é simples e o ministro das Finanças fez questão de a dar logo no início da apresentação: "O meu trabalho não tem horas".

 

Ficou desde logo evidente que Mário Centeno não tinha preparado somente respostas às questões eminentemente técnicas. Questionado sobre o porquê da demora na entrega do documento na Assembleia da República - foi entregue cerca das 23:15 -, Centeno frisou que "não houve demora nenhuma" e lembrou que, pelo contrário, "houve uma antecipação de dois dias" relativamente ao que o prazo permite.

 

A data limite para a entrega é até ao dia 15 de Outubro, que desta feita calha num domingo. O último Orçamento a ser entregue tão perto da meia-noite foi por Teixeira dos Santos em 2011, antes do resgate.   

 

Os jornalistas insistiram. Não estaria a hora tardia da entrega relacionada com a complexidade das negociações mantidas entre o Governo e os parceiros da esquerda que suportam a actual solução governativa? E Centeno revê-se nesta proposta depois das alterações feitas face às versões preliminares que foram sendo noticiadas pela imprensa?

 

As respostas vinham na ponta da língua. "Este Orçamento [ainda só] teve uma hora de vida", o que, no entender do responsável pelas Finanças, demonstra que não houve qualquer demora quer na entrega quer na apresentação, antes pelo contrário.

 

Quanto ao eventual desvirtuar das intenções iniciais do Governo depois das concessões às reivindicações do Bloco de Esquerda e do PCP, isto depois das garantias governamentais de inexistência de folga orçamental, Centeno concedeu que isso se justifica pela necessidade de negociação, mas deixou claro que ainda bem que assim é.

 

"Negociar não é desvirtuar coisa nenhuma. Negociar é trazer para a mesa um conjunto diverso de visões e opiniões que são todas enquadráveis se mantivermos um princípio de rigor e responsabilidade", atirou.

 

Mais. Mário Centeno garante que a proposta orçamental está perfeitamente em linha com as versões preliminares mas também com o programa do Governo e o Programa de Estabilidade enviado para Bruxelas. Porque é com esta "estabilidade de políticas que o país tem ganho confiança interna e externa".

 

E abre a porta a mais alterações durante a discussão do documento em sede parlamentar, garantindo que "todas as propostas que forem apresentadas ao longo do debate orçamental terão, do Governo, a maior atenção".

 

O momento favorável que a economia nacional atravessa esteve sempre presente no discurso de Mário Centeno, que promete para 2018 a continuação de bonança. As projectadas quedas do défice orçamental, da dívida pública e da taxa de desemprego e as subidas do emprego, dos rendimentos e das pensões proporcionam um Orçamento "para preservar e projectar um futuro com confiança e previsibilidade para Portugal", afiança Centeno.

 

Orçamento garante que os portugueses não ouvirão o que não querem

 

Mesmo tratando-se do Orçamento para 2018 e de se tratar já do terceiro elaborado pelo Executivo socialista, sempre com Centeno a tutelar as Finanças, o ministro insistiu em mensagens políticas caras a este Governo.

 

Assim, as críticas aos cortes feitos pelo anterior Governo (PSD-CDS) e o auto-elogio ao virar a página da austeridade marcaram presença, acompanhadas por garantias de "rigor e responsabilidade".


 

"Mostrámos que existe uma alternativa de rigor e responsável que conjuga estes princípios com crescimento económico e coesão social", começou por referir Mário Centeno que, mantendo a mira apontada ao anterior Governo, vê nas finanças públicas "não um veículo de repressão mas de crescimento económico".

 

Foi então que Centeno passou a enumerar uma série de situações das quais ninguém "quer voltar a ouvir falar". Tal como nos dois anteriores, este terceiro Orçamento não precisará de rectificativo, ninguém ouvirá falar em derrapagens orçamentais, em ameaças de sanções, nem de procedimentos por défices excessivos por incumprimento das regras europeias. Para o ministro este plano orçamental garante que tais coisas não voltem a soar aos ouvidos dos portugueses.

 

Só depois surgiu o único momento em que Centeno se mostrou menos seguro. Ou mais cauteloso. Sabedor de que até ao lavar dos cestos é vindima e que até à aprovação final do Orçamento ainda decorre um período de potenciais disputas, inclusivamente com sindicatos à perna e manifestações na rua, Centeno salientou a "enorme responsabilidade de todos os que estão envolvidos no debate" orçamental e a necessidade de assegurar que todas as dificuldades atrás elencadas não sejam novamente realidades presentes.


Mário Centeno viveu um bom momento e o sorriso constante que pontuou a apresentação do OE evidenciou isso mesmo. Ladeado pelos secretários de Estado António Mendonça Mendes (Assuntos Fiscais), que além do ministro foi o único a intervir, João Leão (Orçamento), Maria de Fátima Fonseca (Administração e Emprego Público), e Álvaro Novo (Tesouro), o chefe da equipa das Finanças monopolizou as atenções.  

 

Todavia o tempo não pára e rapidamente chegou a 01:00 da madrugada de sábado e o final da conferência de imprensa. É que apesar de o trabalho de Centeno não ter horas, já se aproximava a hora de dormir.

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