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Vítor Gaspar: "Economias avançadas devem estar preparadas para agir de forma coordenada" em caso de crise
Para o ex-ministro das Finanças de Portugal e atual diretor do departamento dos Assuntos Orçamentais do FMI, as economias avançadas têm de se alinhar para contrariar uma possível crise económica.
Vítor Gaspar considera que as economias avançadas "devem estar preparadas para agir de forma coordenada" com a política orçamental caso haja uma "desaceleração severa" do PIB mundial. As previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam já para uma travagem significativa em 2020 - ano com o ritmo de crescimento mais baixo desde a crise financeira -, mas ainda longe dos receios mais pessimistas de recessão mundial.
Num texto que acompanha o Fiscal Monitor divulgado esta quarta-feira, 16 de outubro, o ex-ministro das Finanças de Portugal e atual diretor do departamento dos Assuntos Orçamentais do FMI assume que a política orçamental está no "centro" dos debates de política económica da atualidade. É o que acontece neste momento na Zona Euro, principalmente na Alemanha onde a economia já contraiu num trimestre.
"As economias avançadas devem estar preparadas para agir de forma coordenada caso haja uma desaceleração severa", alerta Gaspar, assinalando que a política orçamental tem de agir numa altura em que a inflação continua abaixo dos objetivos dos bancos centrais e os juros diretores já são negativos em várias economias avançadas, como é o caso da Zona Euro.
"O tempo agora é para os países com margem orçamental usarem-na para ajudarem a procura agregada", recomenda o diretor do departamento dos Assuntos Orçamentais do FMI. Já os restantes países devem continuar a adotar uma política orçamental "prudente" para que continuem a reduzir a dívida pública.
Caso não o façam, "como ocorreu frequentemente no passado", assinala, "a complacência alimentada pelas taxas de juro baixas levam a um endividamento excessivo, seguido do pânico dos investidores e uma disrupção dos mercados", uma situação com a qual lidou enquanto ministro das Finanças em Portugal durante o período da troika.
Quanto às alterações climáticas, o tema principal do Fiscal Monitor, o ex-ministro das Finanças recomenda aos Estados que tornem o sistema fiscal mais amigo do ambiente, agravando os impostos sobre o consumo que é mais poluente, criando assim um desincentivo à sua utilização e encorajando os cidadãos e as empresas a utilizarem energias mais limpas.
As receitas adicionais conseguidas com esse agravamento fiscal seriam usadas para reduzir a carga fiscal noutras áreas. O FMI sugere, por exemplo, cortes nos impostos sobre o trabalho, pagamento diretos às famílias e mais investimento público.