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Varoufakis e Tsipras: A volta à Europa em 13 encontros

No espaço de uma semana Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis percorreram seis países europeus. Reuniram-se com chefes de Estado, ministros das Finanças, responsáveis da Comissão Europeia e banqueiros da City. Na bagagem levaram propostas para resolver o problema da dívida grega. Recolheram apoios. Fizeram cedências. Mas regressaram a casa com uma garantia: não haverá um novo perdão de dívida à Grécia.

07 de Fevereiro de 2015 às 09:00
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Atenas. Sexta-feira, 30 de Janeiro. As negociações do novo Governo grego com os parceiros europeus começam em Atenas, três dias após a tomada de posse do Executivo. Na capital grega Jeroen Dijsselbloem reúne-se com Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis. O encontro entre o líder do Eurogrupo e o ministro das Finanças grego fica marcado por algum mal-estar, depois de Varoufakis afirmar que a Grécia recusa a troika como interlocutora em futuras negociações. O Executivo de Tsipras quer dialogar directamente com os Governos dos restantes países da Zona Euro. Já Dijsselbloem alerta que Atenas deve respeitar os acordos firmados com os parceiros europeus.

 

Paris. Domingo, 1 de Fevereiro. Na capital francesa, Yanis Varoufakis recebe o apoio de Michel Sapin. O ministro das Finanças francês mostra-se disponível para ajudar a Grécia a chegar a um acordo com os seus credores internacionais. Mas deixa claro que um perdão de dívida não está em cima da mesa. "Podemos discutir, podemos adiar, podemos aliviar mas não vamos cancelar dívida". Nesta ocasião, Yanis Varoufakis afirma que quer ligar o reembolso da dívida ao crescimento económico da Grécia.

 

Londres. Segunda-feira, 2 de Fevereiro. Depois de Paris, Londres. Na capital britânica, Yanis Varoufakis reúne-se com George Osborne. O estilo britânico de Osborne contrasta com o jeito descontraído de Varoufakis. O ministro das Finanças britânico deixa um alerta e um pedido ao seu homólogo grego. "O impasse entre Atenas e a Zona Euro é o maior risco para a economia global", avisa Osborne, pedindo a Varoufakis para agir de forma responsável.

 

Depois de Downing Street, a City. Após o encontro com George Osborne, o ministro das Finanças grego reuniu-se com representantes da city Londrina. Levava duas mensagens: "Estamos muito abertos a investimento (…) e seremos capazes de

Podemos discutir, podemos adiar, podemos aliviar mas não vamos cancelar dívida.
 
Michel Sapin
Ministro das Finanças francês

honrar a dívida grega em termos que não terão qualquer impacto negativo, sobretudo sobre os detentores privados de títulos gregos".  

 

Ainda em Londres, Varoufakis concede uma entrevista ao Financial Times onde deixa cair o perdão de dívida. Em alternativa, pede que o ritmo do reembolso dessa dívida passe a ser indexado à taxa de crescimento nominal da economia grega.  

 

Mas em Londres nem tudo corre como planeado. Convidado pelo seu amigo Lord Lamont (Norman Lamont, ministro das Finanças britânico entre 1990 e 1993) para tomar o pequeno-almoço no Reform Club, Varoufakis foi impedido de entrar no centenário clube privado por não usar gravata. Os dois amigos acabaram por ir, ao menos formal, Sofitel, noticia o The Guardian.  

 

Nicósia. Segunda-feira, 2 de Fevereiro. Alexis Tsipras manteve a tradição dos anteriores primeiros-ministros gregos e realizou a sua primeira visita oficial a Chipre. Tsipras e Nicos Anastasiades mostraram-se a favor do fim do modelo da troika e de negociações apenas com a União Europeia.

 

Roma. Terça-feira, 3 de Fevereiro. Depois de Nicósia, o primeiro-ministro grego segue para Roma onde se encontra com o seu homólogo Matteo Renzi. "Com Roma falamos a mesma língua, a língua da verdade", afirma Alexis Tsipras no final do encontro com Renzi. "Devemos fazer a Europa falar em crescimento e não só em austeridade", diz, por seu lado, o chefe do Governo italiano, sublinhando a necessidade de "respeitar as regras com a necessária flexibilidade e inteligência". A conferência de imprensa dos dois líderes europeus ficou marcada pelo presente oferecido por Renzi a Tsipras: uma gravata italiana. Tsipras promete usá-la "quando encontrarmos uma solução para a Europa".     

 

No mesmo dia, Varoufakis também está em Roma para se reunir com o seu homólogo italiano. Pier Carlo Padoan concorda com a necessidade de encarar o crescimento como uma prioridade e mostra-se confiante de que é possível encontrar uma solução para a crise grega que beneficie toda a União Europeia.

 

"A Grécia precisa de assegurar um robusto crescimento económico através de reformas estruturais, de forma a colocar a sua dívida pública num caminho sustentável. O crescimento é crucial para garantir a sustentabilidade da dívida grega", afirma Padoan, que classifica o encontro com Varoufakis de "construtivo". 

 

Bruxelas. Quarta-feira, 4 de Fevereiro. Um dia cheio para Alexis Tsipras. Em Bruxelas, o primeiro-ministro grego reúne-se com três principais líderes europeus: Jean-Claude Juncker (Comissão Europeia), Martin Schulz (Parlamento Europeu) e Donald Tusk (União Europeia). "Ainda não chegámos a acordo. Mas estamos no bom caminho para chegar a um acordo viável", afirma Alexis Tsipras em conferência de imprensa após os encontros. Revela que está "optimista" e garante que as reuniões com os três responsáveis europeus "correram bem".

 

Em Bruxelas, Varoufakis encontra-se com Mario Draghi mas deste encontro não há relatos, nem declarações. Nessa noite, o Banco Central Europeu surpreende tudo e todos ao anunciar que vai deixar de aceitar dívida pública grega como colateral para o financiamento do sistema financeiro da Zona Euro. O BCE justifica a decisão com o "facto de já não ser possível assumir uma conclusão bem-sucedida da avaliação do programa [grego].

 

Paris. Quarta-feira, 4 de Fevereiro. Horas mais tarde, já em Paris, Alexis Tsipras pede a François Hollande que a França desempenhe um "papel decisivo" para alterar a política europeia. "Precisamos de um novo acordo para fazer regressar o crescimento e a coesão social à Europa", apela o primeiro-ministro da Grécia. O presidente francês afirma, por seu lado, que a

Precisamos de um novo acordo para fazer regressar o crescimento e a coesão social à Europa.
 
Alexis Tsipras

"austeridade enquanto única realidade e única escolha não é mais suportável". Hollande sublinha, porém, que "o respeito pelas regras aplica-se a todos, também à França. E nem sempre é fácil".  

 

Berlim. Quinta-feira, 5 de Fevereiro. O périplo europeu termina com o encontro de Yanis Varoufakis e Wolfgang Schäuble. Os dois ministros das Finanças estiveram quase duas horas reunidos e a conferência de imprensa agendada para as 11h30 (hora de Lisboa) só começa às 12h00. Varoufakis admite a disponibilidade para negociar um programa de transição, que possivelmente enquadrará o que acredita poder ser o último empréstimo europeu à Grécia.

 

Sobre a "difícil questão" de saber como é que a Grécia pode aceder ao financiamento pelos mercados sem um programa de assistência internacional na retaguarda "não tivemos acordo". Sobre isso, "concordámos em discordar", esclarece Wolfgang Schäuble. O ministro das Finanças alemão adverte Varoufakis que o essencial da mudança radical defendida pelo novo Executivo grego tem de ser feita na e pela própria Grécia, designadamente na luta contra a evasão fiscal e que os mecanismos europeus chegaram ao limite.

 

De regresso a Atenas, no dia em que o Parlamento foi empossado, Alexis Tsipras afirma perante os deputados que a "Grécia não vai aceitar mais ordens, especialmente ordens através de emails. A Grécia já não é o parceiro miserável que ouve sermões para fazer o seu trabalho de casa. A Grécia tem a sua própria voz. A Grécia não pode ser chantageada porque a democracia na Europa não pode ser chantageada".         

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