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Seehofer ameaça demitir-se. Crise política na Alemanha intensifica-se

A tensão política na Alemanha está a aumentar. E o risco de uma queda do Governo começa a parecer ser grande. O ministro do Interior, Horst Seehofer, ameaçou demitir-se do cargo governativo e da liderança da CSU, uma decisão que poderá ditar o fim do Executivo liderado por Angela Merkel.

Reuters
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Angela Merkel tem tentado salvar a coligação que lhe permite liderar o rumo de Berlim, mas a política externa, em especial a de migração, está a provocar cisões no Governo. A União Europeia fechou, na semana passada, um acordo, considerado vago.  E que está a ser insuficiente para acalmar as vozes contra dentro do Governo alemão.

 

A chanceler alemã propôs, este sábado, aos parceiros de governo várias medidas de controlo da imigração, incluindo acordos de repatriamento com 14 parceiros europeus, entre os quais Portugal, para pôr fim às divisões que ameaçam a coligação.

 

Mas não terá sido suficiente. O líder do partido-irmão bávaro (CSU) da CDU, Horst Seehofer, defendeu, numa reunião do seu partido, que não vê alternativa a recusar a estadia a migrantes que cheguem à fronteira da Alemanha. Uma posição que choca frontalmente com a de Merkel. O responsável revelou aos membros do seu partido que as negociações com Merkel, encetadas este sábado, não tiveram sucesso, de acordo com a Reuters, que cita uma fonte não identificada.

E, segundo a agência de informação alemã, a DPA, o responsável ameaçou demitir-se do Governo, de acordo com fontes próximas do processo. A mesma agência adianta que a ameaça se estendeu à liderança do partido. A proposta de demissão terá sido apresentada numa reunião com os membros da liderança do partido, segundo fontes citadas pela AFP.

Seehofer ofereceu assim os seus lugares, ainda que não tenha concretizado a sua demissão, adianta a Reuters, que acrescenta que alguns membros do partido estarão a tentar que o líder da CSU mude de ideias.

O responsável tem aumentado a pressão sobre Merkel para tentar convencer a chanceler alemã a implementar uma política de migração mais restritiva. O ministro alemão do Interior defende que os migrantes que tenham sido inicialmente registados noutro Estado-membro da União Europeia sejam deportados uma vez chegados junto às fronteiras da Alemanha. Esta intenção coloca em causa o funcionamento do acordo de Dublin que está em vigor e determina a forma como são geridos os requerimentos de asilo feitos por migrantes que tentem obter residência na UE. Desde logo porque o exemplo alemão tenderia a levar outros países a seguir igual prática.

 

Segundo o Guardian, o responsável, que é o ministro do Interior, terá ameaçado avançar com a medida por si defendida se Merkel não apresentar uma solução até ao final do dia. Seehofer tinha agendada uma conferência de imprensa para o final do dia de domingo, mas adiou a sua declaração, por estar em reunião com os membros do seu partido a debater qual o caminho que devem percorrer.

 

A aliança CDU-CSU vigora desde 1949 mas está agora fragilizada, uma vez que os deputados bávaros apoiam as medidas propostas pelo seu líder.

 

Sem o apoio dos parlamentares da CSU, o governo de coligação entre a CDU e o SPD deixaria de ter maioria absoluta no Bundestag. Merkel nunca governou sem maioria absoluta no parlamento e essa não é uma prática habitual no sistema político germânico.

Migrantes e eleições

A fractura no governo germânico estava há longos meses em banho-maria. Depois das eleições de Setembro passado culminarem com uma importante quebra eleitoral dos dois maiores partidos (CDU-CSU e SPD) e a ascensão da extrema-direita do Alternativa para a Alemanha (AfD).

Ainda na ressaca da noite eleitoral que produziu o parlamento alemão mais fragmentado desde a Segunda Guerra, Seehofer rapidamente atribuiu a responsabilidade pelo mau resultado da coligação conservadora à política de portas abertas aos refugiados, declarada em 2015 por Merkel e que fez chegar à Alemanha mais de 1 milhão de refugiados no espaço de um ano.

No entanto, além da posição de menor abertura aos refugiados sempre preconizada por Seehofer, o líder da CSU tem também razões eleitorais que ajudam a explicar esta insistência em medidas restritivas à chegada de migrantes. É que em Outubro realizam-se eleições regionais na Baviera, e a CSU corre o sério risco de perder a maioria absoluta devido à subida do AfD.

A oposição da extrema-direita à recepção de refugiados foi até ao momento o principal catalisador eleitoral do AfD e perante a crescente actualidade do tema é bem possível que o continue a ser. Ainda recentemente na Itália, a Liga de Matteo Salvini tornou-se no principal partido da direita beneficiando da retórica fortemente anti-imigração.


(Notícia actualizada às 22:05 com informação sobre demissão do ministo do Interior)
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