Notícia
Rehn: “Recuperar de crises como a espanhola demora mais de uma década”
Numa entrevista ao "El País", Olli Rehn diz que o resgate à banca espanhola "funcionou" mas não se pode falar em "êxito" porque há desafios que permanecem. Em Espanha como em outros países europeus, que devem prosseguir com as reformas estruturais.
- 9
- ...
Pelo menos dez anos. Recuperar de uma crise como a que afectou Espanha, e outros países do sul da Europa, não demora menos de uma década. Quem o diz é Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos, numa entrevista ao jornal espanhol “El País”.
“Espanha já está a fazer reformas há três anos, e o normal é que demore mais de 10 anos a regressar às taxas de desemprego que tinha antes: recuperar de uma crise como a espanhola acaba por custar uma década”, afirma o responsável, em entrevista, acrescentando que as reformas têm reflexo na competitividade, nas exportações, nos indicadores de confiança e também nos mercados.
Espanha já fez progressos em matéria de crescimento económico e de desemprego, que estabilizou “embora em níveis inaceitavelmente elevados”. E assim, defende o responsável, “é essencial prosseguir com as reformas e seguir uma linha orçamental fiável”.
Sobre o resgate ao sector bancário espanhol, que envolveu a injecção de 41.300 milhões de euros e a nacionalização de várias entidades, e que terminou oficialmente esta quinta-feira, Olli Rehn diz que “funcionou”. “Não gosto da palavra êxito, porque ainda há grandes desafios pela frente, mas as dúvidas sobre a liquidez e a solvência da banca já se dissiparam”.
“A economia tem de recuperar de uma década de excessos, o ajustamento será grande e doloroso”, reconhece o comissário. “Se tivéssemos uma fotografia panorâmica, veríamos nuvens e céu azul”.
Desafiado a colocar-se na pele de Rajoy, Olli Rehn garantiu que não vê outra saída a não ser prosseguir com as reformas, dando prioridade à reforma laboral, dos serviços profissionais e do sector energético.
“Tenho consciência de que no sul me vêem como uma espécie de cruzado da austeridade; no norte é o contrário, sou mais brando”, confessa Olli Rehn na mesma entrevista. Para o comissário, são necessárias as duas visões, consolidação e crescimento, até porque na Europa não havia “alternativa fácil”.
E o BCE teve e tem um papel essencial. “Na história económica não há exemplos de recuperação sem aumento do crédito”, afirma o responsável acrescentando que a autoridade monetária “está a preparar medidas”. “Com um choque de procura em plena recessão, e com uma política orçamental rigorosa, uma política monetária mais expansiva poderia funcionar. Não sou ninguém para aconselhar o BCE, mas tem margem com a inflação tão baixa”, sugere.
Na mesma entrevista ao “El País”, Olli Rehn falou ainda da orgânica e do funcionamento da chamada troika, que “comandou” os resgates financeiros a vários países europeus. “A experiência do Fundo Monetário Internacional foi uma grande ajuda; houve uma cooperação razoavelmente positiva entre três instituições de forte carácter”( FMI, Comissão Europeia, BCE). No entanto, o comissário europeu admite que, se o FMI não fizesse parte dessa formação, teria posto mais ênfase nas reformas durante a fase inicial dos resgates e “teria querido que todos os países afectados tornassem seus os ajustamentos desde o arranque para que os cidadãos percebessem a gravidade da situação”.