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Líder do Ciudadanos vence rival do Podemos em debate que pode fazer história

Em Espanha há uma nova geração de partidos e de políticos que vai submeter-se ao primeiro grande teste eleitoral daqui a dois meses. E há também uma nova maneira de os apresentar. Um debate inédito, gravado num café de operários num bairro da Barcelona que escapa ao roteiro dos turistas, foi recorde de audiências e está a dar muito de que falar.

Bloomberg
20 de Outubro de 2015 às 18:58
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O Tío Cuco, café despretensioso de Nou Barris, bairro da Barcelona que os turistas não procuram, foi o cenário escolhido para um frente-a-frente inusitado entre Albert Rivera e Pablo Iglesias, os jovens líderes do Ciudadanos e do Podemos, dois partidos nascidos na era da internet que enfrentam dentro de precisamente dois meses, em 20 de Dezembro, o primeiro grande embate com o eleitorado que será chamado a escolher o próximo governo – o primeiro da era pós-resgate à banca e auge da austeridade.

A avaliar por resultados de inquéritos e textos de opinião, Rivera esmagou o seu rival. No caso dos leitores do El Confidencial, 80% deram a vitória ao líder do Ciudadanos, partido que surge em terceiro lugar nas mais recentes sondagens, com 21% das intenções de voto, três pontos percentuais aquém de PSOE e do PP, e três pontos à frente do Podemos, que chegou a liderar as sondagens no início deste ano, antes da guinada do Syriza, partido "irmão" na Grécia.


Durante o debate falou-se de corrupção, de reformas, de desemprego, de saúde pública para os imigrantes ilegais, das relações com os banqueiros, de intromissão do Estado na comunicação social, e "Rivera ganhou aos pontos porque se apresentou com clareza e retratou o seu rival na sua força ideológica mas na sua fragilidade executiva – tanta fragilidade que o líder do Podemos concedeu a Rivera um extraordinário passe de capitulação", escreve Rubén Amon no El País, remetendo para uma parte do debate em que o líder do Ciudadanos diz que há muita gente que duvida que o Podemos saiba gerir e quadrar as contas do país e Iglesias responde: "Es verdad". De resto, "só faltou beijarem-se", acrescenta Amon, ao concluir que "a bandeira branca animou um debate com pouco debate mas com muita televisão" – e a real novidade residiu aqui.

Conduzido por Jordi Évole, cara simpática do programa "Salvados" que se notabilizou pelo seu envolvimento a favor de mais autonomia mas contra a independência da Catalunha, o debate foi gravado há mais de uma semana e transmitido no domingo pelo canal La Sexta. Foi recorde de audiências na emissora (25,2%, 5,2 milhões de espectadores) e está a dar muito que falar precisamente por ter trazido os políticos para fora da caixa. 


Pode fazer-se debate político sério fora dos estúdios das televisões, sem temas nem tempos pré-fixados e cronometrados ao segundo, em mangas de camisa, à mesa de um bar, enquanto os protagonistas tragam um 'café con leche'? As reacções não são unânimes, mas a avaliar pela densidade da cobertura noticiosa e pela maioria dos comentários, a resposta é claramente sim.


"A chave radicou na naturalidade, na ruptura com os espartilhos que degradam os debates e os transformam num exercício asséptico e especulativo". Desta feita, "não houve tempos acordados, nem tabus, nem medo das perguntas e reperguntas", analisa Rubén Amon ainda no El País.

No El Mundo Eduardo Fernández elogia a circunstância de os líderes dos dois partidos emergentes que prometem quebrar o tradicional bipartidarismo em Espanha terem também permitido emergir um novo modelo debate televisivo.

Alberto Lardiés, no El Espanhol, chega mesmo a tirar "dez lições" do que se passou neste domingo, sendo a primeira a de que "um debate fresco e sem amarras", com uma linguagem "acessível e sem ambiguidades" afinal é possível entre políticos e em televisão. Afinal, escreve, é possível quebrar a regra, "em que os tempos, os temas, a ordem das intervenções estão sempre espartilhados, medidos ao milímetro por cada equipa de campanha, apenas sem lugar para o improviso ou para a surpresa".

O apresentador de "Salvados" diz-se surprendido com as audiências do programa, e revela que Rivera e Iglesias saíram do Tío Cuco "mais amigos" e com maior respeito mútuo. Jordi Évole quer repetir a experiência com os líderes dos partidos mais tradicionais. Para Mariano Rajoy, líder do PP e actual primeiro-ministro, tem na cabeça um cenário ainda menos ortodoxo: quer sentar no Palácio da Moncloa, sede do governo, uma família à mesma mesa de Rajoy. Ainda não recebeu resposta.

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