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Juros da dívida de Itália já superam os da Grécia

A rendibilidade exigida pelos investidores para comprarem dívida pública italiana com maturidade a 5 anos já é mais alta do que a relativa aos títulos soberanos da Grécia. O cenário de nova confrontação com Bruxelas e possível abertura de procedimento sancionatório a Itália pesam no custo de financiamento da economia transalpina.

Reuters
31 de Maio de 2019 às 15:48
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Aquilo que há apenas um ano parecia inimaginável já é uma realidade: os juros associados à dívida pública de Itália já são mais elevados do que os da Grécia.

No prazo a 5 anos, a taxa de juro exigida no mercado secundário pelos investidores para comparem obrigações italianas sobe 4,6 pontos base para 1,72%, enquanto para adquirirem títulos soberanos gregos recua expressivos 12,7 pontos para 1,67%.

Já na maturidade de referência a 10 anos, as "yields" associadas às obrigações de Itália (2,67%) e da Grécia (2,87%) estão apenas separadas por duas décimas, o que confirma a tendência de confiança crescente na capacidade de Atenas para fazer face aos respetivos encargos e, em sentido inverso, a cada vez maior desconfiança relativamente a Roma.

O líder da Liga e vice-primeiro-ministro Matteo Salvini garante não ter receio quanto à pressão dos mercados e que não irá ceder na pretendida política económica expansionista.

Outro membro daquele partido populista e de extrema-direita, o deputado Claudio Borghi, que lidera a comissão orçamental no parlamento transalpino, responsabilizou, esta quinta-feira, os bancos centrais na área do euro por esta realidade.

Em declarações à Bloomberg, Borghi sustenta que é a inexistência de controlos por parte dos bancos centrais que possibilita às obrigações negociadas no mercado secundário de dívida "oscilarem livremente em função da especulação do dia".

A especulação a que este deputado faz referência diz respeito à possibilidade de a Comissão Europeia abrir um procedimento por défices excessivos (PDE) a Itália por incumprimento das regras orçamentais previstas no Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), nomeadamente a relativa à necessidade de redução do endividamento público.

Mas está também relacionada com o anúncio feito por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de que irá aplicar taxas alfandegárias mais altas à importação de bens oriundos do México, que serão gradualmente reforçadas, até que o país resolva o problema relacionado com a vaga de migrantes ilegais que entram no vizinho do norte.

Isto porque a economia italiana é muito dependente do setor exportador, precisamente o mais afetado pelas medidas protecionistas de Washington  na administração Trump.

No entender deste relevante quadro da Liga, que nas últimas europeias ascendeu de forma clara a maior partido italiano, a dívida italiana ter juros associados mais altos não faz qualquer sentido desde logo porque "a Grécia deve dezenas de milhares de milhões [de euros] a Itália" devido à participação de Roma no programa de assistência financeira concedido a Atenas.

Recorde-se que o resgate da troika à Grécia foi concluído no final do verão do ano passado, tendo Atenas garantido uma saída limpa, embora sob monitorização pós-programa reforçada. O regresso autónomo aos mercados tem permitido um alívio progressivo dos juros helénicos, tendência acentuada depois de no passado domingo o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ter convocado eleições antecipadas (decorrem a 7 de julho) devido à derrota nas europeias. A liderança destacada do Nova Democracia (ND, centro-direita) nas sondagens está a ser bem recebida pelos investidores, que acreditam numa governação mais orientada para a captação de investimento. 

Itália não é a Grécia, mas situação económica também é débil

Claudio Borghi recupera um discurso que foi comum em 2015 quando vários Estados-membros asseguravam dispor de condições bem mais estáveis do que as de Atenas. "Itália não é a Grécia", afirma.

Com a terceira maior economia da Zona Euro, Itália tem um peso distinto ao da Grécia, contudo é nesta altura percecionada como um dos fatores de maior fragilidade no seio da moeda única em especial devido à dívida pública (fechou 2018 nos 132,2% do PIB, mas as projeções de Primavera da Comissão estimam um aumento para 133,7% neste ano e para 135,2% em 2020). 

Fragilidade que tende a sobressair num contexto em que ganha força um novo braço de ferro entre Roma e Bruxelas. Na quarta-feira, a Comissão Europeia fez chegar às autoridades transalpinas uma carta em que pede explicações sobre o porquê de a dívida pública ter continuado a aumentar em vez de diminuir. 

O governo italiano tem até ao final do dia para responder, sabendo do aviso da Comissão de que pondera abrir um PDE ao país, o que limitaria a soberania orçamental do executivo anti-sistema e eurocético de aliança entre a Liga e o 5 Estrelas.

Esta sexta-feira, a imprensa italiana adianta que, afinal, o partido de Luigi Di Maio, que ontem "sobreviveu" à moção interna promovida depois do mau resultado eleitoral nas europeias (passou de maior partido nas legislativas de março de 2018 para a terceira posição), está disponível para apoiar o choque fiscal (acentuada descida de impostos pagos por famílias e empresas) defendido por Salvini como forma de recolocar a economia a crescer e de promover a criação de emprego. 

No entanto, a chamada "flat tax" comporta um impacto negativo nas receitas do Estado, o que pode refletir-se no agravamento do défice orçamental. No difícil acordo sobre o orçamento para este ano alcançado em dezembro último, Roma comprometeu-se co um défice de 2,04% do PIB, contudo a degradação das condições macroeconómicas já levaram a Comissão a antecipar que o défice resvale para os 2,4% (o que significaria o incumprimento das regras). Esta manhã, o banco central transalpino avisou que, ao contrário do defendido por Salvini, o aumento do défice pode ser contraproducente

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