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Banqueiros que tramaram a Irlanda vão ser investigados após revelação de gravações comprometedoras

A revelação de que gestores de um dos maiores bancos do país, o Anglo Irish, terão ludibriado leviana e intencionalmente o Estado está a chocar a Irlanda. Primeiro-ministro abre investigação e exige do anterior Governo explicações sobre o que o levou a oferecer garantias de Estado sobre toda a dívida dos bancos, abrindo a porta à falência da própria Irlanda.

26 de Junho de 2013 às 15:35
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O Governo e o parlamento da Irlanda vão desencadear uma investigação ao resgate desastroso de um dos maiores bancos do país, o Anglo Irish Bank, na sequência da revelação de gravações de chamadas telefónicas datadas de 2008 que demonstram que antigos directores da instituição financeira esconderam de forma deliberada e leviana a verdadeira dimensão das perdas prováveis do banco.

 

Enda Kenny, o actual primeiro-ministro, anunciou a investigação e acusou o anterior chefe de governo, Brian Cowen, e outros membros do Fianna Fail de terem formado um "eixo de conluio" para proteger os bancos à custa de riscos enormes para os contribuintes.

 

Kenny frisou que a investigação terá de fazer luz sobre a reunião misteriosamente indocumentada que Cowen manteve em Setembro de 2008 com os principais banqueiros irlandeses e da qual saiu a decisão surpreendente – e muito contestada à época pelos parceiros da Zona Euro – de oferecer garantias de Estado a todos os credores contra eventuais perdas dos bancos irlandeses.

 

O Anglo começou por usar garantias do Estado de sete mil milhões de euros mas acabou por receber dos cofres públicos um resgate de 30 mil milhões de euros, contribuindo de forma decisiva para o colapso das finanças públicas do país que, em finais de 2010, se converteu no segundo Estado do euro a pedir assistência financeira internacional.

 

Três dos principais directores do Anglo enfrentam acusações criminais relacionadas com alegada fraude contabilística e o ex-CEO David Drumm fugiu para os Estados Unidos onde declarou falência em 2010, recusando-se a pagar as suas dívidas pessoais ao Anglo, superiores a 8,5 milhões de euros.

 

O caso sofreu um novo golpe nesta semana, depois de o jornal “Irish Independent” ter começado a divulgar chamadas telefónicas efectuadas em 2008 entre altos responsáveis do Anglo e gravadas pelo próprio banco.

 

Na primeira das gravações reveladas, um gestor (Peter Fitzgerald, director de Tesouraria do Anglo)  pergunta ao outro (John Bowe, director do departamento de mercado de capitais) como chegou ao número de sete mil milhões de euros para se pedir de ajuda ao Estado, e este responde, rindo: “como diria Drumm, tirei-o do rabo”.

 

Na conversa, Bowe diz que a melhor estratégia é fazer com que o Estado meta progressiva e discretamente mais dinheiro no banco, empolando o argumento de que deixar a instituição cair será pior para todos. Com um pouco de sorte, acrescenta, o banco ainda acaba nacionalizado e os dois conservam os seus cargos – o que veio, efectivamente, a suceder.

 

O próprio Drumm também é apanhado numa outra conversa telefónica com Bowe, agora a gozar com preocupação do banco central de que estariam a “abusar” da garantia de Estado que lhe fora concedida para captar depósitos de outros países, designadamente do Reino Unido e da Alemanha, criando uma situação ainda mais difícil para o Governo irlandês no contexto da União Europeia. 


"Não vamos fazer nada gritante, mas ... temos que conseguir o dinheiro ... arranja a 'merda' do dinheiro", ordena a John Bowe. Bowe concorda. E canta uma versão-comédia do hino alemão e (numa tradução limada) diz estar a borrifar-se para as preocupações dos britânicos.

 

A revelação destas conversas "chocantes" arrisca-se a tornar ainda mais complicada a missão do Governo que gostaria que parte da dívida bancária irlandesa fosse retroactivamente assumida pelo fundo de resgate do euro (o Mecanismo Europeu de Estabilidade, MEE), aliviando a dívida pública irlandesa, que seria assim parcialmente transferida para a esfera de responsabilidade do conjunto dos Estados (e contribuintes) dos países do euro. O assunto, enquadrado na criação da união bancária e, dentro desta, de um mecanismo único de resolução de bancos, está na agenda da cimeira europeia desta quinta e sexta-feira. "Torna-se mais difícil, é claro que sim, mas vamos continuar a trabalhar para conseguir o melhor resultado possível para os contribuintes irlandeses", disse Eamon Gilmore, vice-primeiro-ministro da Irlanda.

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