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Guindos esperava que Dijsselbloem se tivesse "arrependido"
O ministro espanhol das Finanças e considerado favorito à sucessão de Dijsselbloem na presidência do Eurogrupo considera que as declarações do holandês foram "infelizes" e lamenta que aquele não tenha mostrado arrependimento. PSE pede a demissão do holandês.
Luis de Guindos, ministro espanhol das Finanças, juntou a sua voz ao rol de críticas feitas nas últimas horas às declarações proferidas por Jeroen Dijsselbloem a um jornal alemão. Guindos diz que as palavras de Dijsselbloem foram "infelizes" e garante ter feito chegar a Bruxelas o entendimento do Governo espanhol de que o político holandês deveria mostrar arrependimento.
"As declarações parecem-me infelizes tanto do ponto de vista formal como do conteúdo", explicou Guindos que, citado pelo El País, lamenta que Dijsselbloem em vez de se ter retratado. "Esperava que se tivesse mostrado arrependido", disse.
Guindos, derrotado em 2015 pelo holandês na corrida à liderança do Eurogrupo, é apontado como favorito à sucessão do holandês, com o Governo espanhol a demonstrar reiteradamente o interesse em garantir a presidência do bloco do euro. Com mandato até Janeiro de 2018, Dijsselbloem tem a sua posição em risco desde a derrota do seu partido (trabalhistas, de centro-esquerda) nas legislativas holandesas realizadas na semana passada, isto porque dificilmente os trabalhistas poderão manter uma pasta com a relevância das Finanças depois de passarem de 38 para somente nove deputados.
PSE quer demissão de Dijsselbloem
O PSE (Partido Socialista Europeu), segundo declarações reproduzidas pela agência Lusa, considera que vindas de um elemento da família socialista europeia, estas declarações são uma "vergonha". Nas palavra de Sergei Stanishv, presidente do PSE, "com uma só frase, Dijsselbloem conseguiu insultar e desacreditar tantas pessoas e aumentar as divisões. As suas palavras são ofensivas tanto para os países do sul como do norte da Europa, mulheres e homens".
Na mesma linha, o líder do grupo parlamentar do PSE no Parlamento Europeu, o italiano Gianni Pittella, recorda mesmo que não foi a primeira vez que Dijsselbloem fez contradições contrárias àquilo que é o posicionamento dos socialistas europeus.
Também o presidente do PPE (Partido Popular Europeu) no Parlamento Europeu, Manfred Weber, fez questão de lembrar ao Jeroen Dijsselbloem que a Zona Euro é um espaço "de responsabilidade e solidariedade, mas também de respeito". Mais longe foi o eurodeputado do PPE, Gabriel Mato, que exige o afastamento do holandês da chefia do Eurogrupo.
Matteo Renzi, ex-primeiro-ministro italiano e ex-secretário-geral do PD, também já pronunciou contra o ministro holandês das Finanças, considerando que Dijsselbloem "perdeu uma óptima ocasião de estar calado". Garantindo "não encontrar um termo melhor", Renzi lamenta "as piadas estúpidas" feitas ´"contra os países do sul".
Perché il Presidente dell'Eurogruppo se ne deve andare, prima possibilehttps://t.co/or2VXytZpN
— Matteo Renzi (@matteorenzi) 22 de março de 2017
Por isso Renzi considera que Dijsselbloem "não merece" ocupar a liderança do Eurogrupo, pelo que pede a demissão do holandês "o mais rápido possível", o que seria "bom para ele e para a credibilidade das instituições europeias".
Na terça-feira à noite já o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, tinha pedido o afastamento do holandês, pedido a que se juntou esta quarta-feira o primeiro-ministro. Para António Costa "numa Europa a sério, o senhor Dijsselbloem já estava demitido neste momento.
Ao Observador, o eurodeputado do PSD, Paulo Rangel, defendeu a "saída imediata" de Dijsselbloem, enquanto o deputado do CDS, Pedro Mota Soares, citado pela Lusa, sustentou que "as declarações do presidente do Eurogrupo são inaceitáveis e devem dar lugar à sua demissão imediata. Não aceitamos o preconceito que o ministro das Finanças holandês, do Partido Socialista, tem para com os países do Sul", afirmou o deputado centrista Pedro Mota Soares
A espoletar toda esta polémica esteve uma entrevista publicada pelo Frankfurter Allgemeine Zeitung, em que Dijsselbloem defende que: "Tornamo-nos previsíveis quando nos comportamos de forma consequente e o Pacto [de Estabilidade] da Zona Euro baseia-se em confiança. Na crise do euro, os países do norte da zona euro mostraram-se solidários para com os países em crise. Como social-democrata, considero a solidariedade da maior importância". Porém, acrescenta, "quem a exige também tem obrigações. Eu não posso gastar o meu dinheiro todo em aguardente e mulheres e pedir-lhe de seguida a sua ajuda. Este princípio é válido a nível pessoal, local, nacional e até a nível europeu".