A janela de oportunidade aberta pelo programa de compra de activos do Banco Central Europeu (BCE) deve ser aproveitada para reduzir a dívida pública, em particular nos países que ainda apresentam défices orçamentais. A recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI) surge no âmbito do relatório anual sobre a situação na Zona Euro, e é especificamente dirigida a Portugal e a França.

"Países com espaço orçamental limitado (como é o caso de França e de Portugal) devem aproveitar a descida dos juros decorrentes do 'quantitative easing' para pagar dívida". Já os países com finanças públicas mais equilibradas, caso da Alemanha e da Holanda, devem aproveitar os juros baixos para aumentar o investimento e o ritmo das reformas estruturais. "Fazê-lo agora, num período de baixas taxas de juro, pode ter um impacto poderoso no crescimento", acrescenta o FMI, que mantém em 1,5% a sua previsão de crescimento para o conjunto dos países da união monetária, não obstante a degradação da conjuntura e os riscos acrescidos na Grécia.

Em contrapartida, o FMI pede à Zona Euro que agilize a implementação do plano de investimento europeu, conhecido por Plano Juncker, "em especial nos países com margem orçamental limitada".

Segundo dados do Eurostat, Portugal terminou o primeiro trimestre do ano com uma dívida correspondente a 129,6% do PIB. Este é o terceiro valor mais elevado entre os 19 Estados-membros que compõem a Zona Euro, tendo Portugal sido o terceiro país da região que mais reduziu este valor.

A recomendação do FMI vai ao encontro da emitida na semana passada pela Comissão Europeia. "Ao aproveitar as condições favoráveis do mercado nos últimos meses, o Tesouro conseguiu aumentar os prazos e baixar a taxa de juro.(…) Alongar a maturidade da dívida é uma estratégia prudente", escreveu Bruxelas. "Não há riscos de financiamento de curto prazo. No entanto, a médio prazo a dinâmica da dívida pode estar sujeita a alterações e [estas] continuam dependentes do reforço do crescimento, da consolidação orçamental ser prosseguida e de se manter o acesso ao mercado em condições favoráveis", acrescentava. Se as taxas de juro a que se financia o Estado português se agravarem, "a pressão pode ser aliviada através da manutenção de uma almofada de tesouraria confortável ou abrandando o ritmo dos reembolsos dos empréstimos ao FMI", sugeria a Comissão Europeia.

(notícia actualizada às 17h40 para acrescentar recomendação da Comissão Europeia)