Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

 UE lança Fundo de Defesa e aponta três cenários para o pós-Trump e Brexit

Bruxelas sugere a criação de um Fundo Europeu, dotado de 5,5 mil milhões de euros por ano, para reforçar a autonomia e as capacidades de defesa da Europa.

Bruno Simão/Negócios
07 de Junho de 2017 às 13:14
  • ...
No rescaldo do processo de saída do Reino Unido e dos reiterados avisos de Donald Trump, a Comissão Europeia propõe que a União Europeia crie um Fundo Europeu de Defesa, dotado de 5,5 mil milhões de euros por ano, para reforçar a autonomia e as capacidades de defesa da Europa, complementarmente à cooperação com a NATO.

A iniciativa do Executivo comunitário foi apresentada nesta quarta-feira, 7 de Junho, em paralelo com um documento de reflexão com três cenários possíveis de resposta conjunta às ameaças para a segurança e a defesa da Europa. Estas propostas surgem num contexto em que a UE assume que deve fazer "mais e melhor", quando se prepara para "perder" o Reino Unido e não sabe até que ponto pode continuar a contar com os Estados Unidos como aliado estratégico.  

De acordo com a Comissão, o Fundo Europeu de Defesa visa "ajudar os Estados-membros a despender o dinheiro dos contribuintes de uma forma mais eficiente, reduzir duplicações na despesa e obter uma melhor relação custo-benefício".

Englobando duas vertentes  – a investigação, por um lado, e o desenvolvimento e aquisição, por outro -, o fundo irá "coordenar, complementar e ampliar os investimentos nacionais na investigação em matéria de defesa, no desenvolvimento de protótipos e na aquisição de equipamentos e tecnologia de defesa", sugere Bruxelas.

No campo da investigação, a UE atribuirá subvenções a iniciativas de investigação colaborativa dedicada às tecnologias e aos produtos inovadores no domínio da defesa. Estas seriam financiadas de forma integral e directamente pelo Orçamento da União, com a Comissão a propor que sejam destinados a este fim 90 milhões de euros até ao final de 2019 e 500 milhões por ano a partir de 2020.

Em 2018, a Comissão irá propor um programa comunitário específico de investigação em matéria de defesa, com um orçamento anual previsto de 500 milhões de euros, que "tornará a UE num dos maiores investidores da Europa em investigação no domínio da defesa".

A nível de "desenvolvimento e aquisição", o fundo criará incentivos para os Estados-membros cooperarem no desenvolvimento e aquisição conjuntos de equipamentos e tecnologias de defesa, com co-financiamento do orçamento da UE e o apoio prático de Bruxelas.

"Os Estados-membros poderão, por exemplo, investir em conjunto no desenvolvimento tecnológico de 'drones' ou das comunicações por satélite, ou adquirir helicópteros por atacado para reduzir os custos", explica a Comissão, sublinhando que "apenas serão elegíveis projectos colaborativos e uma parte do orçamento global será atribuída a projectos que envolvam a participação transfronteiriça de pequenas e médias empresas (PME)".

A UE garantirá o co-financiamento com um total de 500 milhões de euros para 2019 e 2020, no âmbito de um programa específico de desenvolvimento industrial e de defesa, e mil milhões de euros por ano a partir de 2020.
 
"Em toda a Europa, as pessoas estão preocupadas com a sua segurança e com a segurança dos seus filhos. Complementarmente à nossa cooperação com a NATO, precisamos de fazer mais e melhor. Hoje mostramos que estamos a passar da teoria à prática. O Fundo servirá de catalisador para uma indústria europeia da defesa forte, capaz de desenvolver tecnologias e equipamentos de ponta e plenamente interoperáveis", afirmou em conferência de imprensa o vice-presidente Jyrki Katainen.

A Comissão destaca que, "com o apoio do Parlamento Europeu e dos Estados-Membros, o Fundo Europeu de Defesa pode rapidamente tornar-se no motor de desenvolvimento da União Europeia da Segurança e da Defesa, desejada pelos cidadãos".

Três cenários de reforço da defesa comum 
 
Paralelamente, a Comissão Europeia apresentou três cenários possíveis de resposta às ameaças para a segurança e a defesa da Europa e de reforço das capacidades de defesa da UE até 2025.

O primeiro cenário traçado por Bruxelas num documento de reflexão hoje divulgado, e que deverá ser aprofundado no Concelho Europeu de 22 e 23 de Junho, prevê que os Estados-membros continuem a decidir quanto à necessidade de cooperação em matéria de segurança e de defesa a título voluntário e caso a caso, ao passo que a UE continuaria a complementar os esforços nacionais.

Neste cenário, de "Cooperação no domínio da Segurança e Defesa" o novo Fundo Europeu de Defesa seria utilizado para desenvolver novas capacidades conjuntas, embora continuasse a caber aos Estados-membros a responsabilidade de supervisionar o desenvolvimento e a aquisição da maior parte das capacidades de defesa individualmente e a cooperação UE-NATO manteria o actual formato e estrutura.

O segundo cenário  –  considerado pela Comissão como "mais ambicioso" – prevê uma "Segurança e Defesa Partilhadas" e prevê que os Estados-membros contribuam com activos financeiros e operacionais para uma defesa comum.
 
Neste cenário, a UE teria um papel de maior relevância em áreas como a cibersegurança, a protecção das fronteiras ou a luta contra o terrorismo, assim como no reforço da dimensão de segurança e de defesa nas políticas internas como a energia, a saúde, os serviços aduaneiros ou o espaço. A UE e a NATO também intensificariam a cooperação mútua e a coordenação.
 
O terceiro e ainda mais ambicioso cenário, de "Defesa e de Segurança Comum", prevê uma defesa comum com base no artigo 42.º do Tratado da União Europeia, sendo que as disposições actualmente em vigor permitem a um grupo de Estados-membros elevar a missão de defesa europeia para um nível superior.

A UE estaria apta a realizar operações de alto nível em matéria de segurança e de defesa, apoiando-se numa maior integração das forças de defesa dos Estados-membros. Apoiaria programas conjuntos através do Fundo Europeu de Defesa e instituiria uma Agência Europeia de Investigação no domínio da Defesa, abrindo caminho para a criação de um mercado europeu neste sector, capaz de proteger as suas principais actividades estratégicas contra tomadas de controlo externas.
Ver comentários
Saber mais Comissão Europeia Fundo Europeu de Defesa defesa comum reflexão Donald Trump Reino Unido Brexit União Europeia NATO Agência Europeia de Investigação
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio