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UE condena recuos na democracia na Turquia
A Turquia tem de "salvaguardar a sua democracia parlamentar e respeitar os direitos humanos, o Estado de direito, as liberdades fundamentais e o direito de cada pessoa a um processo justo". O apelo veio de Bruxelas, após uma troca acesa de acusações sobre métodos nazis.
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini (na foto), condenou nesta terça-feira, 8 de Novembro, os recentes recuos na democracia na Turquia, nomeadamente a intenção de reintroduzir a pena de morte e as limitações à liberdade de expressão.
Num comunicado divulgado em nome dos 28 Estados-membros da UE, Mogherini salienta estar a acompanhar "com grande inquietude" os recentes desenvolvimentos na Turquia.
Em causa estão, concretamente, a intenção de Ancara de reintroduzir a pena de morte no país, as restrições à liberdade de expressão, o encerramento de órgãos de comunicação social e as detenções de jornalistas e de opositores do regime.
A UE pede à Turquia para "salvaguardar a sua democracia parlamentar e respeitar os direitos humanos, o Estado de direito, as liberdades fundamentais e o direito de cada pessoa a um processo justo".
A declaração de Mogherini responde a críticas que Ancara fez na segunda-feira sobre a posição da UE junto dos embaixadores dos Estados-membros, e surge depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros do Luxemburgo, Jean Asselborn, ter acusado as autoridades turcas de recorrerem a métodos usados pelos nazis, no rescaldo da tentativa do golpe de Estado de Julho. Os partidos da oposição turcos e grupos de defesa dos direitos humanos acusam o governo de atacar todos os críticos e não apenas os alegados conspiradores.
Asselborn disse à rádio alemã Deutschlandfund que as pessoas despedidas vêem os seus nomes publicados, ficando sem qualquer hipótese de encontrar um novo emprego e sem rendimentos, correndo o risco de passar fome. "Estes métodos, e devemos dizer isto sem rodeios, eram usados durante o regime Nazi. Desde Julho que se verifica uma má evolução na Turquia que não podemos, enquanto União Europeia, aceitar", acusou.
Mais de 35 mil pessoas foram detidas na Turquia no quadro das investigações abertas após a tentativa de golpe de Estado, que o governo turco afirma ter sido orquestrado pelo religioso Fethullah Gulen, exilado nos Estados Unidos.
Na resposta, o ministro dos Assuntos Europeus turco, Omer Celik, disse que os nazis eram "uns aprendizes" quando comparados com os apoiantes do religioso exilado Fethullah Gulen, que Ancara responsabiliza pela tentativa de golpe de Estado de Julho. "É falta de conhecimentos históricos. É ao contrário: a luta da Turquia agora é parecida com a que foi feita contra os nazis depois do fim do regime nazi", garantiu Celik, na conferência de imprensa realizada no final de uma reunião com os embaixadores da UE, em Ancara.
"Comparados com a FETO (sigla usada pelo governo turco para a rede de seguidores de Gulen), os nazis eram uns aprendizes, uns alunos da escola primária", sublinhou o ministro, citado pelo diário turco Hurriyet. "Esta é uma organização que massacra o seu próprio povo com caças e helicópteros", insistiu, numa referência aos acontecimentos de 15 de Julho. Fethullah Gulen, exilado nos Estados Unidos, nega qualquer ligação à tentativa de golpe de Estado.