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Revelações sobre jantar entre May e Juncker aquecem Brexit
O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung revela pormenores do encontro entre a primeira-ministra britânica e o presidente da Comissão Europeia. “Saio de Downing Street dez vezes mais céptico do que antes”, terá dito Juncker a May.
A divulgação de parte da conversa mantida entre Theresa May e Jean-Claude Juncker por um jornal alemão está aquecer o ambiente antes ainda do arranque formal das negociações sobre o Brexit. O relato do jantar de dia 26 de Abril feito pelo Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung dá conta de um encontro muito tenso. O Governo britânico contradiz esta versão.
Segundo o artigo do jornal alemão, citado na imprensa internacional, Theresa May terá dito que o Reino Unido não está legalmente obrigado pelos tratados a pagar um cêntimo que seja pela saída da União Europeia. A Comissão calcula em 60 mil milhões de euros o valor da "indemnização" a pagar pelo Reino Unido.
A primeira-ministra britânica terá ainda afirmado que a negociação sobre os direitos dos cidadãos da União Europeia a residir no Reino Unido poderá ficar fechada em poucas semanas e que estes terão os mesmos direitos que qualquer outro cidadão estrangeiro. "Acho que está a subestimar esta questão Theresa", terá afirmado Juncker. A Comissão Europeia defende que os cidadãos da UE mantenham direitos especiais após o Brexit. Vivem no Reino Unido cerca de três milhões de cidadãos dos 27 Estados-membros.
Theresa May terá ainda pedido para que as negociações e o seu andamento sejam mantidos em segredo, algo que Juncker terá rejeitado, até porque tem de prestar contas ao Parlamento Europeu.
No final do jantar, que contou ainda com a participação de Michel Barnier, negociador-chefe da União Europeia, Juncker terá dito a Theresa May: "Saio de Downing Street dez vezes mais céptico do que antes".
Contactado pelo "The Guardian", um porta-voz da UE rejeitou comentar a notícia, salientando que Juncker afirmou no sábado que se tratou de "uma reunião muito construtiva, num ambiente amigável". "Não reconhecemos este relato", afirmou à Bloomberg um porta-voz do governo britânico, que pediu para não ser identificado. "Como a primeira-ministra e Jean-Claude Juncker deixaram claro, foi uma reunião construtiva", acrescentou.
A própria Theresa May classificou estas notícias, numa acção de campanha, como "mexericos de Bruxelas".
"Juncker quer dinheiro, mas também nos quer punir e impedir que outros Estados-membros saiam", afirmou ao Financial Times um membro sénior do Governo britânico. "Disseram-lhe que estávamos inclinados a sair sem um acordo, o que o está a preocupar". O mesmo elemento considerou as revelações sobre o jantar "irresponsáveis", por ser essencial que as conversações ocorram num espírito de confiança. "Esse princípio foi agora violado".
A notícia sobre as tensões durante o encontro surge depois de no sábado o Conselho Europeu ter acordado de forma unânime e em poucos minutos a estratégia de base para as negociações. Os líderes europeus acordaram o princípio de que o Reino Unido ou qualquer outro país "não pode ficar numa situação mais favorável fora da União Europeia do que dentro", afirmou o presidente francês, François Hollande.
A União Europeia quererá ver progressos em algumas áreas-chave, como os direitos dos cidadãos europeus, questões financeiras e a fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, antes de avançar para negociações mais aprofundadas. O processo terá sempre de contar com a aprovação unânime dos Estados-membros.
A primeira-ministra britânica entregou a carta invocando o artigo 50º. do Tratado de Lisboa a 29 de Março. O arranque formal das negociações do Brexit está previsto para depois das eleições legislativas britânicas, agendadas para 8 de Junho.