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O dia em que o Reino Unido disse não

A noite foi longa para muitos. Mas outros não ficaram à espera para ver. Deitaram-se membros da União Europeia, acordaram com a decisão de saírem. As últimas sondagens não antecipavam este desfecho. "Foi um choque" dizem alguns. "Um grande dia" diz o outro lado. Martin Branley, enfermeiro, encontra outras palavras: "Muito bom". É com orgulho que diz que votou pelo Brexit.

O referendo realizado a 23 de Junho de 2016 no Reino Unido, que levou os britânicos a votarem pela permanência do país na UE (Bremain) ou pela sua saída (Brexi), ditou o divórcio. O resultado foi inesperado, tendo sido considerado um dos 'cisnes negros' desse ano – o outro viria a surgir em Novembro, quando Donald Trump ganhou as eleições presidenciais nos EUA. Os mercados foram apanhados de surpresa com o Brexit, com as bolsas e a libra a afundarem a 24 de Junho.
Esta semana, os ventos britânicos voltaram a trazer alguma instabilidade aos mercados, depois de várias baixas no governo de Theresa May. A última delas, aprovada pela mesma, foi a de Boris Johnson, que largou a pasta dos Negócios Estrangeiros, tendo sido substituído por Jeremy Hunt. Antes desta mudança, David Davis, o ministro do Brexit, abdicou da posição, e saiu acompanhado de Steve Baker, o seu número dois.  Os ministros demitiram-se por não se reverem no plano para o Reino Unido que May está a delinear para quando o país sair da União Europeia e que aponta para um 'soft Brexit'.
Reuters
24 de Junho de 2016 às 21:20
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Há quem fale em acto de democracia. E Cameron fez o que tinha a fazer: anunciou a sua saída em Outubro, a tempo de o seu partido escolher novo líder. Boris Johnson, que foi o principal rosto da campanha oficial pela saída, Vote Leave, é agora visto como potencial candidato ao partido. Apesar das comparações com Trump. Mas há em Londres quem acredite que estão a confundir autenticidade com populismo. Uma coisa parece certa: será imprevisível. Tal como imprevisível serão os próximos tempos. Para o Reino Unido, mas também para a Europa e em particular para a União Europeia.

 

Quando, madrugada dentro, os resultados apontaram para a vitória do Brexit, muitos telefones tocaram. O número 10 de Downing Street também não deve ter parado. E de manhã cedo, Cameron, com a mulher Sarah, fez o que muitos antecipavam: anunciou a saída. Minutos antes, já à entrada da residência oficial do primeiro ministros muitos simpatizantes do Leave gritavam a palavra que Cameron acabou por dizer: resign.

 

Se a euforia tomava conta de uns, o medo tomava conta de outros, e as olheiras marcavam os olhos dos dois lados. O país dividiu-se na campanha. Que ambos os lados acusam de não ter sido justa e honesta. Acusações de mentira de parte a parte. Boris Johnson e Michael Gove reagiram horas depois. Lado a lado. E sem aparentes euforias, deixando até uma palavra de conforto.

 

A campanha já passou. A decisão está tomada. No dia seguinte, as opções eram ainda vincadas. Os estrangeiros preocupam-se. Um jovem polaco, no Reino Unido há seis anos, nunca pediu a residência permanente. "Nunca achei que fosse preciso", diz. Agora... Pensa duas vezes. Mas Martin Branley, numa conversa a três com o Parlamento como cenário, diz o que lhe vai no espírito. "Nós não somos contra a Europa". O protesto vai, sim, para a União Europeia. Acredita que o povo britânico tomou uma decisão histórica, mas que terá consequências não só para o Reino Unido mas também para todos os outros europeus. Para Portugal também, conclui.

 

O dia foi longo. E histórico. 24 de Junho de 2016 ficará para sempre como o dia que o Reino Unido disse não à Europa. Foi, como Nigel Farage gosta de dizer, o dia da independência. 

*Enviada especial do Negócios a Londres

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