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Macron avisa Johnson: Não há acordo no Brexit sem o "indispensável" backstop

Depois de, em Berlim, ter recebido 30 dias para apresentar uma alternativa ao backstop viável para ambas as partes, Boris Johnson chegou a Paris e ouviu o presidente Macron avisar que não há margem para grandes mudanças no acordo de saída.

22 de Agosto de 2019 às 16:08
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Boris Johnson partiu de Berlim com boas notícias, mas à chegada a Paris não foi recebido com boas novas. Na reunião que o primeiro-ministro britânico manteve, esta manhã, com o presidente francês, ouviu Emmanuel Macron frisar que o backstop para a fronteira irlandesa é "indispensável" e que é escassa a margem para forjar um acordo de saída substancialmente diferente daquele que já foi por três vezes chumbado pelo parlamento britânico.

Aos jornalistas presentes no Eliseu, Macron quis ser "muito claro" no que ia dizer ao notar que "no próximo mês não encontraremos um novo acordo de saída que seja muito diferente daquele que temos". Ou seja, o francês frisa que para ser aceitável para Bruxelas, um novo acordo não poderá ser muito diferente do compromisso acordado anteriormente.

O líder gaulês esfriou assim as expectativas de Boris Johnson quanto à margem para um novo acordo sobre os termos do divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia.

Macron abordava assim os 30 dias ontem concedidos pela chanceler alemã, Angela Merkel, para que o novo governo britânico surja com um plano alternativo à rejeitada cláusula destinada a salvaguardar que não são restituídos controlos rígidos na fronteira irlandesa.

Para o presidente francês, Merkel tem razão ao colocar o ónus do lado de Londres, até porque a UE precisa vislumbrar o caminho pretendido pelo executivo agora chefiado por Boris Johnson.

Isto porque apesar de rejeitar o chamado backstop e de prometer para 31 de outubro a concretização do divórcio, "sem ses, nem mas", Johnson não apresentou ainda qualquer solução para aquele que persiste como o maior entrave a um entendimento.

Assegurando que os líderes europeus vão procurar "uma solução", Macron declarou que "ninguém vai esperar até 31 de outubro para encontrar a solução ideal" e reiterou dois objetivos essenciais de que o negociador-chefe europeu, Michel Barnier, não vai abdicar nas negociações que se vão seguir: salvaguarda da "estabilidade" na ilha irlandesa e da integridade do mercado único europeu.

A recuperação de prerrogativas na gestão do movimento de pessoas foi uma das exigências que o governo britânico, então ainda liderado por Theresa May, nunca prescindiu. Entretanto, Londres já avisou que logo a partir de 1 de novembro, acaba "imediatamente" a livre circulação de pessoas num cenário de saída desordenada do bloco europeu. Pelo seu lado, Bruxelas considera que as quatro liberdades de movimentos (pessoas, bens, serviços e capitais) são indissociáveis.

Boris Johnson aproveitou para se mostrar "altamente encorajado" pela conversa mantida na quarta-feira com a chanceler alemã e para proclamar o compromisso de que o governo britânico quer fechar "um acordo" com Bruxelas. "Acho que podemos alcançar um acordo e um bom acordo", disse Boris Johnson que, lado a lado com Macron, se mostrou ainda motivado pelo feedback "interessante" que tem recebido acerca das alternativas possíveis ao backstop. 

Johnson continua sem concretizar que tipo de alternativas são essas, pelo que por agora o essencial da posição britânica mantém-se na rejeição ao mecanismo para impedir uma fronteira rígida entre a Irlanda (UE) e a Irlanda do Norte (Reino Unido).

Merkel, a polícia boa, Macron, o polícia mau
O eurocético e recém-eleito líder dos "tories" havia recusado sentar-se à mesa com Merkel e Macron se os líderes europeus mantivessem finca-pé na exigência do backstop e na rejeição à reabertura das negociações sobre o acordo de saída. Mas acabou por recuar e ir a Berlim e Paris, onde confirmou a forma diferente como Alemanha e França têm gerido este processo. 

Enquanto Merkel tem-se mostrado mais apaziguadora e interessada em promover uma solução que agrade todas as partes envolvidas, Macron adotou, desde início, uma posição negocial mais dura e inflexível relativamente às pretensões britânicas, o que chegou a ser visto em Londres como uma espécie de punição pela vitória do Brexit no referendo de 2016. 

As declarações dos dois intercolutores de Boris Johnson configuram ainda uma certa contradição. Merkel veio esclarecer esta quinta-feira que os "30 dias" ontem referidos não podem ser lidos como se tratando de uma data-limite "literal" para que seja encontrada uma solução alternativa ao backstop, o que leva a crer que para Berlim há margem para negociar já durante o mês de outubro.

Já Macron avisou que a UE não ficará à espera de 31 de outubro para encontrar uma solução, o que parece significar que há pressa em Paris para resolver o problema o quanto antes. Esta quarta-feira surgiram notícias que referiam que o governo gaulês já trabalha tendo como pressuposto um Brexit sem acordo. 

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