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Vale mesmo a pena banir a Rússia do SWIFT? Que sistema é este?

Para já, apesar dos apelos da Ucrânia e mais recentemente de Londres, nem os EUA nem a UE quiseram incluir no novo pacote de sanções a expulsão da Rússia do sistema internacional interbancário. O que justifica este impasse?

RIA Novosti via Twitter
25 de Fevereiro de 2022 às 11:51
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Londres voltou a apelar esta sexta-feira para que a comunidade internacional se esforce por remover a Rússia do sistema SWIFT, já que tanto Washington como a União Europeia não incluíram esta "arma" na última artilharia de sanções atirada contra o Kremlin.

Do lado de lá do Atlântico, no entanto, esta quinta-feira, o presidente norte-americano, Joe Biden lembrou que os EUA ainda o podem fazer, enquanto do lado do bloco europeu, o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire assegurou que "essa hipótese ainda permanece em aberto", ainda que tenha sublinhado que "que esta ferramenta só será utilizada em último recurso".

Mas porque discordam os governos, no que toca à banir o Kremlin do SWIFT? Afinal que nome é este, que todos já lemos nos contratos quando criamos contas em bancos, e o que significa?

SWIFT, a rede global de pagamentos
Quando recebe uma das primeiras cartas do seu banco, após criar uma conta, recebe por norma o código SWIFT, ou seja a forma como essa mesma instituição financeira pode ser localizada e chamada na Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, ou seja uma sociedade mundial interbancária, que cria os canais para as transações internacionais.

A SWIFT foi criada em 1973 em Bruxelas por 239 bancos de 15 países. Atualmente, a empresa conta com cerca de 11 mil bancos e empresas em 200 países, destes cerca de 150 são entidades russas. 

Em 2014, depois da invasão da Crimeia, o banco centra russo respondeu aos apelos de muitas empresas e economistas nacionais, que desde 2006 pediam a criação de um sistema internacional de ADN russo, tendo sido então inaugurado o SPFS (sigla inglesa para sistema de transferência de mensagens financeiras).

Atualmente mais de 400 instituições, a maioria bancos, fazem parte deste sistema, dos quais 23 são de nacionalidade estrangeira, contando inclusive com instituições alemãs e suíças. Vladmir Putin chegou mesmo a tentar negociar a entrada da Turquia e do Irão, a quem foi vedada a presença na rede SWIFT em 2012, devido às sanções europeias, não havendo ainda nenhuma novidade sobre este plano.

Se a SWIFT é uma empresa privada europeia, como irá fazer se os EUA decidirem banir a Rússia deste sistema?
A resposta consta da página da própria plataforma, que explica que "embora as sanções sejam impostas independentemente em diferentes jurisdições ao redor do mundo, a SWIFT não pode escolher arbitrariamente qual regime de sanções da jurisdição seguir", estando por isso vinculada a uma última palavra de Bruxelas.

Corte da SWIFT: O novo muro "financeiro de Berlim"
O objetivo destas sanções, caso sejam aplicadas, é claro: levantar um muro entre a economia russa e o mercado internacional. Apesar da Rússia poder passar a utilizar o seu próprio sistema de pagamentos, ou outro mecanismo estrangeiro, este será mais caro, tornando por isso as exportações de parceiros comerciais para território russo e vice versa mais dispendiosas.

Bruno Le Maire justificou o adiamento desta sanção tendo por base o bem-estar do povo russo. "Estas prejudicam o povo russo e vão bloquear seriamente a economia russa". Na realidade, quando em 2014, o Ocidente levantou a hipótese de colocar a Rússia fora do SWIFT, o ex-ministro das Finanças de Vladmir Putin, Alexei Kudrin, fez as contas e concluiu que o PIB russo chegaria ao final desse ano com uma perda de 5%.

No entanto o que o ministro explicou é que quando um muro, mesmo que virtual, é levantado tanto prejudica quem está do lado de lá, como do lado de cá, na Europa ocidental.

Como explica a Bloomberg Intelligence, "com esta sanção, os preços da energia russa ficariam mais caros, devido aos custos das transações financeiras, aumentando assim a pressão inflacionaria na Europa".

Recorde-se que em janeiro, a inflação subiu para 5,1% um valor recorde e que levou vários membros do Banco Central Europeu (BCE), como Luis de Guindos a admitir que "afinal a inflação não será assim tão transitória como pensámos", culpando sobretudo os preços da energia. Se o preço dos custos de pagamento subir, irá somar-se à conta, já alta, do preço de mercado dos produtos energéticos.

Esta quinta-feira, o gás natural TTF (Title Transfer Facility) para entrega em março subiu 29% no mercado holandês -- referência para Europa -- para mais de 100 euros por megawatt hora (MWh), depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, tendo esta sexta-feira "aliviado" para uma queda de 19% para 108,005 euros por megawatt hora (MWh).

Para além da energia, esta sanção iria afetar o preço de outros bens e serviços, já que segundo os dados mais recentes apurados pela Bloomberg Intelligence, o comércio da Rússia com a UE atingiu cerca de 186 mil milhões de dólares em 2020, dos quais 108 mil milhões foram exportações russas para o bloco.

Leonoardo Cardoso, da Xtb, contactado pelo Negócios, vai mais além e chega mesmo a falar da possibilidade de corte, pelo menos parcial, do fornecimento de gás por parte da Rússia. 

"Relativamente à retirada da Rússia do SWIFT, eu penso que o ocidente tem mais desvantagens na medida em que esta sanção iria provocar mais uma escalada de tensões, sendo que iria também haver retaliações por parte da Rússia, nomeadamente a possibilidade do corte parcial ou total do gás natural à Europa que iria provocar fortes constrangimentos nas economias europeias", defende o analista.

(Notícia atualizada ao 12:36 com as declarações de Leonardo Cardoso da Xtb)
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