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Sánchez quer governar sozinho com modelo pisca-pisca

A vice-primeira-ministra socialista Carmen Calvo esclareceu esta segunda-feira que a intenção do PSOE passa por governar sozinho, isto apesar de o partido precisar de apoios para conseguir formar governo. Intenção socialista passa por utilizar a negociação parlamentar como base para a governação. Cidadãos quer liderar a oposição a Sánchez e exclui integrar executivo do PSOE.

EPA
29 de Abril de 2019 às 13:47
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Os resultados das eleições gerais espanholas deste domingo não conferiram uma maioria óbvia de governo a nenhum partido ou bloco político (esquerda ou direita), parecendo obrigar à negociação de uma aliança ou coligação de governo capaz de garantir apoio parlamentar maioritário à solução que venha a ser encontrada. No entanto, o PSOE já avisou que quer governar sozinho, negociando entendimentos pontuais no parlamento. 

No entender dos socialistas, depois de terem governado nos últimos 10 meses com apenas 85 deputados e com base no apoio parlamentar da esquerda (Unidos Podemos) e de pequenas forças nacionalistas e independentistas, a vitória inequívoca e os 123 mandatos alcançados na última noite eleitoral dão ao PSOE condições reforçadas para prosseguir um modelo de governação assente em entendimentos parlamentares.

Estes poderão ser negociados caso a caso e presumivelmente tanto à esquerda como à direita, dependendo das matérias em questão e da abertura negocial que venha a ser demonstrada pelas restantes forças políticas, em especial o Cidadãos. 

"Pensamos ter um apoio mais do que suficiente para seguir ao leme deste barco", declarou na manhã desta segunda-feira, 29 de abril, a vice-primeira-ministra ainda em funções, Carmen Calvo (segunda na foto a contar do lado esquerdo). A socialista reconhece que a colaboração da coligação eleitoral de esquerda agora denominada Unidas Podemos e respetivas confluências lideradas por Pablo Iglesias "ajudou muito e reforça-nos o sentido progressista", contudo Calvo frisa que o objetivo do PSOE é precisamente "seguir essa linha", o que significa que os socialistas querem um executivo unicolor.

Esta garantia é consistente com o objetivo declarado na campanha eleitoral pelo secretário-geral do PSOE e primeiro-ministro em funções, Pedro Sánchez, ao assumir que a sua intenção passava por ter uma vitória ampla nas eleições a fim de formar um governo "socialista e progressista".

Desta forma, o PSOE fecha a porta a coligações tanto à esquerda (Unidas Podemos) - desde logo porque tal aliança não permite alcançar o mínimo de 176 deputados - como à direita (Cidadãos) e sobretudo aos independentistas (em especial à ERC, a força vitoriosa na Catalunha com 15 deputados). Quanto aos independentistas da ERC, José Luis Ábalos, responsável pela organização interna do PSOE e também ministro do Desenvolvimento, afirma: "Não vamos por aí, dissemos que não iríamos por aí e não iremos por aí". 

Numa entrevista à Telecinco, Ábalos exclui também negociações com o Unidas Podemos ou com o Cidadãos dizendo que apesar de o PSOE saber que não dispõe de maioria absoluta não vai precipitar-se a "fazer um acordo de governo nesta fase". Destas palavras depreende-se também aquilo que era já esperado quando os resultados ontem conhecidos confirmaram a indefinição quanto a possíveis maiorias governativas - nada deverá ser feito até às europeias e autárquicas que têm lugar a 26 de maio, uma espécie de segunda volta destas eleições gerais em que os partidos vão aferir se a correlação de forças ditada este domingo é ou não para durar. 

Todavia, Ábalos faz questão de dirigir um recado ao Cidadãos, acusando o partido de Albert Rivera de prosseguir preso ao "discurso pré-eleitoral" e de continuar "sem entender a mensagem" transmitida pelos eleitores. Na campanha, Rivera e Sánchez "trocaram" vetos, afastando mutuamente qualquer tipo de acordo entre os dois. Isso mesmo foi hoje reiterado por Inés Arrimadas, porta-voz do Cidadãos, ao assegurar que "não haverá nenhum tipo de negociação com Sánchez", a quem acusa de estar nas mãos "do Podemos e dos nacionalistas". 

Negociações em suspenso até às europeias?

No discurso de vitória realizado na noite de domingo, Pedro Sánchez chegou a afirmar que o PSOE não impõe "cordões sanitários", garantia interpretada como um deixar de porta aberta a um recuo de Rivera, que há muito afasta liminarmente qualquer tipo de acordo com os socialistas enquanto a atual liderança se mantiver. Mas depois Sánchez ouviu os apoiantes gritar "Rivera não, Rivera não", o que o levou a proclamar que "isso ficou claro". Ficou assim a dúvida sobre se há ou não uma linha vermelha de parte a parte que impeça um acordo PSOE-Cidadãos. 


Mas a política é volátil e já houve várias linhas vermelhas traçadas na areia apagadas pela força da alteração das circunstâncias. Ou como diz o ditado português, "até ao lavar dos cestos é vindima". Portanto, resta agora esperar pelo tempo das negociações, que não deverão ocorrer antes das próximas eleições para o Parlamento Europeu. 

Os próprios prazos legais fazem com que a primeira tentativa de investidura de Sánchez como primeiro-ministro não chegue antes de 26 de maio, pelo que os socialistas vão "procurar apoios para a investidura", mas com "tranquilidade", afiança Ábalos. Só que a maior dificuldade reside no facto de os blocos da esquerda e direita se mostrarem estanques, o que dificulta, e muito, a pretensão socialista.


(Notícia atualizada às 14:30 pela última vez)

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