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Casado desafia Sánchez a governar com o Cidadãos e não com independentistas
O encontro entre os líderes do PSOE e do PP acabou com uma meia surpresa. Pablo Casado rejeita apoiar a investidura de um governo protagonizado pelo PSOE, mas desafia Pedro Sánchez a governar com o Cidadãos para não ficar dependente de independentistas. Casado disponível para pactos de Estado.
O PP rejeita apoiar a investidura de Pedro Sánchez como primeiro-ministro mas admite não colocar obstáculos à mesma se o líder do PSOE se aliar ao Cidadãos em vez de se juntar a partido(s) independentista(s). É esta a conclusão principal do encontro realizado esta segunda-feira, 6 de maio, entre o presidente do PP e grande derrotado das eleições de há uma semana, Pablo Casado, e o secretário-geral do PSOE e primeiro-ministro em funções que decorreu na Moncloa.
Depois da reunião em que foi discutida a situação política em Espanha depois das últimas eleições, Pablo Casado explicou em conferência de imprensa o conteúdo das conversações com o líder socialista.
Depois de ter registado a maior derrota eleitoral do PP desde a transição democrática, Casado frisou que pretende assumir a chefia da oposição, que exercerá de forma "firme" e "responsável", papel em linha com os resultados eleitorais que não providenciaram nenhuma maioria clara de governo.
De seguida o líder conservador indicou uma via alternativa para Sánchez formar governo: em vez de se aliar ao Unidas Podemos (coligação eleitoral de esquerda) e à ERC (esquerda independentista catalã) para obter a maioria absoluta no parlamento, o que significaria que os socialistas voltariam a ficar dependentes do apoio de independentistas, Casado sugere a Sánchez que chegue a acordo com o Cidadãos para formar governo. Em qualquer dos dois casos é assegurada a maioria absoluta com 180 mandatos.
Pablo Casado esclarece que enquanto o PP irá seguramente votar contra uma investidura baseada no primeiro cenário, os populares estão disponíveis para não colocar entraves a uma aliança entre Sánchez e o partido liderado por Albert Rivera.
"Não vamos facilitar esse governo [com independentistas e o Podemos], mas entendemos que outros que respeitam a Constituição e a unidade de Espanha o façam", declarou Casado revelando ainda ter pedido explicitamente a Pedro Sánchez para "não depender daqueles que não acreditam na unidade" de Espanha.
Pablo Casado não faz nenhuma referência direta ao Cidadãos, mas tendo em conta o quadro parlamentar saído das eleições é claro que se refere ao partido de Rivera. O problema é que ao longo da campanha eleitoral Rivera, e depois Sánchez, trocaram linhas vermelhas mútuas quanto a um eventual acordo pós-eleitoral.
Por outro lado, vários membros do PSOE têm-se desmultiplicado em declarações que evidenciam a vontade de Sánchez voltar a liderar um governo minoritário, composto por ministros socialistas e independentes, e com base em acordos parlamentares negociados caso a caso, ou seja, à esquerda e à direita.
Sánchez quer margem para acordos de regime
Esta terça-feira Sánchez prossegue a ronda de auscultação aos principais líderes partidários, de manhã com Albert Rivera, do Cidadãos, e durante a tarde com Pablo Iglesias, do Podemos. Iglesias já se mostrou desconfortável com o facto de Sánchez ter dado prioridade aos líderes da direita (excluindo Santiago Abascal, líder do Vox, de extrema-direita, que superou a marca dos 10% nas eleições) e não à esquerda, isto depois de o líder do Podemos ter revelado publicamente que gostaria de integrar um governo chefiado pelo atual primeiro-ministro interino. O líder do Podemos revelou que gostaria de integrar um governo do PSOE, condição "indispensável" para promover políticas de esquerda, mas Sánchez fechou-lhe a porta.
Sánchez chegou ao poder em junho do ano passado com base no apoio parlamentar do Unidos Podemos e de pequenas forças regionalistas e independentistas. Porém, acabou por fazer cair o governo depois de os independentistas catalães (ERC e Juntos pela Catalunha) terem recusado apoiar o orçamento socialista para 2019.